sexta-feira, 31 de julho de 2015

O sabor das (boas) tradições vai estar em destaque em Macedo do Mato

Miranda do Douro recebeu dois grupos musicais para a abertura do Festival Intercéltico de Sendim realizado anualmente na vila transmontana

Bragança recebeu a 1º Etapa da 77ª Edição da Volta a Portugal em Bicicleta

Mulher de 80 anos violada em Mogadouro

A PJ já deteve o suspeito, de 43 anos, que surpreendeu a idosa na sua casa
A Polícia Judiciária deteve um homem de 43 anos homem suspeito dos crimes de violação e roubo de uma mulher de 80 anos em Mogadouro, distrito de Bragança. 

Em comunicado, a Unidade Local de Investigação Criminal de Vila Real da PJ refere que "os factos ocorreram no dia 26 de Julho de 2015, cerca das 20:45, em Mogadouro, tendo para o efeito o arguido se introduzido na habitação da vítima, uma idosa de 80 anos. Após ter manietado aquela, o arguido violou-a e apoderou-se de uma pequena quantia em dinheiro". 

De acordo com a PJ, "em virtude da resistência da vítima, esta sofreu alguns ferimentos que exigiram tratamento hospitalar". 

Aquela força polícial explica ter contado "com a colaboração dos militares do Posto da GNR de Mogadouro nas diligências efetuadas para a identificação do arguido", de acordo com a Lusa. 

O detido, "sem ocupação laboral, vai ser presente a interrogatório judicial para aplicação das medidas de coação tidas por adequadas".

tvi24

Lenda da Torca de Balmeão

Local: Vilar De Peregrinos, VINHAIS, BRAGANÇA

Junto a um lameiro, no termo de Vilar de Peregrinos, concelho de Vinhais, há um lugar que o povo conhece como a Torca de Balmeão, onde passa um pequeno ribeiro e para onde as mulheres costumavam levar o linho para ficar macio. 

    Diz que, há muito tempo, ficou ali uma moura encantada com um bebé, que muitas vezes se ouve chorar. E também se diz que ela só se livraria do encanto se o bebé fosse baptizado, e que, para ficar baptizado, bastaria que fosse amamentado por uma mulher que também estivesse baptizada. 
    Um dia uma mulher da aldeia foi tirar o linho da laga [local onde o linho fica a amaciar], e deixou ficar o seu menino a dormir à sombra de umas árvores do lameiro enquanto ela trabalhava. Então a moura, que estava à espreita, foi lá e trocou os bebés, ficando à espera que a mulher lá fosse dar de mamar. 
    Dali a nada, a mulher ouvia uma voz que lhe dizia: 
    — Ó mulher do linho, vai Calar o teu menino! 
    Mas ela, como conhecia bem o filho, e como o tinha deixado bem farto, só respondia: 
    — O meu bem calado está! 
    E continuava o seu trabalho sem lhe dar ouvidos. Por fim a moura, cansada de ouvir o seu menino a chorar tanto, voltou a ir lá e destrocou-os. Diz-se que, por isso, ainda lá continua na Torca do Balmeão, com o filho a chorar, à espera de ser baptizado. E também se diz que o som do ribeiro, quando vem mais forte, é o choro do bebé.

Fonte:PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.382-383

A lenda do cavaleiro cristão

Local: Vila Verde, VINHAIS, BRAGANÇA

Quando os Mouros dominavam quase toda a Península Ibérica e batiam já em retirada, a norte e nordeste da mesma, havia um cavaleiro cristão, valente e audacioso. Batalhava com todo o vigor, próprio dos monheses. Nas pelejas mais encarniçadas, saía pela sua argúcia e arte, sempre vitorioso. Isto valia-lhe do comandante das hostes de Santiago, de tempos a tempos, algumas licenças para descansar e recompensar dos excessos das suas bravuras. 

 Como o cavaleiro não era capaz de estar inactivo, aproveitava aquele período de licença, que era um mínimo de seis meses, para ir clandestino à sua terra natal, tendo que atravessar todo o território ocupado pelos sarracenos, desde a costa do Golfo da Biscaia até ao Bairro de S. Miguel, na povoação de Vila Verde do Vez, que naqueles tempos remotos, pertenceu aos donatários de Póvoa Rica (hoje Vila de Vinhais). 
 Escondido e embuçado com trajes regionais daquela época, não se esquecendo do arnês, do escudo e da espada para uma possível emergência, ia passar o tempo que sobejava das viagens de ida e regresso, junto de seus avós, pais e irmãos, ajudando-os nos pesados trabalhos agrícolas, poiso seu mister, antes, depois, e nos intervalos das pelejas, era de agricultor. 
 Ao nascente do referido Bairro de S. Miguel, a cerca de um quilómetro, existia uma torre fortificada, reduto com barbacãs, ameias, fosso profundo a toda a volta, onde segundo a lenda que verbalmente é transmitida de geração em geração, um rei Mouro, dadas as sucessivas derrotas em todas as frentes de combate, resolveu instalar no seu interior a sua filha predilecta, Fátima-Yusef, que nascera da sua principal odalisca. 
 Como séquito, seguiu uma escolta de guerreiros experimentados, cujo chefe estava incumbido de velar pela singular dama que, afinal, era uma princesa de fina estirpe. 
 Pelas redondezas constou logo a chegada da Moura. O Cavaleiro Cristão estava cheio de curiosidade. Por isso, pediu a um dos pastores que apascentava o gado nos terrenos à volta da torre, que lhe emprestasse o capote e o bornal e o deixasse conduzir o gado. 
 Assim fez dias consecutivos ate que conseguiu avistar a dama que assomou as barbacãs e as ameias da torre. 
 Aquela, conforme o viu, ficou extasiada com a beleza do seu semblante, da cor dos seus cabelos louros, dos seus olhos de íris azul-escuro, dos seus gestos e movimentos másculos e sedutores. 
 Ele, surpreendido, ficou mais extasiado ainda, pois estava na presença de uma dama que lhe prendeu todos os movimentos, dada a sua beleza física incomparável. Ela possuía uma tez moreno-trigueiro, cabelos negros, faces um pouco compridas e acarminadas, olhos de íris negro, em forma de amêndoa, sobrancelhas finas e bem arqueadas. Trajava vestido branco de seda rutilante, coberto de jóias, e na cabeça um diadema cravejado de pedras preciosas, tendo ao alto e ao centro, em prata brilhante, a lua em crescente, símbolo da sua religião. 
 O Cavaleiro conhecia perfeitamente a língua árabe (dado o contacto que tinha com aqueles que caíam prisioneiros) mas estava tão perturbado, que não conseguiu dizer, assim como ela, uma única palavra. Estavam enamorados, mas em completa mudez. Ele, por ver na lua em crescente, um credo diferente do seu, e ela, por visto, pela abertura do capote, num movimento fortuito, a sua espada com a cruz formada, símbolo da religião Cristã. 
 Embora em credos opostos, continuavam enamorados e mudos. Os anos passavam-se e ele sempre que tinha licenças, não deixava de visitar os seus familiares e a sua amada.  
 Mas… da última vez que se ausentou, o pastor que tantas vezes lhe tinha emprestado o capote a sacola e o gado, invejoso, traiu-o descobrindo ao chefe dos guerreiros tudo o que se tinha passado e o que ele próprio tinha presenciado. 
 O chefe irritado saiu com os seus homens de armas e chacinou toda a familia do Cavaleiro arrasando todo o bairro de S. Miguel, incluindo a sua capelinha. 
 No regresso a torre o comandante dos guerreiros invectivou a princesa pela sua maneira leviana de proceder, informando-a que ia levá-la ao rei seu pai, e que lhe ia contar tudo o que se tinha passado. 
 A princesa não lhe deu resposta e aguardou a saída com toda a serenidade. 
Porém, na retirada, ao passarem por Pena-Cabreira, a arguta donzela, adiantando-se, escondeu-se num carreiro estreito, abrupto e desconhecido para todos os guerreiros, apanhando-os de surpresa, e, desde o chefe até ao último dos seus guardas, foi-os empurrando para o abismo, com mais de 50 metros de altura, caindo no sorvedouro da cachoeira turbulenta, nas escarpas eriçadas da margem do rio Tuela. 
 Diz a lenda que a princesa, após o lançamento do último guerreiro no abismo, desapareceu na gruta de uma fraga e que ali ficou encantada para sempre pensando no amor perdido do Cavaleiro Cristão. 
 Mais consta que, quando o Cavaleiro voltou e vendo os seus desaparecidos e tudo arrasado, ouvindo o que tinha acontecido, monta num javali, de dentuças saídas no maxilar superior do focinho (parecidas com as defesas de marfim dos elefantes, mas em miniatura). Desditoso, procura por todo o termo, tendo em mente a possibilidade de encontrar a princesa. Em vão vasculhou Penha-Escrita, Matrocos, as grutas de Castrilhão, Rigueiro de Ladrões, o Castro da Ciradelha e depois as fragas cinzeladas em baixo-relevo com as figuras do lagarto, focinho do gato e pata de boi (marcas deixadas pelas legiões Romanas, nas regiões desconhecidas, para orientação do exército atrasado que servia de apoio). Chegou na manhã de S. João à gruta onde lhe pareceu ouvir gemidos longínquos e o chiar de um tear em movimento, na fraga que, depois o povo, passou a chamar da Moura-Encantada. 
 É voz do povo e com muita convicção, que a princesa ainda lá está encantada, e que o Cavaleiro Cristão voltou aos combates, fazendo por morrer, com propósito deliberado, cheio de cutiladas e de glória, no mais encarniçado da luta e que o javali, fiel ao seu dono, continuou à procurada Moura, ficando por fim petrificado no alto do Castelar, a olhar para a Fraga da Moura Encantada, que se encontra lá no fundo, entre a Torre e Pena-Cabreira. 
 Na verdade, lá está (para autenticar em parte a lenda), ao sul da Costa, no lugar de Castelar, uma pedra que, vista à distância e do local onde existiu o Bairro de S. Miguel, com o formato de um javali. 
 No sitio onde foi o referido bairro; são agora umas cortinhas, onde se encontram muitas pedras miúdas (por as grandes terem sido baldeadas), existindo ainda o caminho que formava a rua do antigo bairro. 
 As pirâmides de cantaria da capelinha, resistiram à erosão e estão colocadas na portada do actual cemitério assim como alguns perpianhos. 
 Por ter fendido, a sineta que existiu até ao ano de 1677, foi refundida naquele ano, encontrando-se até há pouco tempo, no campanário da igreja paroquial de S. Miguel, cujo orago é o nome cristão da freguesia de Vila Verde, que é composta por Vila Verde e Prada, tendo a sineta aquela data timbrada. 
 Os rapazes, mantendo a tradição, continuam na noite de S. João, a «roubar» todos os asininos existentes no povoado, montando-os em pêlo, seguindo o itinerário percorrido pelo javali e o Cavaleiro Cristão, tomando as orvalhadas e a ir escutar a Moura a tecer no tear de ouro maciço, depois de prenderem pela arreata, a coluna de burros, à volta dos restos onde existiu a antiga torre, que os vândalos desmoronaram, só deixando umas pequenas paredes, na miragem de um suposto tesouro. Lastimamos profundamente que assim tivesse acontecido, pois teríamos um valioso tesouro arqueológico para estudar, embora na parte existente, haja um laborioso trabalho a encetar. 
 Presenciamos, no silêncio de uma manhã de S. João, juntamente com os companheiros de juventude, de ouvidos postos na entrada da estreita gruta, que atravessa a fraga, um chiar e martelar, que mais parecia um eco remoto, igual ao bater dos pedais e movimento dos pentes e lançadeiras dos teares de madeira, ainda hoje existentes na povoação, e, que a voragem dos tempos, não conseguiu subverter. 
 A tradição continua todos os anos revivida na noite de São João pela juventude sonhadora e irrequieta do povoado.

