segunda-feira, 22 de maio de 2017

ALARCÃO (Rui de Figueiredo de)

Fronteiro-mor e governador das armas da província de Trás-os-Montes, no tempo da Guerra da Aclamação.

Escreveu:
Relação do sucesso que Rui de Figueiredo, fronteiro da raia de Trás-os-Montes, teve na entrada que fez no reino de Galiza. Lisboa, 1641. 8.° de 7 págs. É datado de Chaves aos 3 de Agosto.
Segunda Relação verdadeira de alguns sucessos venturosos, que teve Rui de Figueiredo, fronteiro-mor da vila de Chaves, na entrada que fez e ordenou em alguns lugares do reino de Galiza, nos últimos dias de Agosto, até se recolher à dita vila. Lisboa, 1641, 4.° de 8 págs.
Nas duas últimas páginas deste vem uma curiosa lista dos lugares que os habitantes de Vinhais, juntamente com duas companhias de Moimenta, invadiram, arrasaram e queimaram no condado de Monterrei, tanto pela veiga de Chaves como pela parte de Montalegre, de Monforte e Vinhais. Os lugares queimados foram em número de cinquenta e três e eram povoados por três mil novecentos e noventa e cinco habitantes,muitos dos quais ficaram mortos.
Terceira Relação do sucesso que teve Rui de Figueiredo de Alarcão, nas fronteiras de Chaves, Montalegre e Monforte, segunda-feira 9 de Setembro de 1641, de que é General e Fronteiro-mor, tirada da carta que escreveu a Sua Majestade. Lisboa, 1641. 4.° de 8 págs.
Quarta Relação verdadeira da Vitória que o Fronteiro-mor de Trás-os-Montes, Rui de Figueiredo de Alarcão, ouve na sua fronteira, cinco léguas de Miranda, em Brandelhanes, terra de Castela. Lisboa, 1641. 4.° de 6 págs.
Relação da insigne vitória que do castelhano alcançou em Brandillena o capitão-mor e superintendente das armas de Miranda, Pedro de Melo, em companhia do Fronteiro-mor Rui de Figueiredo aos 2 de Outubro. Lisboa, 1641. 4.° de 8 págs. inumeradas.
Relação da insigne vitória que do castelhano alcançou em Brandillena o capitão-mor e superintendente das armas de Miranda, Pedro de Melo... aos 25 de Outubro. Lisboa, 1641. 4.° de 8 págs. inumeradas.
Tratado das vitórias que alcançou Simão Pita de Ortigueira, governador dos Presídios de Moimenta, e Mofreita, à ordem do Fronteiro-mor Rui de Figueiredo de Alarcão, com uma Relação do assalto que deu António de Queirós Mascarenhas, capitão-mor da Vila de Valadares em alguns lugares da Galiza, até Abril deste ano de 1642. Lisboa, 1642. 4.° de 7 págs. inumeradas.
Relação da vitória que o Conde de Atouguia, governador das armas na Província de Trás-os-Montes, teve na campanha de Chaves, contra os castelhanos. Lisboa, 1650. 4.° de 8 págs.
Relação das notícias que se tiveram das Províncias de Trás-os-Montes, e
Alentejo, e Madrid. Publicada em 14 de Fevereiro. Lisboa, 1711. 4.° de 12
págs.
Rui de Figueiredo de Alarcão era filho de Jorge de Figueiredo e de D. Maria da Silva. Casou com D. Maria de Meneses, filha de Pedro Álvares Cabral, senhor de Azurara, alcaide-mor de Belmonte, e de D. Leonor de Meneses.
Rui de Alarcão, governador das armas da província de Trás-os-Montes, por ordem régia de 3 de Fevereiro de 1641, continuou em Chaves e Bragança, assim como nos lugares mais perigosos da raia, o levantamento das trincheiras, trabalho já começado pelo seu antecessor. Com ele vieram, ou já cá estavam, seus irmãos Henrique de Figueiredo, que teve o governo de Bragança, e Luís Gomes de Figueiredo. O que ele fez, como governador,
pode ver-se nas Guerras da Aclamação de 1640.
Em 1643 foi-lhe tirado o governo por injustas queixas que os povos faziam contra seus irmãos, mas voltou, segunda vez, como governador das armas da província de Trás-os-Montes em 1646. Foi durante este seu segundo governo que os espanhóis apanharam uma lição mestra no porto das Areias, no rio Sabor, por cima da ponte de Parada, onde Achim de Tamericurt caiu de improviso sobre o seu acampamento e o destroçou. A ousadia deste golpe de mão é um dos feitos mais importantes desta longa guerra nos nossos sítios. Durante algum tempo que este governador esteve em Lisboa ficou-o substituindo Francisco de Sampaio, governador da Torre de Moncorvo. Como se vê de Manuel Gomes de Lima Bezerra, Os Estrangeiros no Lima, tomo I, Diálogo 6, pág. 391, este Figueiredo não se fixou em Bragança nem aí fundou casa.
Julgamos a propósito reunir aqui a bibliografia que, dum modo especial, diz respeito às Guerras da Aclamação no distrito de Bragança.
Além do já mencionado, temos mais:
Mercúrio português com as novas do mês de Outubro de 1663. Lisboa, 1663. 4.° de 19 págs. inumeradas. Contém: Relação da guerra que o conde de S. João, Governador das Armas da Província de Trás-os-Montes fez por aquela Província em Galiza, até Castela-a-Velha, entrando, saqueando e destruindo por muitos dias, e muitas léguas de terra, mais de cento e setenta vilas e lugares do inimigo, sem lho impedir o exército de El-Rei de Castela, e socorro com que o mesmo conde passou logo ao Minho.
Mercúrio português, do mês de Outubro do ano de 1664. Lisboa. 4.° de 12 págs. inumeradas. Além do mais, contém a relação «da grande, e notavel destruição, que o conde de S. João, governador das armas da Provincia de Traz-os-Montes, fez no reino de Galliza, entrando, e saqueando mais de trinta villas, e lugares, de que se tirarão despojos riquissimos, e ficou arruinada toda aquella parte».
