segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Minas de Montesinho nas Memórias Arqueológico-Históricas

Resumo do relatório detalhado e documentado apresentado pelo engenheiro H. Sergant ao director gerente
Minas do Portelo
«A aldêa de Montesinho está situada pouco mais ou menos a 20 kilometros ao NNE – de Bragança, e a 2 kilometros da fronteira de Hespanha, na extremidade da provincia de Zamora, e da Galliza.
A aldêa collocada sobre a margem direita da ribeira de Villar, considerada como um dos affluentes das nascentes do rio Sabor, está assente sobre o granito, por ser ponto de contacto com os schistos de transição (micaschistos).
A linha divisoria está bem determinada pela ribeira de Villar, e a do povo. Essa linha está pouco mais ou menos na direcção Este-Oeste.
A direcção dos schistos é geralmente NO, e varia entre 30° e 45°. A sua inclinação é para SO, e varia entre 60° e 80°.
As rochas do contacto dos dois terrenos participam da sua composição respectiva, e estão extremamente transtornadas e recortadas por falhas.
O terreno metallifero fórma uma faxa em direcção approximativa 110° NE, e tem de espessura média cêrca de 900 metros. Essa faxa acha-se collocada quasi inteiramente entre os schistos micacaceos, e em contacto immediato com os granitos.
A superficie das concessões de Montesinho deve ser tomada ao sul da aldêa, e estender-se, conforme a linha de contacto sobre uma largura média de 200 metros. Emquanto ao seu comprimento estimamol-o, em consequencia das nossas observações, em 3:000 metros, isto é, partindo do ponto chamado Alto da Fonte Estanheira até á fronteira de Hespanha no sitio chamado Fragas da Formiga.
Julgamos desde já ter que dividir os filões em dois systemas diversos, cujas direcções são quasi perpendiculares uma a outra.
Em Montesinho os dois systemas de filões foram egualmente explorados antigamente nos seus affloramentos. Resulta d’ahi na sua superficie uma continuação poucas vezes interrompida de depressões, correspondendo sempre a montões de terra removida, composta principalmente de fragmentos de quartzo, proveniente dos mesmos filões.
Encontram-se alli poucos schistos, mas não é raro observar grandes fragmentos de mica amarello e branco, e alguns mais pequenos e oxide de estanho.
Todas essas depressões são outras tantas explorações superficiaes, parallelas entre si, o que parece indicar a mesma posição relativamente aos filões já explorados. A julgar dos filões pelo grande numero de depressões segue-se que os filões devem ser muito numerosos.
O systema dos filões que correspondem a esses montões de quartzo é aquelle cuja direcção está sempre comprehendida entre NE 80°, e NE 120°.
A sua inclinação é igualmente de 60° a 75° ao SO, todavia alguns pendem de 50° a 60° NO.
O outro systema de filões perpendiculares ao do primeiro systema, indica geralmente que a sua direcção é pouco mais ou menos de 15° a 20° do NO para o SE. Elles são marcados no terreno por depressões assás grandes, e por desentulhos compostos principalmente de schistos Hornblenda negros, acastanhados, ou vermelhos, e muitos de grandes dimensões.
O ferro no estado de oxido negro encontra-se frequentemente em pedaços grandes, mas o quartzo é pouco abundante.
Não me tendo sido possivel ainda chegar a um desses filões, em consequencia de falhas, que fizeram malograr, a unica tentativa feita para o conseguir, não posso indicar qual a sua inclinação nem tão pouco calcula-la.
Supponho que essa inclinação deve ser para o E e não póde exceder E 5° 30°, medindo-a sobre a linha horizontal.
Tudo me faz acreditar que as explorações do segundo systema foram muito mais importantes que as do primeiro. Essa minha opinião é o resultado de observações feitas sobre as depressões da superficie, que denunciam trabalhos antigos consideraveis na largura, se bem que pouco profundos na apparencia.
Cremos que os filões do segundo systema são dos a que na Inglaterra chamam filões camada. A hornblenda domina na ganga, e nos affloramentos apresenta-se o chapeo de ferro gossan. É pelo menos o que se póde concluir da composição dos desentulhos antigos.
Perto da linha de contacto dos schistos, e dos granitos, nota-se, nestes ultimos, uma continuação de pequenos filões de 2, 3, 4, e ás vezes 10 centimetros de espessura, contendo quartzo puro, quartzo ocariado myspickel, e oxido de estanho acompanhado com oxido de ferro: o estanho apresenta-se em pequenos crystaes, sobretudo nas partes um pouco micaceas.
