domingo, 30 de junho de 2013

Portugal Lendário» para contrariar um país aborrecido

O escritor José Viale Moutinho afirma que «um país sem lendas é um aborrecimento, é capaz de nem existir», e neste sentido reuniu no livro «Portugal Lendário» lendas de 323 localidades portuguesas.
De Amares a Vila Franca do Campo, o escritor regista as lendas das diferentes localidades, algumas com mais do que uma lenda, como Barcelos que, além do galo que depois de assado cantou e livrou da morte um peregrino inocente, tem também a das três cruzes que é ainda hoje mote para uma romaria que abre a temporada destas festas religiosas no Minho. 
As lendas são apresentadas seguindo a ordem alfabética das localidades onde a sua memória persiste e estas pelas distintas províncias - do Minho ao Algarve -, e regiões autónomas.
Na introdução de «Portugal Lendário - Tesouro da Tradição Popular», Viale Moutinho atesta que Portugal tem «lendas a rodos por toda a parte». 
Para este grande número de lendas não é alheio o facto de Portugal ter «uma História rica em acontecimentos», sendo que «as lendas vivem exactamente disso», isto é, «do desenvolvimento onírico dos acontecimentos».
No caso da Península Ibérica, a ocupação árabe também fomentou a imaginação popular de míticos tesouros e palácios encantados, assim como de «princesas louras».
Outro filão que alimentou a imaginação popular, escreve Moutinho, são os tesouros de piratas, a par das vidas de santos, um rol de milagres e intervenções divinas, contadas de geração em geração durante os séculos.
Para este livro, editado pelo Círculo de leitores, Viale Moutinho contou com as recolhas feitas por Teófilo Braga, Leite de Vasconcelos e Tomás Pires, assim como investigadores locais como João da Silva Correia, de São João da Madeira e Abílio Pereira de Carvalho, de Castro Daire, não excluindo as obras «Romanceiro», de Almeida Garrett e «Lendas e Narrativas», de Alexandre Herculano, mas também com a acção da imprensa, como o caso do Entroncamento.
Segundo Viale Moutinho «o legendário [do Entroncamento] assenta em fenómenos “desenterrados” por um correspondente de jornais que não encontrava notícias para dar, num lugar onde nada parecia querer acontecer».
Deve-se a fama dos «fenómenos do Entroncamento» a Eduardo O.P. Brito, correspondente para todos os jornais de Lisboa, Coimbra e Porto.
«O primeiro fenómeno foi um melro banco» que este «jornalista» descobriu e noticiou, seguindo-se uma galinha com quatro patas, um carneiro com cinco chifres, uma laranja do tamanho de uma abóbora, seguidos de uma «fiada de fenómenos do Entroncamento, que tanto sucesso fizeram em Portugal e lá fora», tendo sido até noticiados no France-Soir.
Defende o escritor que «numa época marcada pela globalização, este livro é, todo ele, uma aventura identitária, que ninguém, e por nenhum preço, nos pode retirar».

in:cafeportugal.net

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