Mercúrio português, com as novas do mês de Novembro do ano de 1665. 4.° de 15 págs. inumeradas. Também menciona alguns sucessos que dizem respeito à província trasmontana.
Compêndio panegírico da vida e acções de Luís Alvarez de Távora, conde de S. João, etc., escrito por D. Luís de Meneses, conde da Ericeira, etc. Lisboa, 1674. 4.° de 195 págs. Nesta obra se mencionam os feitos gloriosos que o conde de S. João praticou na província de Trás-os-Montes e distritode Bragança.
«Deão, Dignidades e Conegos do Cabido da Sé de Miranda, Eu El-Rey vos envio muito saudar.
Tenho entendido, que Manoel Antunes de Paiva Conego nessa see escreveoem Dezembro passado a hum irmão seu Prior na cidade de Elvas, que em hum lugar desse bispado, a que chamão Milhão, ha hum menino, que sendo de idade de seis annos para sete nunca falou, e somente na ocazião de minha acclamação soltou a voz, e disse, com todos os mais, que vivesse El-Rey Dom João o 4.°. E ficou falando desde intão sem impedimento algum.
E porque este caso he misterioso e digno de se justificar, vos encomendo e encarrego muito, que em recebendo esta, vos informeis particular e exatamente, se succedeo na forma referida, e fazendo de tudo hum auto de testemunhas com as solemnidades de direito, mo envieis, quanto antes for possivel, entendendo que volo aggradecerei muito; escripta em Lix.ª a 12de Fevereiro de 1642. REY» (17).
O cabido mandou proceder às diligências necessárias a 17 de Março de 1642, incumbindo delas o seu Provisor Vicente Lopes de Moura, cónego doutoral, o chantre Belchior de Macedo da Silva, licenciado, e o guardião do convento de S. Francisco de Bragança, Frei João da Purificação, e nomeando para escrivão do processo o padre Domingos Diegues.
O menino chamava-se Francisco e tinha de idade quatro para cinco anos; era filho de Francisco Rodrigues, lavrador, por alcunha o Carrasqueiro, e de Isabel Rodrigues. O caso da exclamação sucedeu na véspera de Reis (5 de Janeiro) de 1641, uma ou duas horas depois de anoitecer, estando o menino com seu pai na cozinha, ao lume, e vindo sua mãe de fora disse para ela: Mãe, viva El Rei João. Nunca falara, e depois apenas repetiu estas palavras algumas vezes, mas poucas, e não dizia mais nada. No processo, além de várias testemunhas, incluindo os pais da criança, depuseram: António da Costa, licenciado, médico de Bragança, que declarou: visto ter vindo no dia 5 de Janeiro, em que o caso se deu, ao lugar de Milhão uma companhia de soldados soltando vivas a El-Rei D. João, que bem podia a criança «perceber e aprender as ditas palavras e naturalmente dizellas sem nisso aver milagre algum».Mas Melchior Pires Nunes, médico de Bragança, também inquirido, disse: «que não duvida que Deus Nosso Senhor quizesse que este menino manifestasse o bem e mercê que tinha feito a este Reino em lhe dar Rey e Senhor natural».
Junto ao processo há outra carta de el-rei D. João agradecendo ao cabido a boa diligência no caso.
A 22 de Setembro de 1667, Manuel de Azevedo da Nóbrega, abade de Meixedo, participava ao cabido de Miranda que no dia 12 desse mês, segundo lhe comunicara Domingos Pires, cura de Sacoias (então anexa de Meixedo e hoje de Baçal, concelho de Bragança), o sino da igreja tocara espontaneamente, caso, ao parecer, miraculoso e como tal digno de investigação.
O cabido incumbiu o chantre Afonso de Morais Colmieiro e o doutor Martim Pegado, cónego magistral, de levantarem o respectivo auto, nomeando para escrivão o mestre (organista) António Aires Ferreira.
Sebastião Centeno, de Roxas, confirmado de Baçal, testemunha inquirida no processo por estar na igreja de Sacoias assistindo a um ofício quando o toque se deu, além de confirmar o caso, afirmou «que se dezia que no principio da Feliz restauração deste Reino se tangerão os signos da mesma Igreja [de Sacoias] por si de que ouvio dizer se fizerão autos e tirarão testemunhas judicialmente pello Reverendo Vicente Lopez de Moura, Provisor deste Bispado e conego Doutoral da See de Miranda».
Domingos Pires, cura de Sacoias, que também assistia ao ofício quando o sino tocou, além de asseverar a veracidade do facto, disse: «que dera volta á igreja e não vira pessoa, nem indicio algum de o toque não ser expontaneo; que não podia ser senão tanger o signo por si como já em outra hocasião no mez de maio ou junho, ou o que na verdade se achar, que constará dos autos que disso se tirarão feitos pello R.do Doutor Vicente Lopes de Moura, vindo elle testemunha com os homens Baltezar Gonçalves e João Pires, ambos do lugar de Gimonde, antes do meio dia pouco mais ou menos, o que na verdade se achar, e estando fazendo Oração ella testemunha ha porta travessa da dita igreja da Senhora e os sobreditos homes ha fresta da dita igreja, ouvira tocar o sino e se levantara logo e fora fallar com os ditos homes e lhe perguntara para que tangião, elles disserão que elles não tangerão e forão todos tres perguntar ao home que estava de sentinella que hera Simão Rodrigues do dito lugar de Sacoias se sabia quem tangera o dito signo e elle dissera que não sabia quem; mas antes que mais vezes o ouvira tanger e não sabia quem. E do mais do tanger antigo se reportava ao que já tinha testemunhado».