Fonte:AFONSO, Belarmino Raízes da Nossa Terra Bragança, Delegação da Junta Central das Casas do Povo de Bragança, 1985 , p.100-103

Estudo sobre origens moncorvenses de Borges já se iniciou

O processo de investigação das raízes transmontanas do escritor argentino Jorge Luís Borges já se iniciou.
O protocolo foi assinado entre a embaixada da Argentina e a autarquia de Torre de Moncorvo, de onde se acredita que será originário o bisavô do escritor sul-americano. Os estudos vão ser coordenados pela Universidade Nacional de San Martin, na Argentina, e elaborados em colaboração com o município moncorvense.
De acordo com o embaixador da Argentina em Portugal, Jorge Arguello, será “uma pesquisa que levará algum tempo, mas passo a passo vai cumprir-se este objectivo”. “Tenho a expectativa de que antes do final do ano possamos ter as primeiras conclusões definitivas”, salienta. 
A investigação vai realizar-se do lado português, de forma a averiguar se Francisco Borges, o bisavô do escritor, partiu de Torre de Moncorvo rumo à Argentina. Uma pesquisa que vai ser desenvolvida por funcionários do município, nos “arquivos militares e de igrejas e hospitais em Portugal”. 
De acordo com embaixador Argentino, o estudo sobre as origens de um dos maiores nomes da literatura mundial, que fez parte do “boom” literário latino-americano, iniciado nos anos 60, deve ter “um impacto positivo, em termos jornalísticos e culturais”. “Os intercâmbios culturais entre os dois países vão ser muito reforçados”, acredita ainda Jorge Arguello. 
Jorge Luís Borges nasceu na Argentina em 1899 e, apesar de nunca se ter apurado com certeza, reconheceu as suas raízes transmontanas. Falta agora comprovar se as suspeitas do escritor argentino se confirmam. 
A investigação vai ser financiada em conjunto pela universidade argentina e o município de Torre de Moncorvo. 

Escrito por Brigantia

Volta regressa a Bragança em 2016

Bragança recebeu, ontem, o final da primeira etapa da Volta a Portugal em Bicicleta, e o regressa está já garantido no próximo ano.
A cidade regressou em 2015 ao mapa da competição, 15 anos após a última passagem, e os brigantinos compareceram em peso para ver aquela que é considerada a prova rainha do ciclismo nacional. 
O percurso de 196 quilómetros, o maior da competição, começou em Pinhel e consagrou Vicente de Mateos. O espanhol foi o vencedor da etapa. 
Mas, o ciclista mais esperado na meta foi Ricardo Vilela.
Além do gosto pela modalidade houve o interesse extra, pela participação de Ricardo Vilela. 
O ciclista da Caja Rural chegou à terra natal na 33ª posição e ocupa o quinto lugar na classificação geral. Cansado Vilela disse-se “emocionado com o apoio dos brigantinos” e falou da sensação de chegar a casa. Para Hernâni Dias, presidente da autarquia, o regresso da volta à cidade foi uma boa aposta, quer pela questão desportiva quer pela promoção do concelho. “Toda a envolvência que estamos a viver, acaba por ser muito positivo para a cidade, com a promoção da cidade”, refere. 
A autarquia já garantiu mais uma etapa de chegada no próximo ano. A volta continua esta sexta-feira em Trás-os-Montes. 
De Macedo de Cavaleiros parte a segunda etapa, ao 12h30. Os ciclistas chegam a Montalegre às 17h20, depois de um percurso, de 176 quilómetros, que contempla passagens por Mirandela, Valpaços, Chaves e Boticas. Tem três metas volante e três prémios de montanha. 

Escrito por Brigantia

Eco-Solidário com campanha de recolha de roupa de homem e rapaz

O Eco-Solidário de Macedo de Cavaleiros lança, durante o mês de agosto, um campanha de recolha de roupa de homem e rapaz. Uma campanha que apela ao espírito solidário de cada um, para ajudar quem mais precisa.

A campanha vai decorrer entre o dia 1 e o dia 31 de agosto, com pontos de recolha na Câmara Municipal, Piscinas Municipais, Centro de Saúde e Supermercado Intermarché.

O Eco-Solidário da Câmara Municipal é um projeto da Câmara Municipal, instalado no Mercado Municipal, loja 47, com roupa, calçado, brinquedos e outros artigos de casa, que nestes primeiros 7 meses do ano, já atendeu às necessidades de 300 famílias do concelho.

Festival Intercéltico de Sendim mistura música com livros

Música e livros são uma mistura apetecível, um doseamento perfeito de iniciativas culturais para quem durante este fim-de-semana se deslocar até ao planalto mirandês, mais concretamente até à vila de Sendim, onde decorrerá a 16.ª Edição do Intercéltico local.
A 16.ª Edição do Festival Intercéltico de Sendim, que vai decorrer de 30 de Julho a 2 de Agosto, em Miranda do Douro e Sendim, incluirá no seu programa deste ano o lançamento de 3 livros, todos sob a chancela da Âncora Editora.

“L’Eiternidade de las Yerbas | A Eternidade das Ervas – Poemas (es)colhidos”, de Fracisco Niebro, com Aguarelas de Manuol Bandarra, “Que é feito do Pastor João?”, de Mário Correia e “A Alma da Gaita-de-Foles Mirandesa - Palhetas e Palhões", de Henrique Fernandes, são as três obras a lançar durante o evento que deverá atrair milhares de pessoas até ao Planalto Mirandês durante o fim-de-semana que hoje se inicia.

Já amnhã, sábado, pelas 14:30 horas, na Casa do Pauliteiro, em Sendim, será apresentado o livro “A Alma da Gaita-de-Foles Mirandesa” de Henrique Fernandes. A apresentação e sinóptica será feita por Mário Correia que também é o programador do festival. “A Alma da Gaita-de-Foles Mirandesa” reúne, num só livro, todo o processo de construção, manutenção e informação da palheta, e do palhão, artefactos nobres que dão vida e beleza à gaita-de-foles.

Ainda no mesmo dia, pelas 17:00 horas, será apresentado na Casa da Cultura o mais recente livro de Amadeu Ferreira, intitulado “L’Eiternidade de las Yerbas | A Eternidade das Ervas Poemas (e)scolhidos” de Fracisco Niebro, com aguarelas de Manuol Bandarra. Trata-se de um desejo de Amadeu Ferreira, com uma selecção de textos feita por si, entre as obras publicadas e inéditas, de Fracisco Niebro.

