quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

S. Nicolau Dinis

BEATO IGNAZIO DE AZEVEDO
E COMPAGNI GESUITI MARTIRI / I
Jesuíta, natural de Bragança. Em 1569 partiu do Brasil para Roma, Inácio de Azevedo a tratar de certos negócios concernentes à Ordem, e Francisco de Borja, geral dela, hoje canonizado, atendendo à falta de missionários que tinha o Brasil, deu-lhe licença para levar alguns da província de Portugal. Conseguiu juntar trinta e nove e partiu em 1570 com a frota que naquele ano ia para o Brasil com o governador D. Luís de Vasconcelos.
Os jesuítas iam na nau Santiago, que Inácio de Azevedo fretara a meias na cidade do Porto. Chegados às ilhas da Madeira deteve-se alguns dias o governador, esperando tempo próprio, por recear as calmarias da Guiné; mas Inácio, com a nau já citada, pediu licença para chegar à ilha da Palma, uma das Canárias; o governador deu-lhe a licença a custo, com receio dos corsários que infestavam aqueles mares. Todavia, Inácio parte, e no mesmo porto da ilha de Palma é surpreendido pelo corsário huguenote Jacques Saria, um dos mais temíveis daquele tempo, que vingava o massacre de São Bartolomeu, trucidando os cristãos que encontrava.
À vista do perigo, a nau Santiago procurou defender-se, vendendo os seus tripulantes caras as vidas, mas foi rendida e os quarenta jesuítas mortos, sendo o primeiro Inácio de Azevedo. Bento de Castro, natural de Chacim, concelho de Macedo de Cavaleiros foi o segundo. No primeiro ataque dos inimigos, despedindo-se dos demais irmãos, esforçadamente se foi meter entre os que brigavam, empunhando uma cruz para assim dar claro testemunho da fé que professava, animando em alta voz os seus companheiros a que pelejassem pela igreja romana, desenganando ao mesmo tempo os hereges da sua cegueira. Foi passado com três arcabuzadas, e não sendo estas bastantes para que caísse, lhe deram mais sete punhaladas, «dadas à mão tente». Abraçado à cruz, protestando a fé católica em que morria, Bento de Castro caiu desmaiado, e meio-vivo foi lançado ao mar, onde se afogou. Tinha vinte sete anos de idade e havia nove que entrara na Ordem. Exercia na nau o ofício de mestre de noviços e era insigne em virtudes, principalmente na caridade.
Contra os demais jesuítas que iam na nau decretou Jacques Saria sentença de morte, por irem – dizia ele – ao Brasil pregar falsa doutrina; e assim se cumpriu, porém com esta diferença: os que tinham coroa aberta foram primeiro apunhalados e depois lançados ao mar; e os que a não tinham sofriam somente o último suplício. Deste número fazia parte o irmão Nicolau Dinis, natural de Bragança, de dezassete anos de idade e professo no Colégio da Companhia da mesma cidade. «Sendo ainda estudante de fora – diz a “Crónica” – dizia muitas vezes seu mestre que o coração lhe adivinhava que havia de ser martyr. Emquanto esperava no colégio de Bragança recado do padre Inácio de Azevedo para a viagem, concertado entrou na casa onde fazia seu officio o irmão dispenseiro e o achou rebentando de prazer e como alienado de si de pura alegria e preguntado pela causa disse: que naquella hora lhe tinha revelado o Senhor que dahi a pouco tempo havia de ser martyr. Viram os de Bragança a certeza do que elle lhes disse. Chegaram estas novas áquella cidade a tempo que nella assestia o bispo D. Antonio Pinheiro o qual prégando ao povo, depois de dar graças a Deus, disse: O nosso Nicolau que aqui vistes andar pelas ruas de Bragança é martyr glorioso de Christo com grande corôa de gloria para sempre, e eu bispo não sei se me heide salvar».
O martírio destes quarenta jesuítas teve lugar a 15 de Julho de 1570. Santa Teresa de Jesus diz que os viu entrar no céu com a auréola do martírio, e conheceu até um que era seu parente, como diz Frei Diogo de Yepes, bispo de Tarragona, na vida desta santa.
Posteriormente foram canonizados todos estes quarenta mártires com Santo Inácio de Azevedo, seu chefe, e na diocese de Bragança, da qual dois eram naturais, têm estes reza especial a 15 ou 20 de Julho.
Na diocese de Bragança reza-se de muitos santos, que supusemos, por esse motivo, seriam dela naturais; afinal, depois de largas pesquisas que muito trabalho nos deram, chegando mesmo a ver os processos da canonização de muitos, arquivados em Roma, na biblioteca da respectiva congregação, vimos que nem sempre é esse o motivo, pois há inúmeras cidades e lugares «que rezão de diversos santos que não forão seus naturaes; ou por gozarem de suas reliquias; ou por algum favor, e mercê, que do ceo por seo meio recebessem; ou também por serem avogados de particulares necessidades » e ainda para o prelado diocesano comprazer a Roma em ordem a conveniências pessoais.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

3 comentários:

  1. Boa tarde,
    Gostaria de saber qual a "Crónica" em que se baseou para este texto sobre S. Nicolau Dinis.
    Obrigado
    Carlos Guedes

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    1. ALVES, Francisco Manuel (Abade de Baçal) – OS NOTÁVEIS -Memorias Arqueológico-Historicas no Distrito de Bragança (tomo VII)

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