domingo, 24 de fevereiro de 2013

Livro - Um «Alerta!! Pelos Burros»


Paulo Caetano tem percorrido o país em busca do nosso património material e imaterial. Uma viagem que colocou este ex-jornalista em contacto com um animal de companhia e trabalho que caiu em desuso, o burro. Hoje começam, contudo, a surgir iniciativas que contribuem para a defesa deste animal. No livro «Alerta!! Pelos Burros», Paulo fala dessas iniciativas e de outras histórias.
A zebra, animal da mesma família dos equídeos, nativos de África, deve o seu nome a um burro selvagem que habitou, até a Idade Média, o território que é hoje Portugal. Esta é uma das curiosidades que o ex-jornalista Paulo Caetano partilha no livro «Alerta!! Pelos burros».
«Existia um burro selvagem designado por o Equus hydruntinus. Chamavam-lhe zebro porque tinham zebrinas no pêlo. Mesmo depois da sua extinção, a sua memória permaneceu através dos nomes de lugares como Vale do Zebro, Zimbreira, Zebreira», explica Paulo.
O autor apurou que «os equídeos africanos actualmente conhecidos como zebras devem o nome a missionários portugueses que, durante uma expedição ao Cabo da Boa Esperança, no extremo meridional de África, avistaram grandes manadas de cavalgaduras riscadas. A semelhança com o zebro era tal que decidiram chamar-lhes zebras».
Paulo conta também que descobriu a existência de veterinários/investigadores que se dedicam e fazem teses de doutoramento à volta da conservação do burro. «Tenho um capítulo que fala de um dentista de burros e de um médico que cuida do sistema reprodutor dos burros. Foi muito interessante acompanhá-los nas aldeias. No largo principal montam o seu “estaminé” e as pessoas, muitas delas nunca foram ao dentista e não têm dentes, trazem o seu burro ao dentista».
O trabalho como jornalista conduziu muitas vezes Paulo às aldeias do interior do país onde diz haver uma relação de «equilíbrio entre o mundo rural e natural». Ficou fascinado por este mundo e começou a escrever sobre ele. «A minha preocupação durante vários anos era fixar e divulgar o património natural que temos e que está em risco de desaparecer», conta Paulo, actualmente director de comunicação do grupo CUF.
Dessa vontade de «fixar» para a posteridade o património português nasceu o livro «Alerta!! Pelos Burros», editado pela Bizâncio. O título revela desde logo a premência de salvaguardar o animal. Paulo relata o uso do burro em tempos pretéritos e os motivos que conduziram o animal quase à extinção. 
A obra traz também uma perspectiva optimista porque o autor revela as iniciativas existentes no país e que têm por base este animal de olhar meigo e porte afável.
«Por exemplo, gosto muito da zona de Idanha-a-Nova e há 15 anos havia imensos burros na aldeia de Monsanto. Hoje só existe um burro e que vai desaparecer quando os velhotes que cuidam dele já não o poderem fazer. Estamos a perder um património genético e cultural que faz parte da nossa história e identidade», comenta Paulo Caetano.
«Mas há bons exemplos de preservação um pouco por todo o país como a asinoterapia [uma prática equestre que utiliza o burro como instrumento terapêutico] no Algarve e em Mafra, passeios de burro na zona de Sintra, também em Mafra e Litoral Alentejano. Utilização do leite de burra para fins cosméticos. E, claro, como animal de companhia, sobretudo em Trás-os-Montes», sublinha.
Na estante de livros escritos, Paulo Caetano junta outros sobre «cães de guarda, um pretexto para falar sobre raças de cães e a transumância; abutres de Portugal e Espanha e cavalos selvagens ibéricos». Qualquer uma das obras resulta das vivências de Paulo nas aldeias, das conversas com as gentes da terra, mas também com cientistas e investigadores.

Sara Pelicano; fotos - Paulo Caetano
incafeportugal.net

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