A terminar esta sessão cultural de lançamento de livros de autores e temas relacionados com o planalto, será também feito o lançamento do livro “Que é feito do Pastor João?”, de Mário Correia. A obra será apresentada pelo próprio autor que nos oferece uma novela histórica cuja acção decorre em 1941 em terras de Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo e que é baseada em factos verídicos.

in:noticiasdonordeste.pt

Problemas com mapa judiciário geraram aumento de pendência nas comarcas do Norte

 As comarcas da área da Procuradoria-Geral Distrital (PGD) do Porto registaram um "ligeiro" aumento de pendência, no âmbito da investigação criminal, entre setembro de 2014 e junho de 2015, por causa dos problemas de adaptação ao novo mapa judiciário.
Os dados divulgados na página da PGD do Porto na internet dão conta que a taxa de resolução processual naquele período foi de 0,95, um resultado que se fica a dever ao facto de o número de processos entrados (163.562) ter sido superior ao número de processos findos (155.839).

"Constata-se que foram os valores anormalmente baixos do primeiro quadrimestre do ano judicial (setembro a dezembro de 2014), nas grandes comarcas de Aveiro, Braga e Porto, que influenciaram de modo decisivamente negativo o valor global final", indica a nota.

A PGD do Porto realça que foi neste período que a prestação funcional do Ministério Público (MP) se viu confrontada com "graves problemas de operacionalidade" do sistema informático Citius, adiantando que estes valores, nos períodos seguintes, retomaram a normalidade.

Entre as sete comarcas da área da PGD do Porto, só três (Bragança, Viana do Castelo e Vila Real) registaram uma taxa de resolução superior a 1,00 (100%).

Na análise da duração média dos processos, verifica-se, com exceção da Comarca de Aveiro, que os congestionamentos iniciais foram progressivamente assimilados, apresentando a região, em 30 de junho de 2015, uma duração média dos processo de inquérito de 116 dias, menos 33 dias do que no final de 2014.

As comarcas pertencentes à área da PGD do Porto registaram ainda uma taxa de eficiência global, que mede a capacidade dos tribunais para enfrentar a procura, de 70,21, superando o valor de 63,54 alcançado em 2014, no distrito judicial do Porto.

"A diminuição dos processos mais antigos foi determinante para alcançar estes resultados, sendo de salientar o trabalho desenvolvido para finalizar os processos de inquéritos antigos e pendentes há mais de oito meses", refere a mesma nota.

A PGD do Porto destaca ainda que dos julgamentos realizados, 85,09% terminaram com condenação, um resultado que espelha "o bom trabalho desenvolvido pelo MP, e pelos órgãos de polícia criminal por si dirigidos, na investigação criminal".

Salienta ainda que as comarcas da PGD do Porto mantiveram um "muito elevado" nível de utilização das formas processuais simplificadas, nas quais se incluem a suspensão provisória do processo, os processos sumário, abreviado e sumaríssimo e o arquivamento com dispensa de pena.

A PGD do Porto abrange as comarcas de Aveiro, Braga, Bragança, Porto, Porto Este, Viana do Castelo e Vila Real.

JYDN // JGJ
Lusa/Fim

“Fases Dum Percurso..”, Levi Guerra Expõe na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues

Vai estar patente a partir de 4 de agosto, na Galeria de Exposições Manuel Cunha, da Casa da Cultura Mestre José Rodrigues de Alfândega da Fé, a mostra “ Fases dum Percurso..” da autoria de Levi Guerra.

Trata-se de uma exposição de pintura, que reúne obras de um artista que se define a si próprio “como um médico que pinta há mais de 30 anos”. 

Levi Guerra nasceu em Águeda em 1930, é médico, investigador, professor universitário e artista plástico. Foi Prémio Nacional de Saúde 2013 é co-fundador e Presidente da Direção do Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes, no Porto, também fundador e diretor dos Arquivos de Medicina, Revista de Ciência e Arte Médicas, até 2000. Com cerca duma centena de publicações científicas, dezassete exposições individuais de pintura, mais de três dezenas de coletivas, dois livros de poesia publicados e co-autor do livro “O Rim Artificial. Uma história de afetos”. 

A exposição pode ser visitada até 4 de outubro. A entrada é livre.

Tempo de malhadas - 1975


1765, Bragança, Janeiro, 2. – Pastoral do bispo D. Frei Aleixo de Miranda Henriques contra os eclesiásticos que favorecem o contrabando de sabão.

Dom Frey Aleyxo de Miranda Henriques da Sagrada Ordem dos Pregadores por merce de Deos e da Santa Sé Apostolica Bispo de Bragança [sic] e do Conselho de Sua Magestade Fidelissima.


Fazemos saber a todos os reverendos beneficiados, e mais pessoas eclesiasticas de qualquer qualidade e condição que sejão desta nossa diocese principalmente da cidade de Miranda e sua comarca, que por parte do contratador do sabam da mesma cidade foi requerida ao nosso reverendo doutor provisor huma ordem geral para dar varejo por seus oficiais nas casas dos eclesiasticos que lhe pareçesse como fundamento de que em algumas delas se recolha sabam castilhano, e os contrabandistas dele para dahi o passarem a outras pessoas em prejuizo do contrato e suposto que disto não temos outra noticia mais que a do mencionado requerimento participada pelo dito nosso ministro, o qual para lhe deferir mandou que individua-se as pessoas, transgressores ou cumplices no referido contrabando, e as causas de suspeita, porque sem averiguação destas sem aquela individuação era impraticavel a ordem pertendida menos justa e exposta as desordens que custumam resultar de semilhantes ordens gerais sendo executadas por pessoas de menos inteireza contudo porque desejamos muito que nossos subditos se comformem com as leis de Sua Magestade Fidelissima e condiçois do referido contrato e vivão em prefeita observancia dellas por evitarmos o escandalo que do contrario resulte e prejuizo dos contratadores; ordenamos e mandamos que nenhuma pessoa eclesiastica desta nossa diocese onde se acha vedado o sabam castelhano ou por si ou por outrem de seus domesticos do tal sabam, nem os consinta, que em sua casa se recolha ou os contrabandistas dele, nem pessoas que para isso concorrão de modo algum, pena de coarenta cruzados pagos do aljube para as despesas e a terça parte para o denunciante, alem das mais que pelo caso mereçer conforme o direito e poderão ser admettidos a denunciar perante os nossos menistros os proprios guardas e officiais do contrato aos quais se lhe dara a ordem para o varejo despois da denuncia coando pareçer necessario para prova dela para que deste modo melhor se conserve imdemne o dito contrato e surta o devido effeito esta nossa detriminação; e mandamos outro sim aos reverendos parochos com pena de suspensam publiquem esta a seus fregueses a estação da missa conventual de hum domingo, ou dia santo primeiro despois da entregua e a registem nos livros para isso deputados, do que passarão certidão e a farão remeter depois disso no preciso termo de vinte e coatro horas aos parochos, que se siguerem pela ordem do roteyro junto.


Dada em Bragança sob nosso signal e selo de nossas armas ao 2 de Janeiro de 1765.
Dom Frey Aleyxo Bispo de Miranda

Pastorais dos Bispos de Miranda do Douro e Bragança

Publicação da C.M.B.

Torneio de Mouras

Local: BRAGANÇA

No fundo de um valle de Trás-os-Montes corre, entre choupos esguios como galgos, um rio manso. Mergulham nas aguas as rodas de madeira das azenhas, que gemem e suam a levar a agua ás terras de milho. A’ noite, ao luar, o rio é a distancia um espelho limpido, que Deus pôs na face da terra, para a lua se vêr nelle. 

 Foi ahi que, certa madrugada, se encontraram algumas Mouras encantadas, — que ellas tambem viajam nestas bemditas bellezas das terras de Portugal. Viram de longe aquelle maravilhoso lençol de rio, onde se deitava o luar; para lá foram. Corriam para lá, como as borboletas vôam para a luz. Umas eram louras e brancas como açucenas, outras morenas e frágeis como certas tulipas de porte airoso; todas tinham a belleza dos encantos e a mocidade clara das bellezas eternas. 
 Sentaram-se na relva, depois de se mirarem no rio. Desprendidos os cabelos poisavam-lhes nos hombros. Depois de rirem muito, e depois de jogarem as prendas e os disparates, que seriam estrellas baloiçantes nos labios d’ellas, puseram-se a contar historias dos seus encantos. 
 — Conta primeiro tu a tua historia, Flôr da Aurora.

