quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Natal da angústia!


O cerco
Sinto-me sitiada.Encurralada.
Cada dia que passa perco liberdade,perco poder de compra,perco capacidade de movimento no mundo exterior.A cada dia tenho menos segurança e a cada dia me sinto mais vulnerável face a um poder asfixiante que se estabeleceu subrepticiamente sobre mim.
Ter ou não ter passaporte é indiferente.
Cada dia que passa o cerco à minha volta aperta-se:as declarações de que gastei o que não tinha,vivi acima das minhas possibilidades, estou a receber um salário ou uma reforma que me é desconfiadamente pago mas que não mereço_ mesmo a insinuação de que estou a roubar o erário público cada vez que adoeço e vou ao médico, cada vez que entro num museu ou biblioteca, a impressão kafkiana de que não estou a usar serviços para os quais contribuí mas sim que estou a hooliganizar a praça e os bens publicos..
Até aqui a Constituição da Républica era o enquadramento legal ,o paradigma que balizava o que era nosso e devia ser defendido.Agora vem um jovem pau mandado Hugo Soares dizer-me a mim que cada geração deve ter uma Constituição_ talvez para este jovem inocente a "sua" Constituição deva ser votada pelos portugueses menores de 35 anos..
A Constituição tornou-se um empecilho para o cumprimento dos objectivos do núcleo duro deste governo.
Passos Coelho e Victor Gaspar pegam cada um numa haste da tenaz com que nos garrotam o pescoço:a argumentação vai-se apertando sempre em torno de ponto fulcral :não temos dinheiro, temos dívidas incomensuráveis ,o que produzimos não chega para encher a cova do dente,comemos demais,adoecemos demais,viajamos demais,gastamos demais e estragamos que nem nababos o que nos emprestaram.
Portanto temos duas alternativas:ou descem salários e pensões, pagamos mais e mais impostos e taxas de solidariedade,aceitamos todos os confiscos que nos impõem  ou acabamos com um serviço nacional de saúde de esbanjamento para todos, com a escola para todos,com a cultura para todos ,com a Justiça e Segurança para todos.
Um País que era de todos acabou.
A  Constituição vai ter de escolher os grupos alvo a quem podem ser dispensados alguns serviços mínimos,os que podemos pagar.Escreve-se uma nova Constituição que defina quem pode utilizar os serviços de saúde restantes (os recém nascidos ou os mais idosos ?) ,quem pode ir à escola sem pagar (os mais inteligentes ou os mais diminuídos?),quem tem direito a segurança (os que vivem nos bairros finos ou os que vivem nas pocilgas?),quem pode usar os bens comuns restantes?
Sinto que neste País estou a mais.Não consigo fazer as contas para perceber se o que até aqui paguei justifica o ar que respiro.Sinto-me a asfixiar.

Beatriz Lamas Oliveira

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