Essas juntas ou pequenos filões teem a direcção NE, variando de 80° a 110°. Ora, como indiquei anteriormente, os filões do primeiro systema comprehendidos nos schistos levavam a mesma direcção: parecia então natural concluir que os filões dos granitos tanto como os dos schistos teem uma mesma causa de floração, uma origem commum, e que poderia muito bem acontecer que elles fossem a prolongação uns dos outros.
Um ponto favoravel perto da linha de contacto talvez podesse permittir- nos o verificar o facto por meio de alguns trabalhos; mas apesar das minhas pesquizas ainda não pude encontrar esse ponto. Por toda a parte na linha de contacto os terrenos estão entulhados, desmoronados ou transtornados de tal modo que esta empreza não daria resultado.
Passando pela vista a planta geral annexa ao Relatorio vê-se que proximo aos pontos chamados Alto da Fonte Estanheira, e Fragas da Ferreira, visinhos um do outro, encontram-se figurados trabalhos antigos na direcção NE 90° approximadamente, o que vem ainda reforçar a nossa theoria da origem commum, e da continuação abaixo da superficie dos filões nos terrenos de granito, e nos schistos. Essa observação offerece também um exemplo de filões estaniferos nos granitos de Montesinho a mais de 100 metros dos schistos.
Quando visitei Montesinho pela primeira vez, observei todos os factos acima narrados, e conclui que existia d’uma maneira muito positiva um immenso stockwerck de estanho, e os vestigios dos muitos trabalhos antigos, por mim observados, não me induziram a acreditar que a exploração tivesse sido muito profunda.
Havia com effeito uma grande superficie de pesquizas antigas, mas nenhum trabalho importante denunciava uma exploração profunda.
O que se devia então pensar desses trabalhos, e da época em que tinham sido emprehendidos?
Duas hypotheses se apresentavam com a mesma certeza de veracidade:
1.ª Todos esses trabalhos (superficiaes) podem ter sido feitos pelos habitantes n’uma data, que remonta apenas a alguns seculos.
2.ª Os romanos, os phenicios, ou quaesquer dos povos navegadores e conquistadores podem ter emprehendido essas explorações.
Ora, como pessoalmente tive occasião, durante longos annos, de adquirir um certo conhecimento pratico dos trabalhos minerios dos antigos conquistadores da Peninsula Hespanica, não me era possivel admittir que as pesquizas antigas fossem obra delles, sem ao mesmo tempo admittir que, visto elles não terem praticado trabalhos em profundidade, era porque tinham a certeza que o estanho não existia.Mas nesse caso teriamos encontrado á superficie os vestigios de alguma daquellas galerias gigantescas ou poços profundos, que em cazos taes costumam sempre abrir. Elles não podiam abandonar assim, sem terem a certeza da sua esterilidade, um terreno que parecia conter mineraes, que tanto estimavam e procuravam.
Demais, os immensos trabalhos que elles fizeram no sitio de França (4 kilometros SO de Montesinho) são uma prova evidente dos seus conhecimentos mineiros, e do arrojo com que emprehendiam trabalhos.
Crêmos então que, admittindo-se que os antigos (phenicios, romanos ou outros) foram os autores das pesquizas que se encontram em Montesinho, tiveram que desprezar ou abandonar os seus trabalhos, quer fosse para empregarem todos os seus esforços nas gigantescas excavações de França, quer fosse por motivos politicos como por exemplo a obrigação em que estivessem de evacuar o paiz.
A primeira hypothese é muito mais plausivel. Com effeito se considerarmos o estado de ignorancia em que jazem ainda todas as populações desse cantinho do mundo, em que está situada a aldeia de Montesinho, e das circumvisinhanças, ser-nos-ha facil acreditar na impossibilidade que tradição nos podesse transmittir alguns pormenores sobre o modo de vida dos habitantes desse paiz ha 400 ou 500 annos. O que é certo é que nenhum ancião se lembra ter ouvido falíar em que os seus antepassados tivessem explorado o estanho em Montesinho.
Por outro lado, qualquer pessoa que tenha viajado nas aldeias do norte da provincia de Traz-os-Montes, deve ter reparado, assim como nós, a enorme quantidade de utensilios de estanho, que possuem os habitantes.
Não se entra n’uma caza sem ali encontrar bacias, pratos e vasos de estanho para o vinho, conhecidos pelo nome distinctivo de «pichel». Não se encontram assim vasos de estanho no Minho, no Alemtejo e nos Algarves.
Julgamos então poder acreditar que todos esses vasos de estanho proveem das explorações feitas pelos antepassados da actual geração.
