quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Pede-se uma memória mais viva sobre os ex-combatentes de guerra

Ainda há muito a fazer pela memória dos combatentes de guerra portugueses.
Quem o diz é António Batista, presidente da Liga dos Combatentes de Macedo de Cavaleiros, aquando da inauguração do memorial dedicado aos militares da 1º Guerra Mundial da aldeia de Vale Benfeito.

Uma homenagem que deveria ser feita em mais freguesias mas não só em memória da 1º Guerra, considera o presidente da liga.

“E preciso não esquecer as guerras antigas.. São bem mais recentes e ainda há muitas pessoas vivas que participaram. Portanto, eu penso que, de qualquer das maneiras, além de homenagearmos os heróis de 1914/1918, também devíamos homenagear os das guerras de 1961 a 1974. Eu acho que sim, vamos dinamizar por outras freguesias. Já temos o monumento em Macedo na Praça dos Combatentes e este que hoje homenageamos é um bom exemplo a seguir pelas outras freguesias. Há muito a fazer neste domínio dos combatentes e acho que é altura de haver liberdade de espírito e de expressão.”
Do memorial constam 10 nomes de ex-militares naturais da aldeia de Vale Benfeito que participaram na guerra entre 1914 e 1918.

Entre eles está o nome do avô de Maria Amélia Bragança, natural de Vale Benfeito, que se diz satisfeita com a homenagem e deixa ficar um apelo à juventude.

“Fiquei muito satisfeita com esta homenagem, pode ter a certeza que sim, para mim foi a maior alegria que eu podia ter. O meu avô voltou cheio de buracos na cabeça, cheio de fome, mas outros ficaram lá, nunca mais viram a família e nem a própria pôde ver o corpo, isso dói. É uma coisa que dói muito, mas paciência, é a vida esperamos nunca mais ter uma guerra. Eu penso  que a juventude devia pôr os olhos nestas coisas que acontecem, o porquê de terem acontecido, homens tiveram de sair daqui, deixarem a mulher e os filhos e lutar por uma coisa que não era deles. No caso do meu avô, tal como ele falou, quando iam roubar comida dos porcos a alemã batia neles.”

Quanto ao memorial, Armando Martins, responsável peça investigação, diz estar feliz com a concretização do trabalho que conduziu e mostra-se disponível para prestar auxilio em estudos semelhantes que venham a acontecer no concelho.

“Sinto-me feliz e contente por ter contribuído, na qualidade de estudioso da história, ajudado os meus conterrâneos a perceber um bocadinho melhor as suas raízes, de onde vêm, quem foram os seus antepassados e o que é que eles fizeram. Na pesquisa eu fiquei surpreendido como uma aldeia tão pequena conseguiu enviar dez soldados, combatentes, para as duas frentes da guerra, a frente europeia na França e a frente africana em Angola. Eu moro em Lisboa e, de alguma maneira, sou privilegiado porque os arquivos mais importantes estão lá. Se alguém me pedir para  fazer alguma pesquisa, será com todo o gosto que a farei e estou disponível para isso.”

Presente esteve Duarte Moreno, presidente do Município Macedense, que considera importante lembrar aqueles que trabalharam em prol da paz.

“De facto, esta freguesia que tem dez nomes que foram para a primeira grande guerra, portanto, Vale Benfeito fez este trabalho em homenagem aos combatentes, não existia nenhum a não ser o grande monumento em Macedo de Cavaleiros. Aqui a homenagem é aos da primeira grande guerra mas, de facto, é um sinal de que cada vez nos lembramos mais daqueles que trabalharam para que a paz existisse no mundo. Portanto, foi da primeira, serão os da segunda, serão os da guerra colonial e faz-nos falta ter na memória aqueles que nos antecederam e que trabalharam para nós.”
Declarações à margem da inauguração do memorial aos 10 combatentes da 1ª Grande Guerra naturais da aldeia de Vale Benfeito, no concelho de Macedo de Cavaleiros.

Escrito por ONDA LIVRE

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