*

 A esta ordem, que lhe deu a branca Borboleta de Sol, contou Flôr da Aurora a sua vida.
 — Sou da terra das amendoeiras sempre em flor, onde o sol é de ouro num ceu de damasco azul, — disse ella, e principiou a narração.
 O pae era velho, mouro de raça que muito lhe queria, juntando ao amor de pae a altiva dignidade de sua raça.
 Ella, muito nova ainda, era muito amiga do pae e fazia por elle quanto lhe mandasse. Mãe, não a conhecera nunca; faltava-lhe esse amôr, que, por milagre especial, transforma um mundo em um valle de encantos.
 Veio uma noite, noite tremenda, que, já tão longe, lhe mettia ainda um mêdo horrivel. Estava escura como um sonho. Ao andar, quando os pés tocavam o chão, a terra vacilava nos seus fundamentos. Respirava-se com mêdo aquelle ár em que se não via nada; os olhos iam abertos na sombra do nada cégos com vista que não apurava objectos. No céo não havia uma estrella. O mundo era uma solidão escura. A Moura sentia a vida, porque o pae a levava pelo braço. Tropeçavam a cada passo.
 O seu velho pae conduziu-a pela beira de um regato, que ela ouviu borbulhar no fundo macio do leito. Perto do sitio onde pararam, a agua batia contra o pilar sobrevivente de uma ponte, que os Mouros tinham construido; lamentava-se o ribeiro, ao desviar-se das pedras duras do pilar. Como se a agua se acendesse, no contacto de gotas a chocar contra tantas outras gotas, a Moura viu o rio encher-se de reflexos. Ela então fallou, dirigindo-se ao pae, ternamente.
 — Que me quereis, meu Pae, que a tão sombrio lugar me trazeis! Tenho medo. Sinto-me tremer. Não sei o que adivinho, que receio negro me invade e me faz tremer! 
 Respondeu-lhe o pae, depois de fazer parar a filha junto de uma larga chapada de matto, que sahía da terra em um maciço compacto e negro. A voz do velho era tremula de commoção, e maior temor produziu no espirito da filha.
 — Vaes aqui ficar, meu Amor, meu unico Amor, vida da minha vida. Allah o quere e eu lhe obedeço. Lembra-te sempre do que deves ao nome e á honra de teus antepassados. Ficarás aqui, até que o matto, onde estamos e te vou deixar, seja roçado O matto será cortado. No mesmo chão será feita uma plantação de oregãos. Os oregãos serão corta dos e arrancados. Uma vinha os substituirá. E a vinha envelhecerá. Até que um dia, já são velhas as vides que nem fructo darão, serás desencantada. Voltarás nesse tempo aos aduares dos teus antepassados, onde te esperaremos, como as mães esperam impacientemente o filho que vae nascer. 
 A Moura chorou muito. Nunca o céo chorou em chuva o que os olhos da Moura encantada choraram de lagrimas desoladas e dolorosas, nas sombras tumulares de aquella noite. O pae apertou-a mais uma vez contra o coração e desappareceu na treva nocturna, sem que dia o podesse reter no derradeiro abraço. 
 — Pae, pae, — bradou ela com desespero, e só lhe respondeu o murmurio das aguas do ribeiro, a seus pés. A noite fechára-lhe toda a vida passada, num tumulo de trévas densas.
 E desde então vive, até que a prophecia paterna se cumpra, na solidão poetica de aquelles contornos. 
 — Um dia, — disse ella, — preguei uma boa partida a uma velhota. Passava por alli, nos sittios por onde eu vagueava; pedia esmola, com um ar muito recolhido, uma alcofa na mão tremula. 
 A Moura tinha estendido ao pé do velho pilar da ponte, onde o rio cantava canções choradas, uma esteira de figos a seccar ao sol. Admirou-se a velhota. 
 — Ora esta! — dizia. — Como se comprehende isto! Nem é tempo de figos, nem por aqui sequer figueiras ha! Eu já vou vêr se isto é a sério. 
 Approximou-se da esteira, curvou-se e tirou um punhado de figos. Vendo-os bons, metteu-os na alcôfa e pôs-se a caminho. Mais adeante apeteceu-lhe comer um figo, e qual não foi a sua surpresa, quando, ao metter a mão na alcofa, encontrou bellas moedas de ouro. 
 — A velha voltou atrás, — concluia a Moura, — arrependida de ter tirado tão poucos figos. Em breve a vi apparecer outra vez ao pé do pilar. Mal tinha desapparecido a esteira. Eu apressei-me a escondê-la. E a. vélha fez uma cara de mascara zangada. Ri como um estorninho.

*


 A roda das Mouras coroou a historia de Flôr da Aurora com uma gargalhada feliz. Riu com vontatade. E disposeram-se todas ellas para ouvir mais contos.


*


 — Tambem eu tenho uma partida como essa,— exclamou de um dos lados Vespa do Luar.

 — Conta, conta, — bradaram todas para ella.
 — Não ides rir, — consentiu Vespa do Luar, — como ristes com a graça de Flôr da Aurora. Mas vereis que foi uma boa pirraça. 
 Esta Moura vive o seu encanto pelas serras. Anda sobre os penedos como esbeltissima cabra montês. Ha por lá velhas ruínas de povoação extincta, escondidas no carrasco e na urze; o alecrim aromatiza o ar. Vespa do Luar passa por essas reliquias, sem lhes tocar, comprazendo-se de as sentir alli escondidas num esquecimento do tempo e numa ignorancia de lugar, com que comparava o seu encanto. 
 Um dia appareceu por alli uma rapariga. Era pobre boieira, guardadora de uma só vacca. Alli foi levar o animal, áquelle pasto perfumado, onde se devia de dar bem. Era engraçada a moça! Uma cára de personagem de Murillo, vestida num manequim de presépio, e animada com a alegria risonha e cantante de creança de mimo e de saude. Cantava e fazia meia, emquanto a vacca pastava; tudo porém deixava para perseguir uma borboleta ou uma libellula colorida. 
 Uma occasião faltou o leite á vacca. A boieira já não cantava; andava triste como a lua. A Moura teve pena da rapariga, e foi-lhe fallar, quando, sentada numa pedra, pensava ella com desalento na sua pouca sorte. 
 — Que tens tu? — preguntou-lhe Vespa do Luar, poisando-lhe a mão no hombro. A rapariga assustou-se, pois não esperava ninguem alli, e, muito admirada por vêr na sua frente uma senhora tão linda, pôs-se de joelhos, a adorá-la. 
 — Ergue-te e ouve, — disse-lhe com meiguice a Moura, — ninguem te faz mal, nem eu sou divindade, para se adorar. 
 Levantou-se a rapariga, muito receosa, olhando, sem pestanejar nem comprehender, a Moura que lhe fallava. 
 — Olha: tu vês aqui estas tesouras, não é verdade? São de ouro, repara bem. São bonitas, pois não são? 
 — São, sim, senhora, — respondeu a boieira. 
 — Pois bem, — propôs Vespa do Luar, — qual é mais bonita, sou eu ou as tesouras? 
 — Lá isso, — hesitou a rapariga, — Vossemecê é bonita, sim, mas... desculpe... as tesouras ainda o são mais. 
 — Gostas então mais das tesouras? Dize. 
 — Não se zangue commigo. Mas eu gosto muito, muito, das tesouras. Gosto mais das tesouras, explicou a boieira. 
 A Moura deu-lhe um presente e mandou-a embora. Cahia a tarde, e o ar esfriava. A boieira viu o presente e aceitou-o com satisfação. 
 — Guarda-o como recordação, — recommendou-lhe Vespa do Luar. 
 Foi-se a moça, a caminho de casa, tangendo a vacca. A certa altura olhou para trás, a espreitar se a Moura a veria ainda. Ia cheia de curiosidade, por descobrir o que era aquelle presente, offerecido pela desconhecida. 
 Como já não avistasse a Moura, tirou-o da bolsa, em que o mettera, e vira que eram carvões. Enraivecida aquella alminha simples, que parecia feita de mansidão, atirou com os carvões ao chão. Ao baterem na terra tilintaram, o que muito admirou a boieira. Procurando ella os carvões, já os não viu, e observou que se tinham transformado em moedas de ouro, a reluzirem ao sol pallido. 
 — Ai que era ouro! — exclamou ella, abaixando-se a apanhá-las. Mas de novo se transformaram em carvão, e uma gargalhada de troça lhe respondeu no meio das ruínas, onde crescem a urze e o carrasco, e perfuma o alecrim. 
 — A tola despresou o presente, porque o viu humilde como ella era; lançou-o fóra por inutil, perdeu-o, — explicou a bom rir Vespa do Luar.

*


 — Historias de mal agradecidas essas! Quantas cobiças, como essas, perdem os homens pelo mundo fóra! Ora vou contar-vos uma das minhas, em que entram figos como na tua, Flor da Aurora, e ouro fino como no conto das nossas duas manas.. Não falta a ambição, —discursava Fatima. 

