quarta-feira, 3 de junho de 2015

Breve História da Casa Menéres – Quinta do Romeu

Aspecto exterior do Museu, no Romeu
Na segunda metade do século XIX, Clemente Menéres, oriundo da Vila da Feira, negociava em vinhos e cortiça nos mercados do norte da Europa e do Brasil.
Anteriormente já tinha vivido algum tempo nesta colónia e viajado pela Europa, Médio Oriente e Norte de África. Até Wenceslau de Moraes, nas suas cartas do Japão, refere com elogios a presença de um seu stand na Feira de Osaka em 1903!
Provavelmente nessas suas digressões, apercebe-se da importância futura destes produtos e resolve então investir na produção, transformação e comercialização dos mesmos, modelo esse que ainda hoje se mantém na Quinta do Romeu.

Nesse sentido, em 1874 visita pela primeira vez Trás-os-Montes à procura de sobreirais que constava por lá haver e que não eram explorados. De imediato compra os que encontra e que se situavam nas terras incultas onde não se dava mais nada. Cria assim a Quinta do Romeu, que mais tarde deu origem à Sociedade Clemente Menéres Lda, com sede no extinto Convento de Monchique no Porto, comprado em hasta pública em 1872.
Replanta algumas vinhas de vinho generoso que encontra dizimadas pela filoxera e povoa outras encostas com olivais.
Faz uma fábrica de rolhas no Romeu e, para poder escoar os seus produtos, empenha-se profundamente em trazer o Caminho de Ferro para esta zona, o que consegue movimentando a opinião pública de então.
Para além de instalações agrícolas e casas para o pessoal que, já na altura, era pouco, e sem formação, constrói uma Escola Primária, contrata e aloja as professoras e dá o almoço às crianças.
Antes de falecer, faz a referida sociedade por quotas com os filhos, com o objectivo de manter indivisas as suas propriedades. Como o morgadio, embora vantajoso sob esse aspecto, era injusto, estipula ainda que a transmissão de quotas só possa ser feita aos seus descendentes directos.
Sucedeu-lhe seu filho José Menéres que continua o trabalho de seu pai. Cria a Confraria de Nossa Senhora de Jerusalém do Romeu para zelar por um Santuário do século XVI que seu pai encontrara abandonado e reconstruiu, cria a Cooperativa Por Bem para abastecer de mercearia quem cá vive e cria ainda uma Casa do Povo com consultório médico, farmácia e biblioteca, onde também se fez teatro e passaram filmes, numa Máquina Cinematógrafo de 1912 que trabalhou no Cinema Pathé, no Porto, e no Teatro Afonso Sanches em Vila do Conde.
Depois de José falecer, seu irmão Manuel Menéres dá novo impulso ao “Romeu”. Para além de enormes avanços agrícolas, em colaboração íntima com o Prof. J. Vieira Natividade, o seu trabalho mais notável foi a recuperação de três aldeias, Vale de Couço, Vila Verdinho e Romeu, dando condições de habitabilidade e de vida dignas a todos os seus habitantes. Depois de ter gasto praticamente todas as suas economias pessoais, teve ajudas para continuar esse trabalho da então Junta de Colonização Interna e do Ministério das Obras Públicas, no tempo do Engenheiro Arantes e Oliveira. Estava-se nos anos sessenta.
Porque as crianças andavam de pé descalço, e pouco acompanhadas nas aldeias, cria uma creche e um jardim infantil, onde lhes é dado banho, de vestir e de comer. Faz o Restaurante Maria Rita e o pequeno Museu das Curiosidades com peças antigas de família e outras que se lhe foram adicionando por oferta ou direito de idade, e cujas receitas revertem para a manutenção da obra social.
Após o seu falecimento, sucede-lhe seu filho Clemente Menéres que mantém e aperfeiçoa o “Romeu”, conduzindo-o desde os tempos conturbados do PREC até aos desafios da EU.
Vinda da Monarquia, passou ainda esta Casa a Implantação da República, duas Grandes Guerras, uma Revolução e a Integração Europeia.
Actualmente, esta Sociedade tem cerca de 60 sócios, sustenta aproximadamente 35 famílias, e a PAC e a globalização da economia são o cenário onde a acção se desenvolve e que alteram radicalmente a sua escala.
Apesar de catastróficos incêndios florestais, a produção de cortiça continua, o vinho generoso é de excelente qualidade e o azeite é Biológico, com Denominação de Origem Protegida, e uma referência de qualidade tanto em Portugal como no estrangeiro. Foi considerado o melhor da Península Ibérica em 1999 pela revista alemã “Der Feinschmecker”. Vende-se em Portugal, Alemanha, Suiça, Dinamarca, EUA, Japão, etc.
Hoje em dia, a fábrica de rolhas do século passado do Romeu é Museu, a Escola Primária funciona com professores colocados pelo Ministério e está alugada à Câmara Municipal de Mirandela por 360$00 anuais, a ex-Casa do Povo foi reactivada este ano como sala de palestras, a antiga máquina de projectar está no Museu das Curiosidades, as aldeias recuperadas estão mais ou menos degradadas tanto pelo abandono das populações como pelas violações do poder local, o Restaurante Maria Rita é uma referência nos principais guias turísticos nacionais e estrangeiros, as Creches emanciparam-se e são agora uma IPSS dirigida pela Paróquia, este ano com um Centro de Dia novo orientado para apoio domiciliário à terceira idade, que actualmente precisa mais do que as crianças, o Santuário está mais bonito e a Cooperativa é explorada pelo Sr. Toninho que faz as melhores alheiras da região!
A vida desta Casa agrícola não passa, assim, só pela economia ou subsidiologia, mas por um equilíbrio frágil entre cinco vectores fundamentais que é necessário cuidar e harmonizar permanentemente: 1 – o desenvolvimento pessoal e digno de quem dela vive; 2 – a terra ou ambiente; 3 – a técnica e equipamento; 4 – as vendas; 5 – a economia e finanças.

J. P. Menéres
Romeu, 29/9/1999

1 comentário:

  1. Conhecia já a história desta aldeia e da família Menéres. De qualquer forma um texto que nos dá a conhecer as origens e a história de uma das aldeias mais bem preservadas do Distrito.

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