Ver artigo «Manuscritos», Livro de Rezam do Padre Pascoal Ferreira.

Porque de alguma forma se ligam com o assunto, damos aqui os seguintes documentos:

«Corpo de Exercito de Operações de Portugal
Soldados.
Hides entrar em Portugal, em um paiz desgraçado, que soffrendo os horrores da guerra civil necessita do auxilio das Nações amigas; vossa missão é nobre; unidos os Hespanhoes e Portuguezes temos combatido pela independencia da Peninsula, juntos temos pelejado pela nossa Rainha, justo e generoso é que reunidos deffendamos o Throno Constitucional de D.Maria da Gloria.
Conhecedor das virtudes do Exercito, e testemunha da vossa subordinação e distincto comportamento, tenho assegurado ao Governo de Sua Magestade que no Reino visinho vos fareis merecedores, como em Castella, do apreço e moderação,que em todos os tempos se tem tributado aos Soldados Hespanhoes.
Soldados: tende em consideração o pacifico habitante, respeitae suas propriedades, pessoas e costumes, de modo que só vejam en nós seus amigos, seus irmãos. Fazei-o assim, e quando voltardes a pizar o solo hespanhol, deixareis em Portugal recordações gratas; seus filhos todos reconhecerão que seus melhores alliados são e serão sempre os Hespanhoes. Isto quer o Governo de Sua Magestade, isto convém á independencia de ambos os paizes, e o Exercito o fará porque assim cumpre ao seu dever, á sua honra e á sua gloria.
Soldados: se a necessidade nos obrigar a fazer uso das armas, sêde generosos com os vencidos, e que a victoria, de que todos estamos seguros, se obtenha sempre ao grito de Viva a RAINHA!

Quartel General de Zamora, aos 9 de Junho de 1847. Vosso General em Chefe.Manoel de la Concha.

(Esta proclamação do Ex.mo General Concha foi vertida do hespanhol).
Typografia de Bragança. 1847».

As tropas espanholas do general Concha entraram em Bragança a 16 de Junho de 1847.