 — Que a todos perde, — exclamou Rosa do Valle-Claro. 
 — Quem tudo quere, tudo perde, é a lei, — fallou do lado Estrella do Cannavial. 
 — Nem mais, nem mais, — disseram quasí à uma todas as Mouras presentes. 
 — Escutae, — pediu Fatima, — lá na Serra da Estrella... — e, interrompendo-se: — não sei se lhes contei já a minha historia! 
 — Conte, conte, mana, — reclamaram algumas das mais attentas. 
 Fatima contou o seu encanto. Os palacios de seu pae tinham o esplendor das mais bellas côrtes da Hespanha, onde elle occupava o prestigio de um dos mais notaveis reis da Mourama. Rei poderoso, gostava do luxo oriental, e com requintes offerecia as suas festas. Foi em uma diversão dessas, quando o enthusiasmo excitava mais os espiritos, que os Christãos atacaram o castello real. 
 A surpresa foi fulminante; a azafama, em que todos se envolveram, fez-lhes perder tempo e acção. Defenderam-se brilhantemente os guerreiros do burgo mouro, aos quaes o proprio Rei deu exemplos de valentia heroica. Mas a surpresa foi tremenda e os Christãos eram muitos; os Mouros tiveram de ceder. 
 O Rei conseguiu fugir com a sua filha e alguns thesouros. Por isso ella estava alli a contar este episodio da sua vida. 
 Andaram, andaram sem cessar. Os chapins de Fatima desfizeram-se nas pedras dos caminhos; ia fatigada, quasi desfallecida. Amparava-a o Rei, cheio de compaixão com a sua alma generosa de pae. Seguiam-nos os poucos fieis, que conseguiram acompanhar o seu soberano, mas tão derreados a caminhada os levava, que elles arrastavam-se desencorajados. 
 De subito abriu-se um portico, deante do Rei e de Fatima. A hera descia aos festões pelas columnas de marmore, imprimindo o ar magestoso e soberbo de reposteiros senhoriaes. Para lá estendia-se um caminho ladeado de ciprestes aprumados; o chão estava calçado de pedras finas, que brilhavam como um céo de estrellas mui juntinhas. Creou animo todo o grupo de fugitivos, a quem nasceu uma alma nova. 
 Entraram o portico e pisaram essa avenida luminosa, cada vez mais surprehendidos; mas a surpresa subiu de ponto, quando ao fim pararam num arco deante de palacio extraordinario, admiravel de riqueza e de estylo. O luxo ressumava de toda a parte, como o fructo maduro e cheio de sol. As portas abriram-se e aquella gente, — o Rei, Fatima e a comitiva, — entrou. Conforto de prazeres do luxo, grandesa, em tudo se mostrava e a todos extasiou. 
 —A minha senhora espera-vos para vos receber, Grandesas, — e o creado, que veio annunciar a recepção, curvou-se com ceremonia, indicando o caminho. 
 — Sois vós! — bradou uma Dama de grande estado, vestida de branco, e de bom semblante, e ergueu-se do sólio, onde aguardava os visitantes. 
 Fatima correu de braços abertos para ella e beijou-a com amizade respeitosa. 
 — Sabeis quem era? — perguntou Fatima ás outras Mouras, que a escutavam.
 — Dizei.
 — Pois era minha madrinha, a Fada Bondade.
 O palacio estava escondido aos olhos de toda a gente, e só os bons e os infelizes tinham o condão de o encontrar, ainda assim nos dias em que precisasse de auxilio, porque a fada os protegia. Nesse conforto delicioso e bom se conservaram todos por alguns dias, o tempo necessario para descansarem, porque não podiam lá ficar, excepto Fátima, que, protegida pela madrinha, ficou até os Mouros voltarem um dia a Portugal.
 — E’ este o meu encanto. Só de noite sáio do palacio da Fada Bondade. E lá estarei até meu Pae voltar.
 Uma lagrima de saudade cahiu-lhe pelas faces, e brilhou como estrella que foge. Reagiu e, com um sorriso, disse:
 — Agora vêde como faço ás vezes as minhas pirraças.
 Um dia approximou-se do sitio, onde Fatima estava, uma boa mulher. Passava por alli para ir á povoação vizinha. Sentou-se, cansada como ia, e pôs-se a comer um pedaço de pão. Fatima conhecia-a, pois recompensou-lhe os actos de bondade que praticava, e compadeceu-se de a ver alli cansada e pobre, A mulher, olhando despreoccupadamente para o lado, deparou com um estendal de figos seccos. Procurou o dono, sem o encontrar; e, convencida de que não pertenciam a ninguem, estando para aquelle logar abandonados, decidiu-se a encher de elles um cesto que trazia. 
 Depois seguiu caminho. Quando chegou a casa, foi buscar os figos ao cêsto. Mas, — oh surpresa! — era extraordinario! O cêsto estava cheio de pedras preciosas, de peças de ouro, uma fortuna que a tirava de miserias e ajudava a praticar as suas obras de caridade. 
 Não se contentou de tamanha riqueza. Comprehendeu que havia milagroso favor, que tinha transformado os figos seccos em ouro e joias. A ambição começou a roê-la, quís mais. Não lhe chegava aquelle thesouro já fabuloso, a ella que, antes de sahir de casa, era pobre, extremamente pobre. E foi á Serra procurar o resto dos figos, afim de os levar consigo para casa. Mas estes tinham desapparecido. Então, ao chegar ao local, onde os vira, ficou aterrada ao ouvir uma gargalhada escarninha, e uma voz que lhe cantou com ironia:

Era teu tudo o que viste; 

Agora tornaste em vão! 
Não te perdeu a pobresa; 
Póde matar-te a ambição!

 A mulher fugiu, assustada; na precipitação da fuga, ia cahindo aos trambulhões pela serra abaixo, e chegou a casa moída. 

 — Não quis tirar-lhe o que lhe dei, — concluiu Fatima — deixei-lho, que, para castigo, já tinha a sua conta. E eu gostei de dar uma lição, pagando-a com um favor. Dei-a e paguei-a. Só a cara da mulher quando deu pelo desapparecimento dos figos, que não levou! E os saltos de pélla, que dava, enrolada, pela serra abaixo!

*

 — Cara por cara, vou contar-vos o que vi a dois rapazes, com quem um dia m encontrei, — disse Branca de Leite.
 Um dia, Branca de Leite encontrou dois rapazes estendidos no chão, á beira de um rio. Era verão, o calor suffocava, e elles iam tomar banho, mas, como estivessem cansados, deitaram-se a dormir. Moura não os via e quasi tropeçava num de elles; ambos pareciam adormecidos já; no entanto, este que estava mais proximo da Moura, sentiu passos e abriu os olhos. Viu então uma rapariga formosa, que o fitava com uns olhos profundissimos, dolorosos como luz forte; contra o peito apertava um guarda-joias, como quem traz coisa de especial estimação. O rapaz, de tão assustado que ficou, lembrava-se de acordar o companheiro, mas a Moura dissuadiu-o.
 — Não o chames, — disse-lhe Branca de Leite,— não acordará, emquanto eu estiver aqui.
 Branca de Leite contou ao rapaz o seu encantamento O pae era um rei mouro, muito rispido e mau. Tinha ella um primo a quem queria muito, desde pequeninos os dois. Certo dia, o primo foi pedi-la ao pae, para casar com ella. O Rei barafustou encolerizado, negando o consentimento pedido. Ella, por sua conta, declarou ao pae que não casava com outro, fosse quem fosse; e o pae castigou-a, encantando-a em cobra. 
   Queres-me desencantar? — preguntou ao rapaz. 
 Estáva luxuosamente vestida. Dir-se-hia que fazia horas para um serão nos paços do senhor Rei, seu pae. Cercava-lhe o pescoço um grande collar de ouro, que lhe cahia a meio do peito, pesadamente. Ella devia de apparecer em forma de touro, que iria contra o rapaz, sendo necessario que elle não tivesse medo; depois, appareceria como cobra enorme a tentar comê-lo e não podia elle fugir, nem mostrar mêdo, se deveras lhe quisesse quebrar o encanto; pela terceira vez... 
 — Pela terceira vez, volto na figura de uma menina de dezoito annos, — explicava a Moura, —beijo-te na testa, e entrego-te esta caixa e todas as joias. Serás o homem mais rico do mundo, e eu ficarei livre. 
 — E, se tiver medo do touro e da cobra? — preguntou o rapaz. 
 — Redobras o encanto. 
 Calaram-se os dois. Por fim a Moura, depois de tentar sugestionar o moço com os attractivos da belleza e da ambição das riquezas promettidas, indagou de elle:
 — Não me respondes? 
 — Não tenho forças para tão grande façanha, — respondeu elle, e, ao olhar para o companheiro que se movia, perdeu a Moura de vista, sentindo-a mergulhar no rio.
 Estranhou o dorminhoco as feições alteradas do outro. Ahi entra este a contar a apparição da Moura e aquelle a rir-se, não acreditando. Um a rir-se, o outro ainda excitado pela conversação da Moura, foi um dialogo de caretas impagaveis.

*


 — Não fiques sem resposta. Que a historia do leão se deu commigo tambem. Eu tenho de ser desencantada por um homem, que não receie o leão que o ataque.

