sexta-feira, 31 de maio de 2013

Rosa Mãe – Rosa Mulher = hino poético à vida

Dia 15 de Maio, Maria Angelina Pereira cumpriu um sonho no Grémio Literário de Vila Real. Depois de décadas de altos e baixos, de emoções e desenganos, de palpites e de frustrações, de sonhos e de fantasias para todos os gostos, Gina, como é conhecida em Vila Real, resumiu num volume de 200 páginas um manancial de criatividade a que chamou: Rosa Mãe – Rosa Mulher.
O amplo e acolhedor espaço cultural encheu-se de gente de todas as idades, ocupações e  tendências gustativas. Esse encontro fez-se em nome da poesia. Mas a vivência que ali se evidenciou foi uma espécie de dança do ventre, com laivos de todas as artes e cambiantes sociais. A essa manifestação de mutualismo humano acresceu a solidariedade de quantos ali foram, vendo, ouvindo e partilhando, uma festança sócio-cultural com uma protagonista que foi coroada como «mulher de armas».
Logo na página dos agradecimentos do livro, em que avultam as provas desta heroína das artes que mais contagiam o corpo e adoçam a alma, Gina escreve: «a edição deste pequenino livro fervilhava-me na alma e nas veias que alimentam o meu ser insignificante. A oportunidade de terem nascido de mim três queridos filhotes, adultos, responsáveis, honestos e trabalhadores, honram os ensinamentos que lhes incuti na educação. Tendo sido muito árduo o nosso percurso, desde pequenos, conseguiram captar o espírito de coragem e de luta. A eles dedico minhas palavras, meus poemas, meus sentimentos, minha experiência de vida, minha força, meu exemplo, para tema das aulas na escola da vida».
O Presidente da Câmara de Vila Real abriu a sessão para dar o lamiré da estreante escritora, dizendo que a conhecia bem de perto, desde há muitos anos e que ela era uma verdadeira «mulher de armas». A. M. Pires Cabral, coordenador do Grémio Literário, justificou com esse mesmo epíteto, a abertura desse palco à «Rosa Mãe – Rosa Mulher». Dessa crepitante vocação também nós, na qualidade de editor, nos apercebemos logo que manuseámos as oito telas que «abrem outros tantos capítulos», bastando esse património artístico para demonstrar que Gina é uma autora predestinada, produzindo arte plástica com a mesma fibra com que semeia palavras poéticas.
Seguiu-se a Doutora Elisabete Matos que fez a apresentação da obra, num estilo original, ritmado pela sonoridade cantante, pela harmonia verbal incandescente e pela dicção que só  possui quem dispõe do dom da palavra artística e da riqueza semântica, capaz de prender um público vivíssimo à espera de mais e mais.
Finalmente a Autora explicou por ordem de paginação as oito magníficas telas impressas em papel couché de 150 gramas, a par de trajes pintados artesanalmente, à mão, pela poli-facetada artista que, em noite de casa cheia, se revelou em prosa, em poesia, na pintura, no artesanato e até na arte de bem receber e de bem falar.
Apraz-me dar testemunho desta novel mulher de artes e letras que, depois de doze anos de casamento atribulado e com três filhos a seu cargo se confrontou com um divórcio litigioso. A trabalhar nos CTT e nas Telecomunicações durante 27 anos, entendeu, aos 48 anos de idade, despedir-se desses serviços e frequentar cursos intensivos de psicologia e de filosofia, com o pretexto de se conhecer a si própria. Essa formação prática fez-lhe reconhecer que seria capaz de se gerir a si própria «sem necessidade de ter patrão». É nessa altura que conhece uma empresa Japonesa, vocacionada para exercitar a psicologia e a filosofia de vida que aprendeu, iniciando-se na comercialização de vários artigos ligados à saúde. Em 1992 abre uma clínica na área da saúde, a que dá o nome de Fisimagna, aí tendo investido todo o seu saber, esforço e vontade. Dois anos depois confronta-se com um cancro da mama. E, com tanta coragem lutou que venceu esses dois temíveis flagelos, tornando-se numa empresária de sucesso, ao longo de 22 anos. Mesmo assim, ainda tem tempo para presidir a uma Associação sócio-cultural com o nome de Ecos da Bila, retoma a exibição das marchas populares, executa a sua coreografia, os trajes e até escreve as letras que os artistas populares entoam durante as marchas.
Maria Angelina Pereira é o tipo de mulher Transmontana que não vira a cara à luta. A sua trajectória existencial é longa e diversificada, primando pelas contrariedades que - não fora o seu positivismo e força de vontade - e teria vacilado. Soube enfrentar as contrariedades. Da tristeza fez alegria, na perseguição encontrou coragem, das derrotas construiu vitórias.
Essa Mulher de armas guardou para a entrada na terceira idade o culto e o exercício das artes e das letras. E, reflectindo o seu passado, com a consciência de que educou os filhos para empresários que já são, reconhece que «esta mente que brota da inteligência e determinação para que siga o seu caminho, lhe permitem realçar a beleza com que enxerga as coisas boas e más que a trazem de pé e a ajudam na sua caminhada».

Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net

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