quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Dupla de artesãs de Bragança lamenta que tradição das Cantarinhas de Pinela se esteja a perder

Arrancaram em 1999 e, desde então, os seus nomes são, cada vez mais, associados a artesanato de qualidade e peças únicas. Falamos de Julieta Rodrigues e Rosário Diegues, duas bragançanas que pretendem levar o nome da terra a vários cantos do Mundo.

“Orgulhamo-nos sempre que uma peça nossa é comprada e levada para outro sítio. É uma forma de demonstrar que aqui também se fazem coisas com valor e qualidade”, sublinham as artesãs.

Entre Outubro de 1997 e Maio de 1999, frequentaram um curso que ensinava, em cerca de duas mil horas, todas as técnicas para trabalhar a cerâmica, mas que não assegurava especialização na área. “Não temos grandes cerâmicas nesta zona, pelo que ainda é mais complicado”, aponta Julieta Rodrigues.

Esta acção serviu-lhes para aprenderem técnicas que desconheciam ou, para descobrirem que, afinal, tinham talento e gostavam desta arte. “Eu queria aprender outra área, mas decidi experimentar a cerâmica e percebi que tenho jeito e gosto disto, o que me leva a ficar, muitas vezes, surpreendida comigo própria”, recorda Rosário Diegues.

Já para Julieta Rodrigues, após trabalhar noutra área completamente distinta, dedicar-se à cerâmica era um sonho. “Sempre disse que, um dia mais tarde, viria a trabalhar em artesanato e como sou de Pinela, terra das Cantarinhas, pretendia dar continuidade a esta tradição”, acrescenta a artista.

Segundo a artesã, devido ao falecimento da última criadora destes objectos, “chegou a fazer-se uma Feira das Cantarinhas sem ninguém a vender as de Pinela, o que foi uma pena”.

“Esta arte requer muito trabalho, esforço e dedicação, mas, sobretudo, gosto pelo que se faz”

Na Feira do Fumeiro de Vinhais, em 2000, expuseram, pela primeira vez, os seus trabalhos, uma experiência que ambas classificam de “inesquecível e espectacular”, uma vez que ficou comprovado o valor das artesãs. “Não sabíamos vender ou expor os produtos, mas vimos que as pessoas gostaram daquilo que fazíamos e fizemos, mesmo, bons negócios. A partir daí, agarrámo-nos, porque ficámos realmente motivadas”, recorda Rosário Diegues.

Desde então, já perderam conta aos certames e feiras em que participaram, bem como às peças que venderam. “Percorremos o País e, em todo lado, recebemos elogios que nos levam a ter mais força para continuar”, acrescentou Julieta Rodrigues.

As artesãs lamentam não ter capacidade para fazer frente aos diversos pedidos que lhes chegam de várias regiões e, até mesmo, de lojas. “Como as nossas peças são únicas, não conseguimos criar muitas em pouco tempo. Caso contrário, ficariam iguais a tantas outras e preferimos apostar na qualidade do produto”, sublinha a responsável.

Apesar de verem o seu nome reconhecido em Trás-os-Montes e em vários pontos do País, as artesãs recordam que esta arte significa muito trabalho e dedicação. “É necessário gostar muito daquilo que se faz e ter consciência que é uma tarefa árdua e que requer muito esforço”, garantem. Por isso, entendem que hajam poucos interessados em aprender esta arte ou continuar com a tradição das Cantarinhas de Pinela. “Os jovens não querem conhecer as técnicas e esta arte vai perder-se”, lamentam.

Além dos certames, os interessados podem conhecer os trabalhos desta dupla no seu atelier localizado no Shopping do Loreto, em Bragança.

in:diariodetrasosmontes.com

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