 Fallava agora Lyrio da Fonte.
 Estava encantada em um jardim, guardada por um leão. Um dia, pediu a um poeta, que colhia flores naquelle jardim, que a livrasse do leão. Não o receasse. Accedeu o poeta, mas, quando o leão se dirigiu a elle, primeiro de rastos, depois avançando com nobresa, de cabeça alta, a dentuça toda em arreganho sumiu-se por encanto, e o leão, saltando sobre a presa, bateu contra a parede a que o homem se encostára, ao recuar.
 Ella tinha dito ao poeta que, ter medo, era ser devorado.
 Ao vê-lo recuar, teve-o por perdido. Ficou admirada de o vêr desapparecer, quando o leão o ia tragar. Curiosamente, procurou, e descobriu que elle tinha fugido de gatas e se escondera detrás de uma açucena secca.
 — Se o homem tem coragem, volta atrás e dá cabo do leão. Este, ao dar pelo facto, apesar da dôr que lhe causou o choque na parede, riu tanto, tanto, que já apertava o ventre com as mãos. Pois o homem sumia-se atrás da açucena. Eu seria desencantada a rir. 
 A sociedade das Mouras ria nervosamente, excitada por tanto rir. Era uma gargalhada geral e pegada, de ventania aguda num cannavial. No auge da boa disposição, provocada pelo riso aberto e franco, ouviu-se um berro, seguido de outros dois. Calaram-se todas por encanto. Foi um cataclismo. Após a primeira surpresa houve consciencia do acontecimento. Levantaram-se á uma, como se uma  unica mola as movesse a todas. Momentos de terror aquelles! Entreolhavam-se entre si, em silencio. Até mêdo tinham de fallar! 
 Um vulto corria no luar; projectava-se a mancha movel do seu perfil sobre a mancha immovel da vegetação, estendida ao ar da noite. Só os berros ouvidos podiam ter-lhes indicado a proveniencia e o logar. 
 Apenas uma das Mouras teve a presença de espirito sufficiente, para indagar da direcção dos berros. E, ao verificá-la, todas já de pé, á escuta, hesitantes, como um bando de tentelhões, assustadas, bradou apressadamente, nervosamente. 
 — A Zorra Berradeira! 
 Foi um grito de angustia. Tudo se tinha passado em um instante. Tambem todas tinham comprehendido a situação, mas o brado de uma d’ellas, fosse ella qual fosse, deu o impulso á decisão. Levantou o vôo todo aquelle bando de estorninhos. Debandaram, fugiram em sentido opposto ao da Zorra Berradeira. 
 A Zorra Berradeira foi Moura encantada, e quem sabe que lindos thesouros e admiraveis bellezas tinha como predicados do seu encantamento! Uma occasião faltou aos seus deveres com Allah, infringiu as regras impostas pelo encanto, a que devia de obedecer. Foi desobediente, e o castigo não se fez esperar. Com figura de mulher, que de longe parece urna cabra negra e de perto um abutre asqueroso, anda pelos campos e pelos cabeços, de noite, altas horas, em berros tremendos, que se ouvem por todos os arredores com signal de desgraça.
 A Zorra Berradeira com os seus berros estridulos afugentou a assembleia das Mourinhas. Todas dispersaram numa carreira doida. Podera! Era uma alma damnada, e o contacto peçonhento da réproba não agradava a ninguem. Por todo o campo se viam esvoaçar os vestidos claros das Mouras, como nuvens a desfazer-se no ceu. Os gritos da Zorra Berradeira apressavam-nas mais com o receio de serem perseguidas por ella. 
 A Moura damnada corria á margem do rio espelhento. Vira no campo claro do luar o bando alacre das Mourinhas, sentadas na relva, e a raiva da sua alma de vibora levou-a a desmanchar-lhes aquelle prazer, que a ella era um fogo de inveja. Salvou- as o terem-na pressentido com os berros agudos, que o rancor a obrigava a dar, O rio, posto entre a Zorra e as Mouras, forneceu-lhes o tempo necessario para ellas fugirem. 
 Conseguiu atravessar a agua. Os pés levantaram o lôdo, e o espelho da agua perdeu o brilho, ficou baço, como um vidro sujo. A lua foi obscurecida por uma nuvem, que cobriu aos olhos da Zorra a fuga das donzellinhas encantadas. Ella correu para junto de uma bouça, onde tinha visto os vultos brancos das Mouras, abertos á claridade da noite em uma gargalhada alegre. 
 Mas não encontrou ninguem. Teve um accesso de furia, e nunca os seus berros melhor justificaram o nome da Zorra Berradeira. Na sombra via-se de pé, hirta como uma estatua de bronze, agitando no ar violentamente os braços; os dentes rangiam-lhe e os gritos sahiam da garganta mais gutturaes, estridulos, mais arrastados. Toda a gente pelos casaes em redor, que a ouvia, tremia de mêdo, porque era desgraça imminente.
 Quando a lua voltou a rir-se para a terra, cobrindo-a com a graça de um beijo de luz, as Mourinhas tinham desapparecido, e a Zorra, no meio do campo, hirta e de pé, estava horrivel como sombra do phantasma do rancor.

Fonte:CHAVES, Luis Lendas de Portugal: Contos de Mouras Encantadas Lisboa, Livraria Universal, 1924 , p.22-40

Ano Europeu para o Desenvolvimento: Agosto é dedicado à Ajuda Humanitária

É cada vez mais frequente vermos os Media preenchidos com imagens de desastres naturais ou conflitos a ocorrerem em diferentes partes do globo. As alterações climáticas estão cada dia mais percetíveis e os conflitos são potenciados pela luta por recursos naturais.

O aumento dos conflitos e desastres conduz a uma crescente vulnerabilidade mundial e afetam, em particular, os países em desenvolvimento. É aí que as consequências destas catástrofes se sentem com mais intensidade: estima-se que 97% das mortes por desastres naturais ocorra em países em desenvolvimento. Um exemplo é o terramoto de 2010 no Haiti que provocou a morte de 200.000 pessoas, em contraponto com um terramoto de maior intensidade que pouco tempo depois, no Chile, vitimou um número muito inferior de pessoas (cerca de 526). 

A maior parte dos países em desenvolvimento não está preparado para lidar com situações extremas. O aumento destas catástrofes deixa também as organizações humanitárias sobrecarregadas e, consequentemente, incapacitadas para agir por carecem de recursos adicionais que lhes possibilitem responder eficazmente a todas necessidades das populações vitimizadas. “É necessário que haja um esforço de todos e não só das organizações ou do Estado. É importante que a sociedade civil seja ativa na ajuda ao outro” afirma Cláudia Semedo, embaixadora do Ano Europeu para o Desenvolvimento. 

É importante que, mais do que uma resposta pós-crise, haja um foco na prevenção de crises humanitárias. Este é um trabalho que requer um compromisso de toda a sociedade (governos centrais, autoridades locais, sociedade civil, doadores, setor privado, escolas, universidades) por serem necessárias estratégias abrangentes (institucionais, políticas, tecnológicas, ambientais, educacionais, culturais, de saúde, sociais, legais, estruturais, económicas) com grande coordenação e articulação em termos de planeamento, mobilização de recursos e execução. 

A prevenção de crises permitirá reduzir rapidamente o impacto que estas catástrofes têm em números de vida, sofrimento, perdas de subsistência e modos de vida. É essencial que haja uma sinergia entre todos estes agentes para a criação de estratégias eficazes na preparação para catástrofes naturais e conflitos. 

A União Europeia (UE) é o maior prestador de ajuda internacional pública do Mundo. No Consenso Europeu em matéria da Ajuda Humanitária, aprovado em 2007, a UE e respetivos Estados-Membros definiram um quadro estratégico para orientar as ações da UE para uma assistência humanitária eficaz a nível local, regional e nacional, incluindo a prevenção de riscos e a preparação das populações para as catástrofes naturais. São também promovidas iniciativas de voluntariado (Voluntários para a Ajuda da UE) para todos os que desejam ajudar. 

“É importante ter um Ano Europeu dedicado à política externa europeia e, em particular, à Ajuda Humanitária, considerando o peso da UE na ajuda humanitária internacional pública do mundo. A nível nacional, a Ajuda Humanitária faz parte de uma das três áreas de atuação da Cooperação Portuguesa, tendo como prioridade os PALOP e Timor-Leste” assegura Ana Paula Laborinho, presidente do Camões – Instituto para a Cooperação e para a Língua. 

Para preparar o futuro, irá decorrer em Istambul, nos dias 26 e 27 de maio de 2017, a primeira Cimeira Humanitária Mundial destinada a juntar a comunidade global para pensar novas formas de trabalhar em conjunto para salvar vidas e diminuir o sofrimento global, pensando nos desafios e vulnerabilidade globais crescentes. 

“A ajuda humanitária constitui uma expressão fundamental do valor universal da solidariedade entre os povos, bem como um imperativo moral”. - Consenso Europeu em Matéria de Ajuda Humanitária, 2007.

Homenagem ao Ricardo Vilela


quinta-feira, 30 de julho de 2015

Buscas domiciliárias resultaram em apreensão de material

O Núcleo de Investigação Criminal do Destacamento da GNR de Miranda do Douro apreendeu ontem nas freguesias de Travanca em Mogadouro e em Duas igrejas, Miranda do Douro, armamento, especificamente 2 armas de alarme, cinco munições reais de calibre 6,35mm, três munições de salva de calibre desconhecido, quinze cartuchos de chumbo de calibre 12mm, sete cartuchos zagalote, dois cartuchos de bala, cinco cartuchos de calibre 9mm e dezasseis munições.

Além desse material, as autoridades apreenderam também três telemóveis, um computador portátil, 860€ em notas do Banco Europeu, duas facas de corte com vestígios de haxixe e cinco pendrive’s.

