quinta-feira, 30 de abril de 2015

Os Judeus em Trás-os-Montes

    (Por: Amílcar Paulo)
VULTOS JUDAICOS BRAGANÇANOS
Isaac Oróbio de Castro - Pensador Judeu do Século XVII

Baltazar (Isaac) Oróbio de Castro é um dos vultos mais notáveis do judaísmo do século XVII.

Nasceu em Bragança em Portugal, no ano de 1620, filho duma família judaica-marana. Não consta ao certo, quanto tempo ficou em Portugal, mas parece ter sido ainda muito jovem, quando abandonou a sua terra natal, emigrando para Alcalá de Henares, um município da Espanha na província e comunidade autônoma de Madrid, onde cursou filosofia.
O seu profundo conhecimento nesta ciência, e as suas grandes qualidades de mestre, o levaram a ser escolhido para dirigir a cátedra de metafísica na Universidade de Alcalá, e mais tarde na de Salamanca. Sentia-se atraído por este estudo, pois achava que só esta ciência o conseguia levar a um conhecimento exato. Mais tarde estabelece-se permanentemente em Sevilha, onde cursa medicina. Médico de profissão, Oróbio de Castro revela-se em proporções gigantescas, passando a ser o médico da família real e do Duque de Medinaceli (antigamente Medina Celi).
Convivendo com os homens de letras do seu tempo, muitos deles por inveja, procuraram deprimi-lo, fazendo com que ele fosse cair nas mãos do Tribunal do Santo Ofício, onde permaneceu durante o espaço de três anos, sofrendo as maiores torturas, entre os vastos interrogatórios, acabando por confessar ser cristão e prestar juramento de fé à Santa Madre Igreja.
Depois do seu cativeiro nos cárceres da Inquisição, os soberanos da Espanha, decretam a sua expulsão, dirigindo-se Oróbio para a França. A viagem era incômoda, as estradas péssimas; tudo concorria para tornar este exílio verdadeiramente aterrador. Mas Oróbio lutou e venceu. O arguto não se conformou com o sucedido, dispunha-se a lutar contra aqueles que maldiziam e perseguiam o judaísmo. Entra na França; nesse país encontra bom acolhimento, sendo já conhecida a sua reputação como médico hábil. Começa imediatamente a insinuação tênue mas firme no meio francês. Trava relações e consegue, com pasmo de todos, alcançar a cátedra da Universidade de Toulouse, sendo pouco depois nomeado conselheiro maior do rei da França.
Oróbio de Castro estava definitivamente lançado no meio francês. Mas os intelectuais desejavam afastá-lo, achando nele uma sombra. Torturado de desgostos e desilusões resolve partir para Amsterdã.
Em Amsterdã é recebido pela colônia judaica Luso-Hispânica da Holanda; nesta cidade foi Oróbio circuncidado mudando o nome de Baltazar para Isaac. A existência de grande número de cenáculos literários em Amsterdã levou os judeus a fundar a sua academia com o nome "os Floridos de la Almendra" de que faziam parte grandes intelectualidades judaicas, sendo Oróbio, por esta sociedade, científica e literária nomeado seu presidente.
Teve relações com os maiores vultos da época, como Brendemburg, Mosseh Rafael de Aguilar, a quem Oróbio fez por meio de epístolas algumas perguntas, a que faz referência Mendes dos Remédios em sua obra ..., Espinoza, a quem atacou mais tarde, como se vê nos seguintes versos de Daniel Levi de Barrios, na Relacion de los Poetas u Escritores Españoles de la Nacion Yudayca em Amesterdam:

Ishac Oróbio, Médico Eminenete ,


Com sus libros da invidia a la sapiente,


Y em lo que escreve contra el Atheista


Espinoza, mas clara haze la vista


Três anos depois de ter lançado o seu tratado intitulado Certamen Philosoficum findava os seus dias. Foi em 7 de novembro de 1687 que a morte agitando a rede de caça, aprisionava o seu cérebro de lutador, levando um dos mais brilhantes sábios de Israel, abandonando-o na saudade! Sua mulher, que se chamava Ester sobreviveu-lhe alguns anos mais, vindo a falecer em 5 de julho de 1712. Oróbio deixou alguns filhos, tais como: o médico Mosseh Oróbio de Castro que exerceu as funções de tesoureiro da Academia de los Floridos; Abraham Oróbio de Castro, fundador duma sociedade de beneficência de Amsterdã e uma filha chamada Rebeca.

