quarta-feira, 25 de março de 2015

FREGUESIA DE CARRAGOSA - BRAGANÇA

HISTÓRIA DA FREGUESIA

«Carragosa é uma freguesia do concelho de Bragança, inserida em pleno Parque Natural de Montesinho e que faz fronteira, a Norte, com Espanha. A freguesia é atravessada pelo rio Sabor e pelo ribeiro das Andorinhas, seu afluente, sendo constituída pelos lugares de Carragosa, Rio Frio e Soutelo da Gamoeda. O seu orago é Nossa Senhora da Assunção.
O povoamento do território que corresponde à actual freguesia de Carragosa é bastante remoto, sendo esse facto atestado na toponímia local que alude a fortificações castrejas, como é o caso de Torre do Castro e Crastelhão. Relativamente ao topónimo principal da freguesia, trata-se de um arcaico de "carregosa", do latim caricosa 
aludindo a uma vegetação própria de terrenos alagados ou alagadiços.
A paróquia é certamente de fundação pré-nacional, estando já instituída do século XII para o século XIII. Inicialmente estaria integrada na de Rio Frio e a ela teria pertencido o "vilar" de Montesinho, de acordo com as Inquirições de 1288. Quanto à "villa" de Carragosa era toda ela foreira à coroa, excepto uma oitava, pertencente à igreja de Santa Maria de Rio Frio. Também o lugar de Soutelo de Gamoeda terá sido uma paróquia independente, cujo orago era S. Pedro. Administrativamente, a freguesia de Carragosa pertenceu sempre ao termo de Bragança.
Do património cultural edificado da freguesia de Carragosa são de destacar: as capelas de S. Sebastião, de Santa Marinha e de Santo António; as fontes de mergulho, os moínhos de água e igreja de Santo António, templo do século XVIII. Também de interesse turístico é a zona de paisagem natural e minas de ferro.
Freguesia de cariz essencialmente rural, Carragosa tem na agricultura a sua principal fonte de rendimentos, com especial destaque para a produção de castanha.»

Fonte: Resumo histórico do brasão.


OS LOBOS DE CARRAGOSA E OS CARVOEIROS DE SOUTELO

«Nada melhor do que começar transcrevendo das "Memórias Arqueológico Históricas do Distrito de Bragança", do Abade de Baçal, uma ou outra referência sobre as aldeias de Carragosa e Soutelo:
"Ao Norte da cidade, nos sitios de Carragosa, Soutelo, Portelo, França e Avelada, toma a rocha uma textura xistosa, apresentando as micra-xistos novaculares, as ardósias, etc(...)".
É um facto que ali se encontram lousas e ardósias em quantidades apreciáveis, sendo usadas nalgumas aldeias para cobertura das habitações.
No mesmo Tomo II e sobre o 30º Bispo de Miranda e 6º de Bragança, D. Joaquim Pereira Ferraz, surge a seguinte alusão religiosa:” No mesmo sentido tem empregado diligências o seu actual sucessor naquele benefício Manuel António Rodrigues, digno sacerdote, modelo de párocos, sobretudo em questões administrativas tendentes, ao engrandecimento da Sua igreja, onde tem realizado melhoramentos dignos de louvor, natural de Soutelo da Gamoeda, freguesia de Carragosa, concelho de Bragança, mas com igual resultado. (…)”
Nesta memorável obra existem outros excertos alusivos às duas aldeias em causa, parte delas a propósito do Mosteiro de Santa de Moreirola (Moreruela), que não cabe aqui citar, dada a sua extensão.
Tanto Carragosa como Soutelo foram bafejadas pela quantidade invulgar de água de nascentes que jorram o precioso liquido, água puríssima de excelente qualidade. O número de habitantes aproxima-se dos 350, estando recenseados 237 eleitores. Não podemos deixar de referir que a Quinta de Carragosa só já tem 2 moradores. Neste domínio, apesar de tudo, o quadro não é muito negro porque a população tem estagnado, havendo na Escola do Ensino Básico 10 alunos (em Soutelo só há 1) e mais de uma vintena a estudar em Bragança, para onde se deslocam de autocarro – 9 Km.
A actividade económica predominante é a agricultura, sendo a grande riqueza da aldeia a castanha, mas cultivam batatas, centeio, aveia, vinha (pouco), e colhem os frutos das macieiras e das oliveiras (azeite). Como abunda água, os inúmeros lameiros estão quase todo o ano verdes e dão muito feno. A nível pecuário, a situação limita-se a uma meia centena de vacas leiteiras e a mais de 1 000 ovelhas e cabras, havendo três boas corriças para as recolher. Toda a gente mata o seu porquito para ter carne durante todo o ano, dado que no porco se aproveita tudo, como é sabido.
Os terrenos de Carragosa e Soutelo confinam com os de Meixedo, Rabal, Espinhosela, Oleiros, Donai, Vila Nova, Terroso, Cova de Lua, Montesinho e França, todas aldeias que pertencem ao Parque Natural de Montesinho. Este facto já trouxe alguns benefícios às aldeias em causa, nomeadamente a ampliação da Casa do Povo de Carragosa, e em Soutelo o arranjo da Capela de S. Pedro, colocação do pelourinho, lavadouro, coreto e arranjo de alguns moinhos de água.
A tradição, o uso, o costume mais arreigado centra-se na arrematação do ramo (23 de Fevereiro), seguido do imprescindível repasto ao fim da tarde. Nota positiva para o facto de ainda haver gente a trabalhar em cestaria em verga, apesar de o grande problema ser a pouca procura destes utensílios de artesanato.
No tocante a festas e romarias, ali celebram, além do orago, Santo António (13 de Junho), S. Pedro (29 de Junho), Nossa Senhora da Assunção (15 de Agosto), e o Sagrado Coração de Jesus, em Agosto.
Em Soutelo existe o Castro em ruínas, de antiquíssimas origens e de onde parece terem surgido as nomeadas aos habitantes das aldeias vizinhas.

