sábado, 2 de outubro de 2010

Mosteiro de Alcobaça


Mosteiro de Alcobaça
História
No fim do século X organizou-se em Cluny, na Borgonha, um novo mosteiro beneditino que procurava renovar a regra de S. Bento. As igrejas cluniacenses eram cheias de belos elementos decorativos. Contra estas manifestações de gosto pela beleza natural, insurgiu-se Bernardo de Claraval, que se recolhera em 1112 em Cister, donde saíra para fundar a Abadia de Claraval e animar mais uma reforma que restituísse à ordem de S. Bento todo o rigor inicial. Os religiosos de Cister deviam viver do seu trabalho, não acumular riquezas, e os mosteiros seriam edificados em lugares ermos, sem qualquer decoração. Enquanto D. Afonso Henriques se empenhava na Reconquista, chegaram ao território português os monges de Cister que fundaram o Mosteiro de São João Baptista de Tarouca em 1140.
Diz a lenda que o primeiro rei de Portugal doou parte das terras da região de Alcobaça a S. Bernardo, em cumprimento da promessa feita quando da conquista de Santarém. Se se comparar a planta do Mosteiro de Alcobaça com o da segunda igreja de Claraval, temos que tem o mesmo desenho base. É de cerca de 1152 a construção provisória do mosteiro, e é conhecida no mesmo ano uma referência ao seu abade e a respectiva carta de couto é do ano seguinte.
Fachada principal do Mosteiro
Os primeiros monges, monges brancos, tiveram uma acção civilizadora notável: em 1269 abrem a primeira escola pública. No tempo do geral Fr. Sebastião de Sotomaior tomaram grande incremento as oficinas de imaginária da Abadia. Também desempenharam acções de assistência e beneficência através da enfermaria e portaria.O mosteiro é constituído por uma igreja ao lado da sacristia e, a norte, por três claustros seguidos, sendo cada um circundado, na sua totalidade, por dois andares, assim como também por uma ala a sul. Os claustros, inclusive o mais antigo, possuem, igualmente, dois andares. Os edifícios à volta dos claustros mais recentes possuem três andares. Entre 1998 e 2000 foi descoberto um presumível quarto claustro no lado sul da igreja. Este claustro foi, provavelmente, aplanado na sequência da destruição causada pelo terramoto de 1755 e da grande inundação de 1772. Também é possível que os vestígios dos habitantes da ala sul tenham sido eliminados em 1834. O edifício completo ainda hoje possui uma área de construção de 27.000 m² e uma área total de pisos de 40.000 m². A área construída, juntamente com o claustro sul, terá tido a dimensão de 33.500 m². A fachada principal do mosteiro, da igreja e da ala norte e sul tem uma largura de 221 m, tendo o lado norte ca. de 250 m.
Entre 1178 e 1240, a igreja e o primeiro claustro foram construídos no estilo pré-gótico, da passagem do românico, tendo a Igreja sido inaugurada em 1252 -é a primeira obra plenamente gótica erguida em solo português. Os edifícios do lado sul foram provavelmente construídos no século XIV. No último terço do século XVI, iniciou-se a construção do Claustro da Levada que se ligava ao claustro medieval norte. Por último, entre o século XVII e a metade do século XVIII construiu-se o Claustro da Biblioteca (ou do Rachadoiro).
Igreja:
A Igreja é constituída por uma nave central, duas naves laterais, e um transepto, criando a imagem de uma cruz. É discutível se a Igreja foi construída, em relação ao altar, ao deambulatório e ao transepto, na forma actual ou se se desviou de forma semelhante àquela desenvolvida no mesmo período por Claraval, tendo um transepto mais curto e sem deambulatório.[3] Todas as naves têm ca. de 20m de altura. A sala do altar é limitada a oriente por um caminho com nove capelas radiais. As outras quatro capelas vão dar, pelos dois lados, ao transepto. O comprimento total é de 106 m, a largura média é de 22 m e a largura do transepto é de 52 m. Desta forma, esta Igreja é uma das maiores abadias cistercienses, tendo sido apenas a hoje já não existente abadia de Vaucelles (132 m) maior. Apesar de a abadia de Pontigny, que se localizava igualmente em França, ter com os seus 108 m dois metros a mais, ela tinha um transepto mais estreito. A igreja da abadia de Claraval, que hoje já não existe e que servia de modelo à parte medieval do Mosteiro, tinha o mesmo tamanho. A arquitectura da igreja de Alcobaça é um reflexo da regra beneditina da procura da modéstia, da humildade, do isolamento do mundo e do serviço a Deus. Os cistercienses partilhavam estas ideias, ornamentando e costruindo a estrutura das suas igrejas de forma simples e poupada. Apesar da sua enorme dimensão, o edifício apenas sobressai através dos seus elementos de estrutura necessárias que se dirigem ao céu. Esta impressão foi restabelecida através da restauração efectuada em 1930. Neste mesmo ano ficou decidida a reconstrução nos moldes da época medieval, eliminando-se muitas construções que foram surgindo ao longo dos séculos. Infelizmente, também se eliminou um órgão. Por conseguinte, as pedras à base de calcário, que constituem o muro, ficaram visíveis, contendo muitas os símbolos do entalhador. Por isso, sabe-se que o seu trabalho era remunerado. As cadeiras do coro, originárias do século XVI, arderam em 1810, durante as Invasões Francesas. A fachada principal do Mosteiro a ocidente foi alterada entre 1702 e 1725 com elementos do estilo barroco. Desde aí, a fachada da igreja é ladeada, em direcção à praça, por alas de dois andares com um comprimento de 100 m cada. A própria igreja adquiriu dois campanários barrocos e possui uma fachada de 43 m, ornamentada por várias estatuetas. A escadaria da entrada, com as suas decorações barrocas, data, igualmente, deste tempo. Da fachada antiga apenas restam o portal gótico e a rosácea. É difícil conhecer-se o aspecto da fachada original, pois foi destruída em 1531. Provavelmente, a igreja não possuiria campanários, correspondendo, deste modo, ao ideal cisterciense da simplicidade.
