quarta-feira, 27 de julho de 2011

Freguesias rurais lutam pela sobrevivência

Autarcas alegam que a reorganização administrativa pode pôr em causa a relação de proximidade com as populações
A reorganização das freguesias deve ter em conta as características do meio rural. O aviso é dos autarcas de Espinhosela e Rabal, duas aldeias do concelho de Bragança que não querem ficar agregadas a freguesias urbanas.
“Não se pode perder o excelente trabalho que o presidente da Câmara Municipal de Bragança desenvolveu no meio rural, com novas sedes de Junta, que não podem ficar às moscas após esta reorganização administrativa”, salienta o presidente da Junta de Freguesia de Rabal, Paulo Hermenegildo.
O autarca teme que a anunciada reorganização administrativa deite a perder a essência do mundo rural e agrave a condição de isolamento das populações. “Há uma população muito envelhecida, pessoas que estão sozinhas porque os filhos estão longe, e que cada vez mais precisam de quem está próximo, como é o caso do executivo das Juntas de Freguesia, que ouvem as pessoas. E ouvi-las já é meia cura para a solidão”, recorda Paulo Hermenegildo.
O autarca de Rabal reconhece que a reforma tem que avançar, mas avisa que a proximidade inerente ao poder local e a capacidade de diálogo com as populações “são inquantificáveis” e não se podem perder. “Acho que isto tem que ser muito bem pensado e espero que quem decide saiba ouvir quem está no terreno”, considera Paulo Hermenegildo.

“Espero que quem decide saiba ouvir quem está no terreno”
O presidente da Junta de Freguesia de Espinhosela, Telmo Afonso, alinha pelo mesmo diapasão. “Não sei até que ponto haverá vantagens a nível financeiro. Pode-se poupar alguma coisa na remuneração dos autarcas, mas não esqueçamos que um agrupamento de 15-16 aldeias tem que estar bem apetrechado para dar resposta às solicitações”, relembra o autarca.
Além dos meios financeiros associados às transferências de competências, o responsável realça que cada agrupamento de freguesias terá de ter funcionários e um executivo com uma remuneração compatível com as suas responsabilidades. “Cada executivo vai ter que fazer muitos quilómetros para acompanhar e satisfazer as necessidades de cada uma das aldeias do agrupamento. Só isso já implicará um aumento dos custos”, alega Telmo Afonso.
Recorde-se que o programa do Governo prevê a reorganização territorial das freguesias, com consenso alargado, designadamente associação de freguesias, sobretudo nas áreas urbanas e nas regiões de baixa densidade.

Por: João Campos

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