«Habitantes do districto de Bragança!
Alguns centenares de portuguezes, infelizmente illudidos e rebeldes contra o Throno de nossa Adorada Rainha e Senhora D.Maria 2.ª, invadiram á pouco vossas habitações para estenderem a guerra civil, e a anarchia a um paiz jamais manchado com a nodoa de infedilidade a seus Augustos Soberanos; e para vos constrangerem a concorrer com as producções de vossas fadigas, e com vossos dinheiros, á causa iniqua em que seguem obstinados.
Hoje porêm sois livres.
Com as tropas leaes do digno Commando do Ex.mo e benemerito Barão de Vinhaes, Commandante interino da 5.ª Divisão Militar, eis-me outra vez entre vós, para libertar-vos do flagelo que vos opprimia, e para vos restituir a paz, o imperio da lei, e a segurança que vieis tão comprometida, de vossas pessoas e de vossas cousas.
Habitantes do districto de Bragança, exultai! A guerra civil vai tocar seu termo com o triunfo completo da causa da legalidade e da ordem, e das instituições liberaes consignadas na Carta Constitucional da Monarchia.
As forças navaes de Suas Magestades Britanica e Catholica fizeram já prisioneira a maior parte da tropa dos sublevados; e um respeitavel Corpo de Exercito hespanhol entra hoje por esta fronteira para coadjuvar as tropas leaes até á inteira submissão dos rebeldes ás Ordens da nossa Augusta Soberana.
Habitantes do districto de Bragança! Continuai a permanecer tranquillos; abraçae como amigos e alliados os subditos da Nação hespanhola, que tão generosamente nos vem auxiliar a esmagar a hydra revolucionaria, e não desmintaes os nobres sentimentos e o caracter transmontano. 

Bragança, 11 de Junho de 1847.
O Governador Civil – Francisco Xavier de Moraes Pinto».

«Habitantes do Districto de Bragança! Honrado por Sua Magestadecom a nomeação, por  mim nem sollicitada, nem merecida, de vosso Governador Civil, eu venho ser entre vós, o interprete fiel, o executor leal e zeloso, das benevolas e maternaes intenções da mesma Augusta Senhora, e dos principios da ordem, legalidade, tolerancia, e reconciliação, proclamados, d’accordo com elles, pelo seu governo.
Parco e difficil em promessas, porque pontual em cumprir o prometido, eu não pretendo captar simpathyas, nem seduzir credulidades, com os brilhantes atractivos de seductoras esperanças, e de pomposas promessas, tão faceis de proferir, como difficeis, senão impossiveis, de realizar; mas, emquanto vosso chefe administrativo, eu não faltarei ao que meu cargo, e a Lei,m’incumbem, estudando, propondo e promovendo, todos os melhoramentos realizaveis, em qualquer das fontes da vossa prosperidade.
Habitantes do Districto de Bragança! a primeira, a mais instante necessidade, vossa, e de todos os Portuguezes, depois de tantos embates, e oscilações politicas, é a ordem, a segurança, e a tranquilidade; sem ordem não ha sociedade; sem sociedade e ordem, não ha nem segurança, nem tranquilidade; e sem tranquilidade, e segurança, não ha nem vida, nem propriedade! mas para que tudo isto exista, cumpre, e é indispensável, que as opiniões se tolerem; que os partidos se contenham, e se dispam do egoismo, do rancor, e intolerancia das facções; que as Leis sejam obedecidas; as authoridades respeitadas; e que os depositarios do Poder nem abusem, nem preveriquem.
Eis o maior, o mais ardente desejo de nossa Augusta Soberana; eis o desejo mais saliente, e pronunciado de todos os seus Subditos, que nem especulam, nem medram, na desordem; eis o voto, e a politica do Govêrno; e por consequencia, eis o voto, e dever de todos os seus Delegados que não sabem trahir o amor á Patria, e a lealdade ao Throno.
Habitantes do Districto de Bragança! conheceis já os meus principios, contae com sua fiel execução, bem como eu conto com vossa sisudez, subordinação, e amor ao Throno, e á Carta Constitucional. Ricos ou pobres, sabios ou ignorantes, achareis o vosso Governador Civil sempre prompto a receber-vos, e a ouvir-vos; sempre imparcial, e circumspecto; mas persistente e inexoravel, em reprimir e castigar, a desordem, a insubordinação, a violencia, o abuso, e a prevericação, aonde quer que se apresente: assim possa elle merecer as vossas bençãos, assim possa a sua administração dar-vos mais um motivo para poder dizer com enthusiasmo, e reconhecimento.

Viva Sua Magestade a nossa Augusta Rainha.
Viva Sua Magestade El-Rei, seu Augusto Esposo.
Viva sua Real Dynastia.
Viva a Carta Constitucional da Monarchia.

Bragança, 3 de Dezembro de 1847. O Governador Civil Antonio Julio Taveira Pinto Pizarro.
Typographia de Bragança. 1847»

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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