Fonte: Freguesias do Concelho de Bragança, de José Augusto de Pêra Fernandes.


LOBOS PORQUÊ?

Diz a lenda que no Castro de Soutelo se instalou uma família vinda de fora. Quando os populares quiseram desalojar os intrusos, estes não queriam sair. Foi então que surgiram pessoas das povoações vizinhas para despejar a família, tendo sido mais aguerridos na investida os de Carragosa, donde terem ficado LOBOS. Dessa época parece ter surgido a cantilena seguinte: “ Pica-burros os de Vilarinho/Cabreiros os de Cova de Lua/Carvoeiros os de Soutelo/Carunheiros os de Oleiros/Burros os de Terroso/Cães os de Meixedo/Passa-pontes os de Rabal/Lapacaldos os de Baçal e Lobos os de Carragosa”.
Esta aldeia a Norte de Bragança está implantada em lugar plano e tem como produção mais rica a castanha. De muitas nascentes e fontes brota água cristalina. A igreja, setecentista, apresenta boa traça e situa-se pouco depois do inicio da aldeia, sede de freguesia. O Grupo Cultural e Recreativo de Carragosa tem tido pouca actividade, tal como a Associação Cultural e Ambientalista de Soutelo da Gamoeda. Tudo se limita à organização de festas, convívios e montarias de javali. No domínio da caça, estamos em presença de uma zona rica, onde há muitos coelhos, lebres, perdizes, javalis e cabras-montês.
Tanto Carragosa como Souselo têm água canalizada, mas faltam os saneamentos, razão pela qual toda a gente tem nos quintais fossas sépticas. Os fontanários em cantaria são quase todos dignos de visita, mas só durante o dia, porque a iluminação nocturna não é famosa. As ruas estão só parcialmente pavimentadas, havendo a promessa de empedrar parte das artérias em falta. A Junta de Freguesia tem feito o possível por dotar as aldeias de melhores condições de vida, nomeadamente através de ofícios e contactos, quer com a Câmara de Bragança, quer com a EDP, quer ainda com a JAE; neste caso, por causa do péssimo estado da estrada chamada de Vila Nova e que os liga a Bragança. A Ponte do Roque é muito estreita e tem curvas acentuadíssimas.
Ninguém melhor do que o povo para dar a conhecer a realidade das suas terras. No entanto, um pouco de investigação histórica complementa a “vox populi”.»

Fonte:Freguesias do Concelho de Bragança, de José Augusto de Pêra Fernandes.

1 comentário: