sexta-feira, 23 de março de 2012

A construção da fronteira transmontana - Fortificações (CONTINUAÇÃO)

Hé murada, tem a villa sobre hum monte com três ordens de muros o primeiro da estacada está todo razo e cahido; o segundo também vai cahindo im partes; tem o treceiro ainda inteiro mas muito antigo. Tem duas portas huma para a parte do Poente aonde lhe fica a
cidade e outra para a parte do Nascente. As portas já arruinadas e só humas estão menos mas tem o muro doze torreoins, em hum dos quais estão dous sinos da camera e servem de impedimento para andar o muro em roda. Tem na parte do Sul hum posso no muro obra muito antigua a que chamam o posso d’El Rei. Baixa-se para elle por escadas de pedra e hé muito alto. Tem hum castello que dizem ser o mais alto e milhor deste Reino. Hé obra magnifica mais largo em sima que em baixo tem sua muralha em roda com seis torreoins que servem para as armas, mas já bem arruinados e tem humas cazas muito grandes também pegadas ao castello.
Tem artelharia bastante mas toda desmontada, no que padessem os muros grave ruina quando se diz para por estarem com as culatras metidas em covas que tem feito no mesmo muro e devia Sua Magestade que Deus guarde mandar fazer na borda do muro huma caza aonde a ter recolhida e montada e quando a quizessem disparar, tirar as pessas que haviam de servir e tanto que servissem torná-los a recolher, que assim evitarão dobrado gasto de carretos e as pessas escuzavam de as estar comendo a ferruje principalmente as de ferro e estavam sempre prontas e a caza com pouco se fazia.Hé a cidade murada toda em roda mas os muros todos estão no cham por qualquer parte se entra para ella sem ser pellas portas que tem três humas para a parte do Nascente aonde está hum corpo de goarda e duas para a parte do Poente.
Também tem outro corpo da goarda e as outras huma sentinella tem outras três menos
principais humas para o Norte e duas para o Sul e tem hum forte na distancia de hum tiro de mosquete para a parte do Poente grande e seus muros bastantemente altos aonde se mandaram fazer huns quartéis para a Cabalaria que já não há nesta cidade, que sendo a capital desta Provincia que está cobrindo desoito legoas de raia sequa e menos goarnessida de infantaria, por dar hum destaquamento de cem homens para Miranda e outro para Freixo outro para Outeiro e ter em si huma maquina de goardas por fazer os senhores generais corte em Chaves huns lhe tiraram a metade do regimento legeiro de Cavalaria que era desta praça e agora acabaram de tirar e acabaram de destruhir a terra e destruhir os povos por onde passam os destacamentos cada dous mezes e destruhir os caballos e consomir os soldados e oficiais e destruhir também Chaves porque a besta em lhe pondo maior carga do que a com que pode também cahi
(Memória de S. João Baptista, concelho de Bragança).

O Memorialista critica o estado de abandono a decadência militar da Praça de Bragança ao tempo, que pelo território e raia seca que domina – 18 léguas de raia seca – deveria estar melhor guarnecida.
Estava, neste testemunho, desguarnecida de Infantaria, pela ida de 1 destacamento de 100 homens para Miranda, outro para Freixo de Espada à Cinta, outro para Outeiro. E sem metade do Regimento ligeiro de Cavalaria que foi para Chaves e agora acabavam de tirar, isto em benefício de Chaves.

