sábado, 26 de agosto de 2017

Autárquicas (como não poderia deixar de ser)

Teve ontem lugar o debate entre os candidatos à Câmara Municipal de Bragança, na RTP3. A quem não teve oportunidade de o ver, sugiro que o recupere, seja nos sites em que está disponível, seja pelos sistemas de gravação automática que a grande maioria das “boxes” dispõe. Podemos concordar, discordar e até “cortar na casaca”, mas é essencial estar informado para um voto esclarecido.

O primeiro dado a reter foi, desde logo, o abismo de experiência política entre alguns candidatos, nomeadamente entre, por um lado, os candidatos apoiados pelo PS, PSD e CDU e, por outro, pelo CDS, BE e PDR. A experiência não foi sinónimo de mais soluções ou ideias concretas avançadas por parte dos candidatos (que me parece o essencial num debate autárquico), mas ajudou muito na postura e na exposição dos discursos. Esperemos que, a bem do debate autárquico, os menos experientes ganhem algum à vontade até ao final da campanha.

Num debate em que mais de 70% das perguntas eram “adivinháveis” e, por isso, de mais fácil preparação por parte dos candidatos, foram apontados alguns problemas concretos da população do nosso concelho e uma ou outra solução ou proposta palpável.

Duas das questões colocadas pelo moderador traduzem, na minha opinião, o que se passou no debate. Uma delas, logo a primeira pergunta, mais não era do que o pedido para cada um dos seis candidatos expor o que diria a uma pessoa de fora de Bragança para lá se fixar. E aquela que me parecia, à partida, uma pergunta para derreter o gelo normal de início de debate mostrou logo uma incapacidade por parte dos candidatos do BE e do PDR em “publicitar” a nossa terra. Dir-me-ão que não é “a” função do Presidente da Câmara, mas – para mim – nos dias que correm, um Presidente da Câmara que não consegue, numa simples conversa, pôr Bragança no mapa dificilmente o conseguirá a nível político.

A outra pergunta que considero que foi particularmente reveladora foi sobre o que faz falta para as pessoas se fixarem no nosso concelho. Aqui - há que reconhecê-lo! - os candidatos do PSD, do PS, do CDS e da CDU mostraram-se bem preparadas, conseguindo avançar com uma ou outra ideia concreta. Faltou uma palavra para os muitos brigantinos que têm vontade de voltar para Bragança, nomeadamente muitos jovens que saíram por motivos académicos ou profissionais, e que não encontram as condições mínimas para arriscar e estabelecer-se na sua região. Faltou uma palavra para quem já está na região e precisa de acreditar que lutarão pelo diminuir das dificuldades que sente no dia-a-dia. Faltou uma palavra para quem teme pela sua saúde devido ao estado do SNS. E, faltando isto – como muitos outros exemplos – faltou o que para mim é essencial: o discurso para e sobre as pessoas, preocupação que deveria ser primária para quem quer ocupar um lugar autárquico.

Ganhou Hernâni Dias que soube conduzir o seu discurso para o que lhe era mais vantajoso e ter uma postura de comunicação activa e eficaz.

Mas soube-me a pouco o debate. Para quem esperava ver no debate uma lufada de ar fresco ao nível autárquico para uma cidade de futuro como é Bragança, faltou dinamismo e mais propostas exequíveis em vez de politiquice. Confesso que trocaria de bom grado o ar altivo de alguns candidatos por ideias que demonstrassem a existência de um projecto alternativo de fundo para Bragança.

Ainda que - como sempre aconteceu e com os “suspeitos do costume” - alguns candidatos mostrem ter uma maior base de suporte por parte dos partidos que os apoiam, a verdade é que no campo das ideias a máquina partidária não se mostra tão preponderante como, por exemplo, na capacidade de fazer listas às várias juntas de freguesia. Até porque, se formos analisar por aí, a leitura é também clara…

Falta mais de um mês para as eleições autárquicas. Escrevo com o à vontade de quem actualmente não tem filiação partidária, mas continua firme na sua ideologia e sobretudo na vontade de ver Bragança evoluir e ser sinónimo de prosperidade. Gostava de ver mais debates entre os candidatos e de poder comparar os programas. Seria também interessante ver mais interactividade nas campanhas e maior dinamismo nas páginas dos candidatos a nível das redes sociais, assim como interesse em difundir as suas ideias e revelar mais rostos das suas listas autárquicas. Porque mais que partidos políticos, é certo e sabido que nas eleições autárquicas procuramos pessoas confiáveis e projectos de crescimento local sustentado.


Ana Soares
in:diariodetrasosmontes.com

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