Segundo Ribeiro dos Santos, foi Oróbio muito propagado no século XVIII, sendo vários os escritores que dele fazem menção, citando-os na sua obra intitulada, Memórias da Literatura Sagrada dos Judeus Portugueses no século XVII.
Ao cabo desta escassa biografia resta-nos dar algumas indicações sobre a sua obra. É ela modesta, sendo a sua maior aspiração a defesa da sua crença religiosa o que levou Ribeiro dos Santos a opinar "a religião cristã não tem tido nestes últimos séculos adversário mais cruel e obstinado que Oróbio".
Nos seus escritos desenvolveu Oróbio, o seu sistema filosófico religioso, vivendo sempre embebido num misticismo e sensibilidade mórbida, recolhendo-se a si próprio acompanhando todas as imaginações e meditações do seu cérebro. A sua fé intensa e calorosa ajudada pela filosofia foram os ideais que o levaram a escrever os seus tratados de defesa contra aqueles, que condenavam e maldiziam o judaísmo. O seu impulso foi intenso, auxiliado por uma natureza de lutador, não temendo os ataques de católicos e protestantes. "O afamado Oróbio de Castro – escreve Lúcio de Azevedo – na história dos Cristãos Novos Portugueses – natural de Bragança, contraditor de Spinoza e polemista exaltado contra o cristianismo".
Para a sua defesa apologética, teve o grande auxílio de poder exprimir com facilidade e eloqüência nas línguas em que escreveu os seus eruditos tratados, manejando-as como língua natal. Neles Oróbio estuda à luz da razão o problema religioso, dentro da sua feição filosófica, com características novas de tese apresentadas por um método racional, não nos dando o parecer de análise mas sim de exemplificação.
O seu primeiro tratado, parece ter sido, Prevenciones Divinas Contra la Vana Ydolatria de las Gentes, obra manuscrita e da qual existem vários exemplares segundo refere Kayserling. Em seguida escreveu um tratado em que faz uma disputa contra um teólogo, que tentou provar a necessidade da vinda do messias, para assim expiar o pecado original. Este tratado intitula-se La Observância de la Divina Ley de Mosseh. Neste trabalho pretendeu o glorioso sábio demonstrar a não existência do pecado original, porque o tem como fundamento de toda a doutrina dos cristãos, dando em razão, que a alma dos filhos de Adão não estava no pecado do pai, mas vinha imediatamente de D-us, escreve ele no seu tratado: "És bien cierto que la alma racional, que es la principal parte constitutiva al hombre, no se puede contener en Adam, por que ella, vu espiritu criado de nada, por el Señor que lo infundo en el cuerpo en el instante de la generacion, y de alli viene la imposibilidad de haverse contenido em Adam, que no tenia virtud de producir la alma racional, de suerte que ella no pudo participar lo corrupción de Adam, por la generacion, pues que ella no viene de Adam, nino de Dios, que la crio pura limpia, sin pecado, ni macula".
Certamen Philosophicum – Imprimiu-se pela primeira vez em Amsterdã no ano de 1689; Foi escrito em latim, seu amigo G. de La Torre, traduziu-a para espanhol dedicando-a "ao Senhor D. Carlos de Sotto, Agente de Espana em Hollande".
A obra espanhola foi impressa pela primeira vez no ano de 1721. É com razão que Ribeiro dos Santos pondera o seguinte a respeito desta obra: "Pelo que escreveu o seu certame contra Spinoza e contra Brendemburg, e escreveu como um filósofo que tinha estudado profundamente Metafísica". É na verdade tão extraordinária, que se torna difícil classificá-la. O ataque que evoca nesta obra contra Brendemburg e Spinoza aproveitou-o o autor com inegável superioridade e intuição.
Istael Vergé – Foi publicado em espanhol e mais tarde traduzido para o inglês e francês. Este tratado foi consagrado à defesa do dogma, contra os ataques dos adversários cristãos.
Neste tratado explica o seu autor os capítulos bíblicos, que servem de base a doutrina dos cristãos, provando que eles em nada favorecem a doutrina destes, mas pelo contrário, contradizem-na, dizendo-nos ele neste tratado: "O que é que Ele ordenou dando-a a nossos pais? Segui-la sempre com a mesma pureza que o seu servidor Moisés lhes prescrevia: Ele proibiu aos seus filhos que acreditassem em deuses que os seus pais não tinham conhecido".
Junto a esta obra, vem também uma "Dissertação sobre o Messias", onde se prova que ele ainda não chegou e que segundo as promessas dos profetas que o anunciaram aos israelitas, eles esperam-no com razão", nele diz: "não há nada mais extraordinário que o querer exemplificar o texto sagrado e de se propor alguém a fazer comentários sobre as passagens mais obscuras o que se não pode compreender sem explicação quando se não faz sempre um estudo profundo da língua na qual o senhor o ditou. Tal é a situação em que se encontram a maior parte dos cristãos".
De Oróbio de Castro são também as seguintes obras:
Epístola invectiva contra Prado, tratado este que no dizer de Ribeiro dos Santos é "o mais considerável de todos os que escreveu Oróbio". Nele pretende que a Lei de Moises confirme perfeitamente com a Lei Natural, e que a predição dos futuros contingentes e dos sucessos ocultos no porvir demonstrava a sua Divindade.

Tratado em que se explica La prophesia de las 70 Semanas de Daniel.


Explicação Paraphrastica sobre o Capítulo 53 do Profeta Isahias.


Tratado ou Repuesta a um Cavalleri Francez Reformado.

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