sábado, 11 de maio de 2019

F.A.O.J. ... de novo... e da gravata ao terreno...

O “trabalho” era aliciante, não pelo parco vencimento, mas sim pelo género de actividade.
Atelier´s sempre repletos de crianças e jovens. VIDA. Espectáculos e mais espectáculos, muita imaginação e cultura à mistura, muito voluntarismo. Era muito dar sem pensar em receber. Só não havia dinheiro. Agora as instituições têm dinheiro a rodos e não têm vocações. Tudo se resolve, ou não, sentados na cadeira do computador ou ao telemóvel onde o instituto CUNHA prevalece acima de todas as competências e capacidades. Já quase não há amigos e amigas palpáveis.
O FAOJ ao tempo, não tinha quadros, pelo que era tudo subjectivo em termos de futuro.
O FAOJ, sem quadros, fazia-se valer essencialmente da requisição de professores. Grandes equipas de formadores por ali passaram. Não havia cores políticas e, os Delegados Regionais, excepção feita aos que apareceram ali de pára-quedas, sempre entenderam que era esse o caminho certo. Havia pessoas com grande capacidade de trabalho e acima de tudo com grande vontade de dar sem nada pedir em troca.
“Anda um homem a estudar para doutor para depois vir para o FAOJ trabalhar com as pitas”… . Esta frase, lapidar, foi proferida por um velho amigo que estava na altura destacado no FAOJ, num espétaculo de Natal que fomos fazer ao Centro de saúde Mental de Bragança. As "pitas" eram os fantoches e as Marionetas.
No FAOJ a multidisciplinaridade era questão de honra. Todos fazíamos tudo. Só assim era possível. Todos espetavam o prego e preparavam o cenário. Todos apresentavam e representavam. “Um por todos, todos por Um”, era o nosso lema que pedimos emprestado aos 3 mosqueteiros. Todos se maquilhavam para fazer de palhaço… ,todos riam e todos choravam.
O FAOJ era “o armazém”, onde a cidade de Bragança ia buscar as suas representações nacionais em todo o género de situações, nomeadamente nos programas televisivos. Uma equipa homogénea nunca deixaria ficar mal a nossa terra. Assim foi na Prata da Casa, na Fórmula J e nos Encontros Nacionais e Internacionais nas mais variadas áreas.
A multiplicidade de actividades proporcionavam um ambiente rico em relações humanas. Teatro, Movimento e Drama, Música, Fantoches e Formas Animadas, Aeromodelismo, Fotografia, Cinema, Vídeo, Artes Plásticas…
Impulsionou-se a formação de Associações Juvenis no Distrito de Bragança, com principal incidência na Área Rural e que chegaram a ser 150 com actividade permanente. Eram às dezenas os Cursos de Formação para Animadores Associativos. Campos de Trabalho e de Férias, Nacionais e Internacionais. Colónias de Férias nas zonas litorais do País, Espectáculos, Festivais de Música, Concursos. Proporcionávamos aos jovens a necessária e muito participada ocupação dos tempos livres nos períodos de férias escolares. O culminar das actividades passava sempre por um espectáculo no Cine-Teatro Torralta, sempre com casa cheia e onde se dava uma mostra do que tinham sido as actividades culturais desenvolvidas durante o ano.
Não nos competia apenas transmitir conhecimentos. Tínhamos gosto em participar activamente e em palco.
As estradas do Nordeste e os palcos das Casas do Povo não tinham segredos para nós. Calcorreámos vezes sem fim a maioria das localidades do Distrito de Bragança levando a populações isoladas um pouco de diferença…
Com óbvias dificuldades, porque os dias, ao tempo, também só tinham 24 horas, lá íamos conseguindo conciliar as nossas responsabilidades a todos os níveis.
Não sei se a vida estava cara, mas sei que o dinheiro ia dando para tudo. Não tínhamos a ambição que os nossos jovens têm agora, nem o facilitismo que alguns papás proporcionam agora aos filhos. Antes de casarem já têm a chave de casa no bolso e totalmente mobilada, assim como, carro na garagem. Era preciso construir a vida passo a passo e nada se obtinha sem suor e contas bem feitas.
Não sou saudosista no que concerne às dificuldades na vida e nos percursos...mas uma geração qualquer, das vindouras, vai pagar caro... o ter casa, carro, comida na mesa e roupa lavada sem saber o que é ter calos... nas mãos, na alma e no coração...

Mas esta equipa que se ia renovando tem nomes.
O Gino, o Max, o Marcelino, O Nando, o Chico Prada, o Camilo, o Filipe, o Vilela, o Calado, o Queijo e outros que por ali passaram um pouco menos velhos. O Espirra, o Pita, o Paulo, o Maduro, o Ramiro, a Clara, a Lena, a Rosa, a Ana, o Jorginho, o Zequinha, o Escórcio, o Fernando teclas, o Luís Neves, o...TANTOS E TANTAS... e Eu também.

Tenho dito e tenho algumas saudades.






HM

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