Em Miranda, o memorialista refere-se à muralha dionisina para guarnecer a vila de nobres e fortes muros que de ordinário tem 12 côvados» com 2 portas principais com seu castelo e cisterna, no alto da cidade para a parte Norte, com 3 torres – uma maior central, e duas menores, uma virada a Norte outra a Sul, com 2 pedras de armas no rebolim do castelo, uma régia – coroa imperial, esfera e escudo – outra dos Távoras; mais 3 fortes um dos quais construído pelos Castelhanos quando dominaram a praça (1710). Praça que observada nos elementos do castelo e muralha nos seus «fossos cubelos contraescarpas, angullos, rebolins, baluartes, falsas bragas, merloens, embrazuras, parapeitos, bermas, taludes, frondas» e «sem embargo de que cada couza de per si parece perfeita considerando o todo e não por partes attentas as circunstancias fica praça erregular (Memória de Miranda). E refere-se também ao equipamento militar depositado e à disposição da cidade, suas 13 peças de artilharia – calibree capacidade de tiro – munições. E também ao pessoal da guarnição miliciana da praça que deve constar de 500 homens para cujo alojamento se fizeram bons quartéis, intramuros, em 1748 (à conta da Câmara e povos) mas que ordinariamente conta com 100 infantes pertencentes ao Regimento de Bragança com seus oficiais, com seu Governador.
No plano militar a estrutura defensiva da praça e terra conta também com 10 companhias de Ordenanças – entre a cidade e o termo – e 2 sargentos mores. E conta também com um
hospital real dirigido pelos religiosos de S. João de Deus, para tratar os militares.

Em Freixo de Espada à Cinta: Hé esta freguezia praça de armas, sem ser murada e somente tem hum castelo, que já parece velho, com duas torres e outra aonde estão os sinos da Collegiada. Tem hum Governador, compõem-se de hum destacamento de soldados, que consta de hum tenente ou alferes, com mais dez ou doze soldados, aonde entra sargento e cabo de esquadra (Memória de Freixo). E tem hum notavel castello ou fortaleza fronteiriça do Reino de Castela, guarnecida com alguns petrechos e gente militar, que vem por destacamento da cidade de Bragança com oficial que o governa fazendo todos quartel no mesmo castelo (…). Antigamente teve alcaide maior (…) e somente se intitulava Fronteiromor daquela vila, o donatario de Vila Flor. (…) Há capitão e guarnição militar, circunstâncias que a constituem defensável sem Alcaide-mor, além da opressão que estes causam nas terras onde as há, pelos direitos que percebem e lhe faculta a Ordenação.
A Memória da Vila de Outeiro: Há nesta villa hua fortaleza de hum castelo, inconquistavel em razam do sitio em que se acha, o qual está formado na eminencia de hum outeiro, distante da villa três tiros de bala, tem duas torres, cazas para morarem os governadores e soldados, tinha sua cappella de Santa Luzia, porém esta e as cazas se acham quasi demolidas e damnificadas as muralhas por razam de nam habitarem há annos os governadores na ditta fortaleza, e juntamente incalamidades dos tempos. Da qual goarniçam se descobrem muitas terras, bispados e arcebispados, o de Braga, o de Santiago, reino de Galiza, o Bispado de Salamanca, Zamora, Orense, este taõbém de Galiza, e aquelles do de Castela La Vieja. No Terremoto de mil settecentos e sincoenta e sinco cahiu hua amea, nam se tem reparado. A ditta praça me consta hoje nam tem peça algua, nem moniçons; cada dois mezes vem hua escoadra de infantes da praça de Bragança com seo sargento e alferes (Memória da Vila de Outeiro).
Em Algosinho, refere a Memória: Acha-se hum castelo neste lugar antiguo e forte. Com seus muros e portas atuidas e disbaratados e paredes dirrubadas, distancia do povo seis tiros de espingarda, à parte do Nacente dando vista ao Reino de Castela leguoa e meia inté ao Rio Douro que se mete de primeiro. E fica em hum alto que discobre muita parte de Espanha. E alguns coriozos o tem minado e derrubado pera ver se acham nele tizouros de ouro ou prata (Memória de Algosinho, Mogadouro).
Em Penas Róias: Tem castello, que hé antiquissimo, cujos muros estão arruinados, que eram de pedra de seixo bruto, pedra que não pode ser lavrada e tem huma torre antiquissima, que ainda está bem segura e fabricada do mesmo seixo bruto. Esta tem quatro esquinas, e não pode ser bombeada de parte alguma, sem que a bomba vá esgodando; porém nam tem asseio algum, mais que as paredes, estas bem altas. Sobre a porta (que também fica levantada mais de trinta palmos) está hum letreiro, que por sua antiguidade se não lê, e a parte direita no peito está huma comenda bem feita (Memória de Penas Róias, Mogadouro).
Em Vinhais cuja vila da parte do Norte confina com o Reino da Galiza, a estrutura militar vai
marcada pela fortaleza toda pedrada que mandou fazer o Rei D. Dinis, com 2 torres para o Norte e alguns torreões na circunferência da fortaleza que é de pedra miúda e cal. Tem lugares de estacada, focos e barbacãs e goritas. E 2 portas, uma a Norte e outra a Sul. Então achava-se bastante arruinada pelo Nascente e pelo Sul (Memória de Vinhais) e pela Casa do Hospital, instituída junto à Casa da Misericordia por Estêvão de Morais Sarmento, Governador que foi da Vila (Memória de Vinhais), cuja ocupação de provedor se exercita pelos nobres da terra. A nobreza militar é a mais abundante na terra. O memorialista refere-se largamente aos militares ilustres. Em particular a Estêvão de Morais Sarmento, fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Governador da praça que a defendeu valorosamente contra as armas de A. Baltasar Pantoxa (Memória de Vinhais) e também às Artes de Cavalaria, muito cultivadas nas festas de cavalo, corridas de touros, sortidas e outras diferentes cavalhadas.

