sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Francisco da Fonseca Henriques

Conhecido pelo apelido de Doutor Mirandela, por haver nascido nesta vila a 6 de Outubro de 1665. Filho de Gabriel Pereira e de D. Grácia Mendes. Era doutor em medicina pela Universidade de Coimbra e foi médico de el-rei D. João V.
Faleceu em Lisboa a 17 de Abril de 1731.

Escreveu:
Tratado único do uso e administração do azougue, nos casos em que é proibido. Lisboa, 1708.Vem incorporado também na seguinte: Medicina Lusitana – Socorro Délfico aos clamores da natureza humana para total profligação de seus males. Dividido em três partes, etc. Amsterdão, 1710. A segunda edição, mais correcta e aumentada, fez-se também em Amesterdão em 1731. Fol. de XXVIII-851 págs. e traz no fim a Dissertação dos humores naturais do corpo humano. Parece haver ainda outra edição impressa no Porto em 1750.
Âncora medicinal para conservar a vida com saúde, etc. Lisboa, 1721, 8.°.
Outra edição em Lisboa, 1731, 4.°, e ainda uma terceira na mesma cidade e ano em 8.° de XVI-536 págs. Inocêncio Francisco da Silva diz que esta obra está hoje esquecida e que tem pouco valor. É certo que a ciência tem progredido muito desde que o autor a escreveu, o que não obsta a que o consideremos como homem notável e distinto no seu tempo. José de Arriaga fala elogiosamente deste médico e da sua obra, exprimindo-se assim: «O celebre medico de D. João V, Francisco da Fonseca Henriques, foi o unico dos antigos, bem como o doutor Antonio Ribeiro Sanchez que deixou trabalhos sobre hygiene que mereçam menção».
Aquilégio medicinal, em que se dá notícia das águas de caldas, de fontes, rios, poços e cisternas do reino de Portugal e dos Algarves... dignos de particular memória. Lisboa, 1726. 8.° de XIV-288 págs. Esta obra é ainda hoje estimada e procurada, diz Inocêncio, e todos os seus escritos são reputados clássicos em linguagem, principalmente nas vozes facultativas da ciência.
Foi Francisco Henriques, no seu tempo, um médico muito distinto e erudito e mereceu grande estimação dos contemporâneos, sendo ainda hoje respeitada a sua memória.
A propósito da Medicina Lusitana de Francisco Henriques escreveu Arnaldo Gama, em nota que se lê num dos seus romances históricos: «Este é um dos especimens mais curiosos que nos legou o seculo passado, do estado em que se achava a medicina em Portugal, antes da reforma da Universidade de Coimbra. É um composto extravagante de absurdos e abusoes plebeas, e ao mesmo tempo dos mais adeantados conhecimentos anatomicos e pathologicos, que a época possuia.
Fonseca Henriques era medico de D. João V. E por isso de crêr que fosse um dos mais abalizados medicos de Lisboa. Pelo seu livro pode portanto fazer-se ideia exacta do estado em que a medicina estava então entre nós.
Para o apreciar basta saber que o medico de el-rei trata com a maior seriedade do quebranto ou mal de olhada, das febres frias, e da razão porque os filhos uns são mais humilhantes aos paes outros ás mães; explica o motivo porque algumas mulheres põem ovos e os chocam como gallinhas; prova que ha mulheres que teem trinta e mais filhos d’um ventre; discorre sobre os Sciopedes, que são homens d’uma só perna, com tão grande pé, que lhes faz sombra a todo o corpo; dá a razão porque as mãos da rapoza penduradas ao pescoço preservam do quebranto; explica a relação que há entre os rins do homem e o signo de leão, e entre as tibias e o signo aquario, e ensina até os remedios para tirar dentes sem dôr. O compridissimo receituario para este fim termina da maneira seguinte: A agua de sal ammoniaco, destillada por alambique de vidro faz cahir os dentes sem nenhuma dôr; a mesma virtude tem o coral vermelho feito em pó e mettido na cavidade do dente; e o dente de um defuncto que morresse de pura velhice, sem doença alguma, tocando com elle o dente que se quer tirar, porque o faz cahir sem violencia, como escreveu Hortemanio e Curvo».
O Sumário da Biblioteca Lusitana ainda menciona como deste autor as seguintes obras:
Pleuricologia. Lisboa, 1701; 4.°
Apiarium Medico-Chymicum, etc. Amsterdão, 1711; 8.°
Método de curar o morbogálico, etc. Lisboa, 1715; folh.
Ilustrissimo Principi D. D. Tomé de Almeida Panegyris. Ulyssip, 1717; 8.°
António de Paiva e Pona, no «Prólogo» da sua Orfanologia Prática, chama a este escritor «insigne medico transmontano».

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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