domingo, 14 de julho de 2019

Raul Manuel Teixeira

Doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o curso em 1907, professor interino do liceu de Bragança desde 1908. Seguiu depois a magistratura e foi sucessivamente delegado do procurador da República em Santa Maria (Açores),Miranda do Douro, Vinhais, Santiago do Cacém e Ponte de Lima. Em 1924 foi promovido a juiz e serviu em Carrazeda de Ansiães, passando depois ao quadro da inactividade pela sua nomeação de secretário-geral efectivo do governo civil deste distrito, cargo que actualmente desempenha, bem como o de director da Biblioteca Erudita de Bragança, adjunta ao museu regional da mesma cidade, para que foi nomeado pela portaria de 25 de Novembro de 1927, tomando posse a 2 de Agosto de 1929.
Nasceu em Bragança (freguesia da Sé) a 13 de Agosto de 1884 e é filho de Francisco Inácio Teixeira, também nascido nesta cidade a 18 de Dezembro de 1856, e de D. Guilhermina Maria, nascida na mesma cidade e freguesia a 28 de Setembro de 1853 – por diploma pontifício de 18 de Agosto de 1930 foi agraciada com a Cruz de Latrão (medalha de prata) –, ricos proprietários. Fez os estudos liceais em Bragança e no colégio de Lamego. Casou com D. Alice Rocha da Cunha Lima, do Porto, nascida a 25 de Janeiro de 1894. São filhas deste matrimónio: D.Maria Guilhermina da Cunha Lima Teixeira, nascida a 5 de Agosto de 1913; D. Maria Alice da Cunha Lima Teixeira, nascida a 21 de Março de 1915 e D. Maria Sofia de Lurdes da Cunha Lima Teixeira, nascida a 18 de Fevereiro de 1918.
O Raul – assim é tratado na roda dos seus admiradores – marca fundamente pela sua individualidade literária assaz comprovada no jornalismo e em produções de maior fôlego impressas, cheias de fino espírito, de verbe cáustica relevada pela blague esfuziante da hilaridade. E marca de modo especial pela modalidade de culto esteta e crítico de arte.
A sua passagem através das comarcas em que tem servido como magistrado, ficou assinalada por luminoso facho de restauro e conservação em prol dos monumentos históricos e artísticos; em prol do melhoramento útil e embelezador; em prol da nota característica etnográfica e tradicionalista, com a dedicação de etnólogo consciente que é.
Sem pretender resenhar todas as suas benemerências orientadas pelo critério supra, diremos apenas dos esforços tendentes à restauração desses velhos monumentos de arte e de história, chamados pelourinhos, símbolos da autonomia municipal, alavancas máximas das liberdades cívicas, sitos em Vinhais, de que já até as pedras tinham desaparecido, conseguindo reavê-las após largas pesquisas; de Carrazeda de Ansiães, igualmente destruído, da monografia que conseguiu ver escrita referente a este concelho cheio de atracções arcaicas e dos esforços atinentes ao restauro da veneranda jóia românica que é a igreja intramuros de Ansiães.
«Durante a sua permanência em Ponte do Lima tanto se identificou com a vida e meio, que se tornou muito querido na roda intelectual e artística da terra, onde o seu espírito se destacava superiormente. As suas aptidões artísticas levaram-no a promover, em Setembro de 1921, uma exposição de arte concelhia, de que a imprensa se ocupou com louvor».
Na publicação de onde extraímos esta notícia, pág. 150, faz-se uma apreciação da obra do doutor Raul Manuel Teixeira «culto espírito, mixto de João da Ega e de professor da Universidade de Bonn, com seus hábitos coimbrões de boémia esturdia e seus óculos de profundo estudioso».
O doutor Raul é a alma artística do Museu Regional de Bragança, sendo por seu intermédio que nele entraram a estátua jacente de Freixiel e a lápide votiva do Deus Aerno, de Malta, duas raridades que, só por si, justificariam a existência do mesmo, além de várias outras preciosidades em epigrafia, cerâmica, serralharia, marcenaria, tecelagem e tapeçaria. Eis o que a tal respeito diz o notável homem de ciência doutor Virgílio Correia, lente da Universidade de Coimbra:
«O Museu Regional de Bragança, em que acaba de ser inaugurada a Sala de Miranda do Douro, foi para mim uma revelação.
As colecções reunidas avultam num quadro digno da sua ancienidade e valor artístico. Se não é, porque não podia ser, dado o seu processo de formação, um grande museu de Artes plásticas, vale contudo como um bom documentário de artes decorativas, entre as quais as artes regionais da talha, latoaria e serralharia teem um lugar de eleição.
É sem favor um magnífico Museu Arqueológico. A colecção de estelas, aras e marcos miliários do distrito é notável, especialmente a das estelas.
Aumenta-se agora com uma sala etnográfica o seu capital de preciosidades. Gostosamente ponho em relêvo que esta sala representa a primeira tentativa de reconstituição de um conjunto etnográfico regional, e que ela é, apesar-de pouco guarnecida ainda, uma amostra graciosíssima de bom-gosto e meticulosidade na reposição de tipos e mobiliário.
Ao Sr. .................; ao Sr. Dr. Raúl Teixeira, a cujo talento, gôsto e saber se deve a organização das colecções; ao grupo dos Amigos do Museu de Bragança na pessoa de seu dedicadíssimo tesoureiro José Montanha endereço saúdações pela obra realizada. Vergilio Correia. 27 de Fevereiro de 1930».
O que seria a restauração da Domus Municipalis de Bragança, há quase meio século reclamada e levada a efeito em 1928, sem a sua teimosia propugnadora?
Além do mais, Bragança deve-lhe: a iniciativa do coreto da praça da Sé; a do restauro do artístico cruzeiro na mesma praça, que, despedaçado, andava aos trambolhões no cemitério público, para vergonha de todos nós; a dessas educadoras placas de mármore e de azulejos que comemoram o arco de Santo António; o histórico batalhão de caçadores nº 3 e o restabelecimento da estrela iluminada nos dias de feriado nacional, nas muralhas da cidadela; a do ínclito filho de Bragança Oróbio de Castro; o painel em azulejos historiados, de S. Vicente, representando o bravo general Sepúlveda no memorável dia 11 de Junho proclamando ao povo e soltando o grito de revolta contra os franceses; a iniciativa da brilhante exposição de Arte realizada em Bragança em 1924, tão memorada na imprensa. Bragança deve-lhe a atitude de Argus vigilante, sempre pronto a zurzir implacavelmente quantos se afastam do cânon esteta sugestionados por chochos europeis.
Bragança deve-lhe: a iniciativa para o monumento aos mortos da Grande Guerra e a valiosa cooperação para a erecção do busto ao conselheiro Abílio Beça; os doze painéis de azulejos do átrio do governo civil, correspondentes a cada uma das sedes concelhias do distrito, caracterizados ou pela vista geral da terra ou por algum monumento da mesma, e mais dois representando os interessantes monumentos românicos de Castro de Avelãs e
Domus Municipalis de Bragança.