Caracterização arquitectónica:
Fachada Barroca da Igreja da Abadia
A actual fachada é do século XVIII, restando do gótico primitivo o portal de arcos ogivais e o arco da rosácea. A concepção arquitectónica deste monumento, desprovida de decoração e sem imagens, como ordenava a Ordem de Cister, apresenta uma grandiosidade e beleza indiscutíveis. As naves central e laterais são inteiramente abobadadas, praticamente da mesma altura, dão a sensação de amplo espaço, a que o processo de iluminação, românico ainda, dá pouca luz e o torna maior. As naves laterais prolongam-se pelo deambulatório, e da charola irradiam nove capelas que acompanham a ábside circular, iluminada por frestas altas, o que realça o altar-mor.A segurar a parte alta da ábside existem arcos-botantes, pouco vulgares nas abadias de Cister, talvez por ser um monumento de transição entre o românico e o gótico. As inovações típicas da arte gótica aparecem ainda com o aspecto de um ensaio, como por exemplo a subida das naves laterais até à altura da central. O transepto apresenta-se com duas naves, mas quando olhamos a planta da igreja, reconhecem-se três, nos alicerces e no corpo central.
O interior do edifício demonstra a existência de um gótico avançado, o exterior do edifício exprime a austeridade cisterciense, neste caso orientada para objectivos mais pragmáticos. Realmente, como aconselhava a regra, não existem torres, e as fachadas, nomeadamente o frontispício possuía apenas uma parede lisa com empena triangular. As paredes são contrafortadas, exceptuando a cabeceira, na qual surgem pela primeira vez arcobotantes na arquitectura portuguesa. A coroação do templo, pelo exterior, é composta por merlões com topo biselado dos dois lados, sobre um parapeito que descansa numa fiada de modilhões. Esta característica confere ao conjunto uma solidez militar um ar de fortaleza.
Estes e outros aspectos poderão desmentir a escassa influência do mosteiro de Alcobaça na história da arquitectura portuguesa. De facto, o monumento tem sido sempre encarado como uma excepção no quadro do modo gótico produzido em Portugal como uma peça única e experimental sem antecedentes nem descendentes.
Deambulatório:
O deambulatório é uma obra complexa, a sua estrutura interior - o presbitério, propriamente dito - articula-se com a nave por intermédio de duas paredes opostas, rectas, marcadas por dois pilares nos extremos e de cada lado; oito colunas de grande diâmetro e robustez com capitéis de cesto troncocónico côncavo e ornamentação vegetalista muito simplificada, sustentam arcos quebrados muito aperaltados; a abóbada, nervurada e ligeira, parte de meias colunas cuja raiz se situa acima daqueles capitéis. A parte exterior do Deambulatório é dotada de uma abóbada mais pesada e de acordo com os sistemas mais simples utilizados no restante edifício.
Sacristia:
A sacristia medieval de ca. de 100 m², que se encontrava no final do lado norte do transepto, foi substituída, no tempo do rei D. Manuel I (1495-1521), por uma sacristia com ca. de 250 m² do lado sudeste do coro juntamente com um átrio. Ao mesmo tempo, construiu-se a Capela Senhor dos Passos. Tanto a sacristia como a capela foram destruidos durante o terramoto de 1755. Na sua reconstrução, conservaram-se os portais manuelinos, que são uns dos poucos elementos de construção deste estilo em Alcobaça. No final da sacristia encontra-se a Capela das Relíquias (ver acima).
