sábado, 27 de abril de 2013

Comércio de Miranda cai de 150 para 15 milhões em duas décadas

foto RUI MANUEL FERREIRA/GLOBAL IMAGENS

Os espanhóis ainda vão a Miranda do Douro, mas atraídos mais pelo turismo do que pelas compras. Sem clientes, as lojas, sobretudo de atoalhados e móveis, vão decaindo. Muito longe vai o tempo das vacas gordas.
Da camioneta saíram duas mãos cheias de madrilenos, subiram a rampa do estacionamento e dividiram-se em dois grupos. A maior parte virou à esquerda, para o centro turístico de Miranda do Douro; alguns, poucos, viraram para a zona comercial, onde se estendem lojas sobretudo de têxteis e mobiliário. Mas mesmo esses, queixaram-se os lojistas, querem mais ver montras do que comprar.
Os comerciantes de Miranda do Douro já chegaram a vender 150 milhões de euros por ano, nos anos 80, diz o presidente da câmara, Artur Nunes. Agora, vendem menos um zero, não mais do que 15 milhões, estima.
São os espanhóis que, também a braços com a crise e um desemprego ainda maior do que o português, visitam menos a cidade e, sobretudo, trazem menos dinheiro no bolso, avança Augusto Cardoso, dono dos Armazéns Arco, a primeira loja de quem vem do estacionamento. "Fomos a primeira casa da zona nova, estamos aqui há 27 anos e, de longe, esta é a pior crise", lamenta.
A primeira grande machadada nos cofres dos lojistas veio com o euro, quando o negócio do câmbio da peseta desapareceu. Clementina Martins, de 76 anos toma conta da loja de móveis do filho, uma das poucas a fugir do design tradicional, e lembra-se bem desse tempo. "O que não ganhávamos no lucro ganhávamos no câmbio", conta. Depois veio a crise, sobretudo nos dois últimos anos. "Tenho promoções de 50%, mas nem assim vendo", diz.
Andando pela rua vêem-se lojas vazias. Não é só por ser dia da semana e a chuva não dar descanso, dizem os comerciantes. Os fins-de-semana soalheiros são melhores, mas mais para o turismo, não tanto para o comércio.
É o caso do grupo vindo de Madrid. Sílvia Gomes dispara num castelhano enrolado que veio passear. "Para as compras há pouco tempo e ainda menos dinheiro", diz. Mais abaixo, na zona comercial, a também madrilena Dorinda Lopes Moreira salva o dia ao sair de uma loja de saco na mão. "Gostava de levar mais coisas, mas não pode ser", diz, apressada para regressar à camioneta.
Novas e de cara lavada
Sem clientes, lojas apinhadas de artigos vão definhando, dando sinais de uma desolação que se auto-alimenta. Os comerciantes lamentam-se, mas falta saber como reagirão à proposta de renovação que a câmara planeia apresentar até ao final do ano.
O autarca Artur Nunes quer fazer de Miranda um "shopping" ao ar livre, com novas lojas que sirvam de chamariz a clientes e as atuais de cara lavada. O projeto ainda não está pronto, mas implicará mudar hábitos de décadas e investir dinheiro, numa altura em que ele não abunda.

in:jn.pt

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