As recolhas foram resultado de duas buscas domiciliárias realizadas no âmbito de um processo por tráfico de estupefacientes.

Escrito por ONDA LIVRE

Mirandela // José Silvano com estatuto de comendador

José Silvano foi agraciado pelo Presidente da República com o Grau de Comendador da Ordem do Mérito, na segunda-feira, como reconhecimento do seu papel de autarca de Mirandela durante 16 anos (1996 e 2012).
A Ordem do Mérito destina-se a galardoar “atos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da colectividade”, pode ler-se no site oficial do Chefe do Estado-Maior.
O atual diretor executivo da Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (ADVRT) confessa que não esperava esta distinção. “Não estava a contar com isto, até porque já terminei o meu último mandato há quatro anos”, adianta Silvano que não esconde a satisfação pelo reconhecimento do seu trabalho à frente do Município de Mirandela. “Ainda por cima, porque esse trabalho permitiu aumentar a qualidade de vida das pessoas e projetar e desenvolver o concelho”, afirma.

in:mdb.pt

Mirandela // Deputados do parlamento rejeitam convite para visitar escola secundária

Prestes a seguir os estudos no ensino superior, há cerca de um mês, João Pilão decidiu, como última ação do seu mandato à frente dos destinos da associação de estudantes, escrever aos deputados pertencentes à comissão de educação, na Assembleia da República, a convidá-los a visitar e a verificar, in loco, as condições “horrendas”, em que os alunos mirandelenses estudam.
“Um estabelecimento de ensino que não sofre qualquer obra de beneficiação ou reestruturação, há cerca de 40 anos, onde, no Inverno, chove nas salas de aulas, as casas de banho são um atentado à saúde pública e a caixilharia já está podre”, pode ler-se na carta.
Em resposta, o presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura informou que “não seria possível agendar, nesta legislatura, uma visita de trabalho ao Agrupamento de Escolas de Mirandela” e que “deveriam voltar a entrar em contacto com a Comissão, após a nova formação do Parlamento”
Resposta que deixou João Pilão desiludido. “Na altura em que escrevi a carta, os deputados ainda tinham responsabilidades legislativas e não deveriam passar a batata quente para os que forem eleitos. Se a escola viesse abaixo, também esperavam por Outubro?”, questiona.

in:mdb.pt

Festas 2015 em VALE DA PORCA

Desporto para todos em agosto no Macedo Mexe 2015

Ao longo do mês de agosto, são muitas as atividades desportivas, para todos os gostos, para todas as idades e quase todos os dias. Para se manter em forma e contornar alguns excessos das férias, em Macedo de Cavaleiros ou na Albufeira do Azibo, o convite é para “mexer-se”.

A Câmara Municipal “desenhou” um programa para se adaptar a vários gostos, congregando o “TokaBulir”, habitual atividade física das segundas-feiras, e o “Correr Saudável”, às quartas-feiras da Associação de Diabéticos do Distrito de Bragança. Para as quartas-feiras, acrescentam-se as caminhadas noturnas, seguidas de outras atividades de condicionamento físico, como aeróbica, zumba e outras.

As terças-feiras serão dedicadas a desportos coletivos, Voleibol, Pólo Aquático e Basquetebol. As quintas-feiras são centralizadas na Praia da Ribeira, na Albufeira do Azibo, dedicadas à corrida e ao total condicionamento, comportando a vertente cardiovascular, muscular e a flexibilidade. A sexta-feira e o fim-de-semana são recuperar energias para a semana seguinte. Atividades e transporte gratuito.

Concessão a privados do transporte no Tua criticado pelo MCLT

O Movimento Cívico pela Linha do Tua critica o processo de concessão do plano de mobilidade previsto para aquele vale.
Os defensores da linha ferroviária apontam o dedo à EDP, acusando-as de “descartar para os privados a responsabilidade do transporte das populações”. 
De acordo com Filipe Esperança, deste movimento, esse papel deveria caber à EDP, como previsto no plano de impacte ambiental da construção da barragem do Tua. “Apesar de terem sido disponibilizados 10 milhões por parte da empresa, ao passar a responsabilidade para privados estamos a atrasar a reposição do serviço público na região”, argumenta. 
A semana passada foi aberto o concurso para concessão do sistema de mobilidade intermodal para retomar a ligação entre o Tua, no concelho de Carrazeda de Ansiães, e Mirandela. 
O activista Filipe Esperança entende que o sistema de transportes tripartido vai ser desvantajoso para populações e turistas, por ser muito “extenso, muito demorado” e por “ser complicado”. 
De acordo com a plataforma de defesa da linha do Tua, a ligação de autocarro, barco e comboio elevará para horas um trajecto que chegou a demorar 20 minutos. 

Escrito por Brigantia

Intercéltico esgota alojamento no planalto mirandês

Hotelaria esgotada no planalto mirandês para o Festival Intercéltico de Sendim, que acontece de hoje a domingo.
De acordo com Mário Correia, do Centro de Música Tradicional Sons da Terra, que organiza o festival, o evento já se tornou uma tradição e um caso de sucesso. O Intercéltico é um motivo para que cada vez mais pessoas escolham, nesta altura do ano, o planalto para uma estadia mais prolongada.
“Neste momento, está tudo absolutamente esgotado e o parque de campismo já está composto. Temos muita gente que vem aqui a Sendim ao festival e passam 8 dias e fazem aqui as suas férias”, assegura Mário Correia. De acordo com a organização, o intercéltico tem um público que chega maioritariamente de fora (cerca de 90 por cento) e que se foi fidelizando ao longo dos anos. 
O festival de música Folk presta este ano várias homenagens. Não só nos concertos em palco, como nas actividades preparadas para preencher os dias. 
O concerto de homenagem aos 40 anos da Brigada Vítor Jara vai passar em revista muito do reportório com as músicas de Trás-os-Montes que a banda divulgou, outras das homenagens são aos 20 anos dos Rare Folk, ao José Afonso ou a Amadeu Ferreira”, adianta. 
Esta quinta-feira, 30 de Julho – e pelo segundo ano – o arranque do festival dá-se em Miranda do Douro. Até domingo os amantes de música Folk rumam ao planalto mirandês, e mais concretamente a Sendim, para o 16.º Intercéltico, numa edição em que a primazia é dada às bandas ibéricas. 

Escrito por Brigantia

Festas 2015 em TALHAS

DRCN tem abertas as Candidaturas ao Programa de Apoio aos Agentes Culturais

A Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN) tem em aberto, de 1 a 15 agosto, a 2ª fase de apresentação de candidaturas ao Programa de Apoio aos Agentes Culturais.

No domínio das atividades de caráter não profissional e ao abrigo de um Regulamento próprio, a DRCN apoia iniciativas culturais locais ou regionais que, pela sua natureza, correspondam a necessidades ou aptidões específicas da região e não integrem programas de âmbito nacional, bem como os agentes, as estruturas, os projetos e as ações nos domínios artísticos e da cultura tradicional na região Norte. 

A 2ª fase de candidaturas decorrerá entre 1 e 15 de agosto, a título excecional, destinando-se a projetos cuja conceção apenas é possível a partir do 2º semestre do ano.

Podem candidatar-se ao PAAC todos os agentes culturais da região Norte de Portugal, entidades individuais ou associativas locais ou regionais de carácter não profissional ou, quando profissional, não estando a beneficiar de apoio da tutela da Cultura, designadamente através da Dgartes.

Cada entidade poderá candidatar, anualmente, apenas um projeto e durante os períodos destinados a apresentação de candidaturas. Estão estabelecidas quatro áreas de apoio, independentemente da área ou expressão artística contemplada, onde se incluem a Edição, Formação, Criação /Produção e Programação/Difusão.

Para efeitos de apreciação das candidaturas e atribuição de apoios, serão considerados os seguintes critérios, encarados como prioritários, em qualquer área de apoio supra mencionada:
1. Preservação, valorização e promoção do património cultural, da Língua Portuguesa e do Mirandês; 2. Educação para a cultura e para a arte, desenvolvendo atividades de natureza cultural e educativa, sobretudo junto do público infantil e juvenil;
3. Inovação artística e cultural, promovendo a pesquisa, criação e experimentação, numa perspetiva de atualização do tecido artístico e cultural;
4. Combate à exclusão social e à desertificação do interior, incluindo na programação itinerâncias, numa lógica de circulação pela região, privilegiando as zonas menos favorecidas em termos de oferta cultural;
5. Formação de novos públicos, envolvendo a participação ativa das comunidades, numa ótica de promoção da qualidade de vida e da qualificação das populações, num exercício de cidadania;
6. Criação de parcerias e redes de colaboração, numa lógica de produção artística e cultural em rede, com diversos organismos, como autarquias, escolas, fundações, ou outras instituições.

As candidaturas devem ser, exclusivamente, enviadas via correio postal para a seguinte morada: Direção Regional de Cultura do Norte Praceta da Carreira 5000 – 560 Vila Real.