Escreveu:
O Judas... em Bragança. 1900. Folha solta, sem indicar lugar de impressão. Anónima.
Coplas da revista em 1 prólogo, 3 actos e 6 quadros: Bragança por um canudo (versos), original de... Bragança, Tip. de Ferreira Soeiro, 1908. 8.º de 7 págs., inumeradas.
No I centenário da Guerra Peninsular – Alocução proferida no Liceu Nacional de Bragança no dia 11 de Junho de 1908, perante a Academia. Porto, 1908. 8.º de 21 págs.
A Lola Currita – Número único de homenagem dos seus admiradores em Bragança. Tip.Minerva, Bragança. 4 págs., inumeradas. 
Anónimo, sem indicar ano de impressão, mas deve ser de 1909 ou princípios de 1910, pois foi em Dezembro daquele ano que a bailarina esteve em Bragança.
D. Aleixo – Romance, por conde de Aurora. Ponte de Lima, 1922. 8.º de 17 págs. e mais duas inumeradas. Contém o ex-libris e o retrato do autor.
Adeus que à vida diz António Plácido, momentos antes de ir morrer gloriosamente e em beleza nas hastes dum toiro, como apaixonado e fervoroso cultor da arte de Montes em Ponte de Lima e no S. João de 1922. Versos. Ponte de Lima, 1922. 8.º de 8 págs.
Palavras proferidas por Artur Águedo de Oliveira e Raul Teixeira, no dia 27 de Novembro de 1929, no cemitério de Macedo de Cavaleiros, à beira da sepultura do doutor António Alberto Charula Pessanha. 8.º de 16 págs. No registo final diz: «Acabou de imprimir-se em Bragança na Tipografia de Geraldo da Assunção, a XXIV-XII-MCMXXIX. 30 dias depois do da morte do doutor António Alberto Charula Pessanha».
Bragança nas suas relações com a arte de Talma – Conferência lida pela primeira vez na noite de 20 de Fevereiro de 1925, em Bragança, no Teatro Camões, por Artur Teixeira Piçarro (Cachachoilas), sócio da Academia Real das Ciências, da Sociedade Protectora dos Animais, da Sociedade de Geografia e da Sociedade Cooperativa de Consumo e Crédito de Bragança. Tip. Artística de Bragança, 1925. 8.º de 11 págs. É uma paródia burlesca, cheia de graça, recitada no Entrudo, à conferência que o mesmo doutor Raul Manuel Teixeira leu no citado teatro na noite de 29 de Agosto de 1924. O fino espírito do doutor Raul Teixeira é tão fundamente vazado na ironia que nem a ele próprio se poupa. De resto, o tal Piçarro, que a leu, nem é sócio da Academia nem letrado.
O doutor Raul Teixeira fundou e dirigiu o Jornal de Bragança e tem colaborado em O Nordeste, no jornal que fundou, no Rio Lima, Ilustração Portuguesa (em verso); Para os pobres de Ponte de Lima – Homenagem a Amélia Rey Colaço, 1922. Nesta publicação inseriu o soneto «Marianela», que também saiu no Cardeal Saraiva, semanário de Ponte de Lima, de 23 de Março de 1922; O Primeiro de Janeiro, etc.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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