Os primeiros túmulos reais:
Dentro da igreja encontram-se os túmulos dos reis D. Afonso II (1185-1123; túmulo datado de 1224) e de D. Afonso III (1210-1279). Os túmulos situam-se dos dois lados da Capela de São Bernardo (contendo a representação da sua morte) no transepto a sul. Diante destes túmulos, numa sala lateral, posicionam-se oito outros túmulos, nos quais se encontram D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, e três dos seus filhos. Um outro sarcófago pertence a D. Urraca, a primeira mulher de D. Afonso II. Não se conhece a história dos outros sarcófagos, estando estes, hoje em dia, vazios após terem sido novamente selados entre 1996 e 2000. O edifício lateral, nos quais esses sarcófagos se encontram actualmente, foi reconstruído na sequência dos estragos causados pela grande inundação de 1772. A partir do século XVI, os sarcófagos encontravam-se no transepto a sul e, anteriormente, provavelmente na nave central.
D. Pedro e Inês de Castro:
Os túmulos de D. Pedro I (1320-1367), com o cognome O Terrível ou também O Justo, e o de D. Inês de Castro (1320-1355), que se encontram em cada lado do transepto, conferem, ainda hoje atribuem um grande significado e esplendor à igreja. Os túmulos pertencem a uma das maiores esculturas tumulares da Idade Média. Quando subiu ao trono, D. Pedro I tinha dado ordem de construção destes túmulos para que lá fosse enterrado o seu grande amor, D. Inês, que tinha sido cruelmente assassinada pelo pai de D. Pedro I, D. Afonso IV (1291-1357). Este pretendia, também, ser ele próprio ali enterrado após a sua morte. As cenas, pouco elucidativas, representadas nos túmulos, ilustram cenas da História de Portugal, são de origem bíblica ou recorrem simplesmente a fábulas. Por um lado, esta iconografia é bastante extensa, sendo, por outro lado, muito discutível.
Túmulo de Inês de Castro
D. Pedro I casou em 1336, em segundas núpcias, com D. Constança Manuel (1318-1345), uma princesa castelhana. Devido a várias guerras entre Portugal e Castela, D. Constança só chegou a Portugal em 1339. No seu séquito, ela trazia a camareira Inês de Castro, que provinha de uma antiga e poderosa família nobre galega. D. Pedro I apaixonou-se por ela. Em 1345, D. Constança morrera catorze dias após o parto do seu filho sobrevivente, D. Fernando I. D. Pedro I passou a viver publicamente com D. Inês, nascendo desta relação três filhos. O pai de D. Pedro I, D Afonso IV, não aceitou esta relação, combatendo-a e, em 1335, condenou D. Inês à morte por alta traição. Após subir ao trono, D. Pedro I vingou a morte da sua amada (afirmando ter-se casado com ela em segredo no ano de 1354) e decretou que se honrasse D. Inês como rainha de Portugal. Quando em 1361 os sarcófagos estavam prontos, D. Pedro I mandou colocá-los na parte sul do transepto da igreja de Alcobaça e trasladar os restos mortais de D. Inês de Coimbra para Alcobaça, sob o olhar da maior parte da nobreza e da população. No seu testamento, D. Pedro I determinou ser enterrado no outro sarcófago de forma a que, quando o casal ressuscitasse no dia do Juízo Final, se olhassem nos olhos (de acordo com as fontes, só existiria o pedido de ser lida diariamente uma missa junto aos seus túmulos).
A sorte dos túmulos:
No dia 1 de Agosto de 1569, o rei D. Sebastião I (1554-1578), cujo tio era o cardeal D. Henrique, abade de Alcobaça, mandou abrir os túmulos. De acordo com os relatos de dois monges presentes, enquanto os túmulos eram abertos, o rei recitava textos alusivos ao amor de D. Pedro e de D. Inês. Durante a Invasão Francesa do ano de 1810 os dois túmulos não só foram danificados de forma irreparável, como ainda foram profanados pelos soldados. O corpo embalsamado de D. Pedro foi retirado do caixão e envolvido num pano de cor púrpura, enquanto a cabeça de D. Inês, que ainda continha cabelo louro, foi atirado para a sala ao lado, para junto dos outros sarcófagos. Os monges reuniram posteriormente os elementos dos túmulos e voltaram a selá-los. Após o ano de 1810, os túmulos foram sendo colocados em vários sítios da igreja, para voltarem à sua posição inicial no transepto, frente a frente, em 1956. Agora, os túmulos são o destino de muitos apaixonados, que muitas vezes os visitam no dia do seu casamento, para fazerem juras de amor eterno e de fidelidade defronte aos dois túmulos.

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