Transporte e visitas guiadas gratuitos levam mais turistas a Carrazeda

Carrazeda de Ansiães recebe cada vez mais visitantes ao património histórico do concelho. A explicação está nos programas de visitas guiadas e transporte gratuitos.
São dois os circuitos turísticos implementados pela autarquia, o dos Moinhos e do Castelo, disponibilizado ao longo do ano, e o circuito turístico do Castelo e do Douro, que pode ser percorrido nos meses de Julho e Agosto. 
As contas ao número de visitante, deste ano, ainda não estão feitas, mas graças a estes circuitos, o ano passado, Carrazeda recebeu cerca de cinco mil turistas. José Luís Correia, presidente do Município de Carrazeda de Ansiães, adianta que o objectivo é tornar mais fácil a visita ao património do concelho. “É uma forma de cativar os turistas, de lhes mostrar o que de melhor nós temos, do que eles mais gostam é do Castelo de Ansiães e da vila amuralhada, das vistas deslumbrantes do Douro, do Museu da Memória Rural, em Vilarinho da Castanheiro para além dos outros motivos de interesse, as antas de Vilarinho e de Zedes”, destaca o autarca. 
A autarquia de Carrazeda de Ansiães está ainda a pensar dinamizar outro projecto turístico para atrair mais visitantes provenientes do Douro e do Tua para o concelho. “Estamos a analisar novas soluções e se possível no próximo ano vamos implementar uma outra medida. 
O desafio é levar muitos dos visitantes que chegam ao Tua à vila. O objectivo é que haja uma conjugação mais perfeita entre o planalto e os vales do Douro e do Tua”, anuncia José Luís Correia, que defende ainda uma estratégia regional para tirar os turistas dos barcos e os levar até às margens. 
Para já, o aumento de visitantes faz-se com a oferta de transporte e guias turísticos, para uma visita mais detalhada ao concelho de Carrazeda de Ansiães. 

Escrito por Brigantia

Coelhoso espera por si na V Feira do Cordeiro

JAVALI OU PORCO-MONTÊS, em Comeres Bragançanos e Transmontanos

“D. Diogo Lopes era um infatigável Monteiro; neves da serra no Inverno, sóis dos estevais no Verão, e noites e madrugadas, disso se ria ele.
Pela manhã cedo de um dia sereno, estava D. Diogo em sua armada, em monte selvoso e agreste, esperando um porco montês...”
[A Dama Pé de Cabra. Alexandre Herculano]


A famosa narrativa da Dama demoníaca começa ilustrando a ocupação favorita dos nobres em tempos medievais – a caça grossa –, o porco-montês era uma das espécies mais requestadas.
Os monteiros e outros caçadores tinham especial predilecção pela caça do porco-montês também conhecido por bácoro e bácora monteses, javali, javardo e porco bravo, porque além do temível aspecto o animal oferecia tenaz resistência obrigando a cuidados redobrados a fim de a presa não se virar contra o caçador, o que às vezes sucedia.
O prestígio do porco-montês é de tal ordem que o Senhor Dom João de Portugal e dos Algarves e Senhor de Ceuta, lhe dedica a maior parte do Livro de Montaria, “escrito em pergaminho que se achou na livraria do Colégio da Companhia de Jesus de Monforte de Lemos” no ano de 1626.
Outros documentos da época medieval dizem-nos que as espécies de caça mais procuradas pela nobreza ibérica eram o veado e o javali cuja carne suscitava geral agrado.
A Idade-Média legou-nos volumoso corpo de informações relativamente ao comportamento da nobreza na ocupação do tempo quando não estava envolvida em conflitos bélicos. A caça desempenhava papel primordial, o javali proporcionava emoções violentas, a carne óptimos banquetes. Na Antiguidade Clássica acontecia o mesmo, no entanto, os aspectos simbólicos impregnavam a vida dos povos, daí os animais serem expressivos veículos das numerosas interpretações que foram surgindo ao longo dos milénios. O Abade de Baçal no Tomo XI das Memórias, no referente a agoiros e maus presságios anota: “Encontrar de manhã, ao sair de casa, um padre, frade donzela, lebre, serpente, lagarto, corvo, cabrito montês ou javali, é mau presságio, pelo contrário, será bom se o encontro for com um lobo, cigarra, cobra, sapo ou mulher mundana”. Mesmo o avesso à leitura das Memórias do Senhor Abade, se visitar o imponente Castelo de
Bragança terá, forçosamente, de contemplar a denominada porca da Vila, nem mais, nem menos, que a base onde assenta o pelourinho.
Mitos e lendas estão povoados de porcas, porcos e a adoração indo-europeia do javali é segundo Gelling & Davidson, “um dos mais antigos substitutos do deus sacrificial”. As oralidades lembram os poderes do javali mágico, cabeças embalsamadas deles mostram-se em estalagens, restaurantes e locandas, para além do exibicionismo, na qualidade de signos de sorte.
É ponto assente que a carne de javali tinha grande número de afeiçoados na Antiguidade, para os romanos quanto mais novo o javali melhor, dada a macieza da carne e também porque ainda não estava impregnada do forte gosto a animal selvagem. Por essa razão os estetas e poetas dedicavam-lhe fortes elogios comendo-o bem condimentado, não escapando as vísceras, pois num banquete descrito por Macróbio, Júlio César e as virgens vestais regalaram-se comendo rins do temido bicho montês.
De resto, pode-se afirmar que os romanos ficavam entusiasmados quando tinham oportunidade de se banquetearem com javali, a partir do Império elevou-se à condição de ser uma das carnes mais procuradas em Roma (Marcial 3, 50. 8), e das receitas que chegaram até nós, uma ensina a rechear-se a perna do javali – receita à moda de Terêncio – assim a apodou Apícius.
Se na Antiguidade o porco-montês possibilitava lautos banquetes, nos séculos subsequentes também, não sendo mais porque foi diminuindo o seu número, no entanto, nas coutadas reais existiam os suficientes para regalarem os convidados do rei.
Os receituários franceses e de algumas regiões espanholas mostram quão estimada era e é carne de javali, no entanto, quanto mais velho ele for, melhor cuidado há a ter na sua preparação, a de um jovem não precisa de ser marinada, a de um adulto requer adobo forte e cozedura prolongada, também neste nada despiciendo pormenor, os romanos recomendavam semelhante tratamento.
Os receituários oitocentistas propõem a fritura das costeletas, das partes mais tenras retirarem-se fatias finas (escalopes), as coxas e pernas serem estufadas, os filetes assados, e os melhores pedaços cozinhados em civet, isto é: a carne é cortada em pedaços e posta em vinho e alhos (vinha-d’alhos) por algum tempo, depois frita-se e, em seguida, é cozida em molho condimentado no qual entra o sangue do animal.
O Tratado General de Carnes, editado em Madrid no ano de 1832, ensina a distinguir a carne de porco doméstico da carne selvagem do javali, enumera as precauções que devem ser tomadas na sua confecção, lembra a época propícia à sua consumição, terminando a elogiar uma receita de preparação da cabeça, um “prato extraordinário” assegura o Tratado, explicando o modo de fazer: “aunque no delicado, es suntuoso y extraordinário.
Este manjar se condimenta pelando la cabeza en agua hirviendo, y bien raspada y lavada en agua clara, se la pone á cocer envuelta en un paño blanco cubierta de agua com vino blanco, vinagre, sal, canela, tomillo y laurel, y que cocida que sea, se saca del cocimiento, se quita ele pano, y se sierve sobre yerbas finas”.
No primeiro tratado culinário português enquanto tal, A Arte de Cozinha, 1680, de Domingos Rodrigues, o javali nomeia-se em duas receitas: javali de conserva e empadas de javali. O outro cozinheiro real, Lucas Rigaud, no também Arte de Cozinha, 1785, dedica-lhe três receitas: cabeça de porco-montês recheada, lombos de porco-montês por diferentes modos e presunto de porco-montês. As receitas em causa indicam, claramente, o saber desses cozinheiros em tratarem a carne do javardo de modo a torná-la macia e a não perder sucos gustativos.
Obviamente, as cozinheiras transmontanas aprenderam a preparar a carne do porco-montês baseando-se no saber adquirido no amanho da do porco doméstico, já que a dos javalis aparecia raramente, normalmente, em consequência de batidas destinadas a impedirem os contínuos estragos por eles provocados nas culturas, apanhados furtivamente, ou então resultado de caçadas com o fito de a apetitosa carne enobrecer ementas de banquetes e festins, assinalados em numerosas obras entre as quais nas Memórias do Abade de Baçal.
Mesmo nos dias de hoje a realização de montarias e caçadas confirmam tal asserção. Por seu turno os poetas continuam a tê-lo como modelo inspirador.

Em Viagens, Gil de Carvalho inclui o poema Javalis:

Lá em cima uma cama.

Perto da clareira, as folhas frouxas
Das constelações disparam na moita
A tua única certeza. Comeres o rio,
As mulheres das casas, a melodia
Do pisco na Cerdeira. Do fundo
As matracas magoam a manhã,
Que já o tavertino ataca. Que fazes aí,
No céu estrelado desde sempre preso,
À junça, à lama, ao milho fresco
À trança da Cassiopeia?
Das ramagens, por fim, a luz
De Orion, dá-te passagem.

Comeres Bragançanos e Transmontanos

Publicação da C.M.B.