Em Vimioso: Somente há um castelo muito antigo e este se acha arruinado que o demolui e
queimou o inimigo nas guerras passadas (Memória de Vimioso).

Em Algoso: Não hé Praça de Armas esta villa, mas tem hum castelo, por sima della, que dizem ser manufactura dos Mouros, edificado na iminencia de hum rochedo, de cuja altura largando a vista ao fundo se confunde para a parte do Sul, donde se faz inconquistavel, e pelas demais partes também o seria, socorrendo-o qualquer lemitada guarnição, de cujo castello hé alcaide mor o Comendador Maltês desta Comenda, e hoje o hé Dom Frei José de Almeida Portugal (Memória de Algoso).
Em Anciães: Tem este castelo uma porta por donde se entra para elle goarnecida com duas torres com algumas plainas voltas para o Sul. Tem mais um postigo de porta a que chamam o postigoo da Traissom. Para a parte do Norte tem huma grande torre no alto à parte do Norte a que chamam torre de Menagem, já arruinada. Tem outra torre o mesmo castelo à parte do Poente sobre o sitio de Fonte Vedra. À parte do Poente, mais tem outra torre. Junto à porta principal por donde se entra volta para o Sul tudo com algumas ruinas. Tem este castelo uma sisterna ou poço alto, todo de pedra marmore feito ao pico com seu portal de cantaria, cuberto também parte delle atuido citta no meio do castello. Este castello se acha já em muita parte arruinado. Ficam os muros da villa pegados ao Castelo também já arruinados, tem estes muros três portas, huma a que chamam a porta da Villa para a parte do Sul, outra porta à parte do Nascente a que chamam de Sam Francisco e por baixo desta está pegado aos muros na mesma direitura do nascente desta um poço de cantaria lavrada com seu ladrilho este hoje está quase atuido com um pedaço de muro que cahiu sobre ele e por baixo deste fosso está hum bocado de contra muralha com huma porta de arco tudo de cantaria para a mesma parte do Nascente. Tem mais outra porta estes muros para a parte do Norte sobre a Quinta do Toural. Tem mais huma porta a que chamam o Postigoo para a parte do Poente que fica defronte das portas principais da igreja matriz. Tem três muros de rebollins hum que fica pera a parte do Nascente quasi para a parte do Norte sobre a igreja de Sam Joam Baptista extra muros hoje da portagem pera donde se mudou a freguesia a qual igreja está arruinada e descuberto o outro rebollim fica para a parte do Sul sobre ou defronte do dito lugar da Lavandeira. Está este castello e villa situado no mais alto e despinhado e fragoso sitio da serra da Villa (Memória de Anciães).

continua...

in:repositorium.sdum.uminho.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário