sexta-feira, 15 de setembro de 2017

CACHOS DE ARROZ MADURO

Por Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)

O que foi minha vida senão imagem vista de uma janela!
Todas as coisas simples se parecem comigo.
Minha mente está cheia de lembranças,
Dos tempos de reinações, sem noção do perigo,
Tempos passados, tempos de criança,
Mas meu peito está vazio, pela saudade,
Fantasmas residem na minha mente,
Coisas que não se apagam com o aumento da idade.
Fantasmas os quais tento eliminar,
Lavando meus olhos grávidos de véspera do desfecho.
Sinto-me medíocre no mais das vezes,
Gasto o tempo, que urge pressa que não tenho,
O tempo não espera, nem são empurrados por ventos,
Lembro-me as pescarias, das armações de arapucas,
De muitos e inolvidáveis momentos,
Da molecada nadando no Rio do Pântano,
Do meu cachorro; o Viajante... .
Da minha professora dona Olga, meu primeiro amor!
De como minha família era unida, até na hora da comida,
Na respeitosa ágape, com ato de fé e de fervor,
Do descobrimento de uma nova árvore frutífera em plena mata... .
Meu tempo escoa; meu tempo passa à toa,
Lembro-me nos eitos de café ou de arroz, enxada à mão,
Enxadas de duas libras e meia, amolada à pedra,
Pelo menino caipira, que era (sou) eu,
Que se equilibra ao sol e ao vento, inda mais da chuva.
Cai água sobre meus olhos, salgada, como o suor o é,
Água salgada de um mar desconhecido,
Que se agita nas profundezas de meu ser.
Olho o arrozal com seus cachos dourados,
Que se repetem ad eternum, no passar dos anos,
E o milharal enfeitado pelos pendões em flor,
Formando ondas, ao sabor dos ventos mogianos.
 Seguia meu destino, cortando mato,
Capinando, envolvendo o guatambu,
Mão esquerda à frente, a destra atrás,
Ora corto à direita, ora à esquerda,
E, de um modo talvez errôneo,
Cubro meus pés com a terra e a relva,
Espécie de sepultamento em vida;  parcial e momentâneo.
Limpo o suor dos meus olhos de menino caipira,
Com a manga da camisa desbotada e observo,
Sob o sol mogiano, o verde do roçado que me fascinava,
Hoje me faltam lágrimas; sobram-me lembranças,
Fico dias sem ver as estrelas, que via nas reinações de menino,
Talvez eu não exista agora (tal como as estrelas que vemos no céu),
Não vejo a lua, nem seu clarão, não vejo o sol do meio-dia,
-Será que na encosta da montanha da vida,
Em pleno declínio, encontrarei a paz?
-Será que estou sonhando, Senhor?




Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS

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