Apesar de tudo, na presença da falta absoluta de provas para qualquer das hypotheses, e á vista do bello aspecto dos terrenos metalliferos, não podiamos, nem aconselhar a abstenção, nem procurar rehabilitar as minas com trabalhos precipitados.
Aconselhamos a prudencia antes de emprehender trabalhos custosos.
Era preciso fazer de alguma fórma desapparecer as duvidas que havia a respeito da falta de prolongamento dos filões de estanho n’uma certa profundidade: eis o motivo porque aconselhamos os trabalhos, que vamos indicar antes de tomar uma decisão definitiva.
Aconselhamos a abertura de uma galeria 80m n’um ponto vantajoso no nivel inferior, e a 70 metros approximadamente da Chaira da Cruz (ponto central dos affloramentos).
Essa galeria foi principiada em setembro de 1863 e continuada com diversas interrupções por causa do mau tempo até 15 de abril de 1864.
A abertura da galeria que foi denominada de S. Domingos tinha uma dupla vantagem.
1.º Reconhecer o seguimento dos filões na profundidade e seu estado de riqueza.
2.º Mais tarde essa galeria convenientemente prolongada devia fornecer-nos um precioso meio de esgoto e de exploração.
Em 14 de abril reconheci nessa galeria um comprimento de 54 metros já abertos, tendo 2 metros de largura sobre 2 de altura.
Tinhamos atravessado 4 filões estaniferos.
O 1.º a 6 metros de entrada
O 2.º a 11 metros de entrada
O 3.º a 21 metros de entrada
O 4.º a 29 metros de entrada.
Os dois primeiros deram um pouco de oxido de estanho, o 3.º deu mais algum na sua travessia – 60 arrateis approximadamente, do theor de 20%. Esse filão tem uma possança de 0m,30.
O 4.º deu pouco mais ou menos 40 arrateis do theor de 20%, e tem a possança 0m,25.
Tem actualmente a galeria de S. Domingos um comprimento de 87m,75.
A’ distancia de 58m, o da entrada, recortou-se ainda um filão mais importante que os outros.Mas partindo desse ponto até aos 87m,75 não se encontraram senão pedaços de filões a diversas distancias, e perturbados em consequencia dos transtornos produzidos por uma zona de falhas em diversas direcções.
Suppomos que essas perturbações têm apenas uma influencia local, não passando além de uns trinta metros de comprido já quasi atravessados.
Poços inclinados D, L, M. – Os filões dos poços, D, L, M, apresentam-se até ao fundo actual com bastante regularidade; encontraram-se ali algumas bolsas de bello mineral em diversos pontos.
Não se póde todavia assegurar que sejam muito bons filões; será preciso abrir galerias em direcção para os reconhecer. É o que tencionamos fazer no poço D, logo que o fundo do poço tenha chegado ao nivel da galeria S. Domingos, e tiver communicado com essa. Esses reconhecimentos servirão para julgar, por analogia, os filões dos poços L e M, que teem a mesma composição mineralogica que a do poço D. Poços verticaes “Caridade” e “Sorte” – Os poços verticaes Caridade e Sorte estão colocados á beira de depressões indicando explorações antigas de uma certa importancia. O nosso intento, abrindo esses poços, foi o recortar os filões já explorados, por meio de galerias transversaes.
A galeria transversal do poço Caridade acresentou de novo filões transtornados pelo caleño; um só desses filões é que deu algum estanho na sua travessa. É provavel que fosse por causa do caleño que não encontramos trabalhos antigos, que muito raras vezes atravessavam este caleño.
Na galeria do poço Sorte sempre se nos apresentou o terreno desarranjado, e não deu mineral.
Essas duas travessas terão que ser continuadas mais tarde. O poço Sorte atravessou os entulhos de uma exploração antiga.
Poço e galeria do filão “Luiz”, 2.º andar. – O poço do filão Luiz deu em resultado o reconhecer que o filão tinha de espessura 0m,60 e continha alguns crystaes de estanho. Esta pobreza do filão deve ser toda local, porque elle apresenta-se bem, com effeito a 15m mais para leste, e sobre affloramentos uma pesquiza feita pelo Sr. Thomaz de Sá, antes da cessão feita á companhia, deu aproximadamente 30 arrobas de oxido de estanho, e entre as amostras de mais volume uma dellas pezava 54 arrateis de oxido de estanho.
Á vista desta boa amostra, e por causa da posição topographica do terreno, determinei que devia ser o ponto de entrada da galeria do 2.º andar. Na continuação da galeria atravez esse filão encontrou-se pouco estanho. Parece que entramos na zona de pobreza, mas apezar d’isto nos dois ultimos metros furados tornamos a achar bastante estanho. Esse filão promette ser bom.
Trabalhos principaes do primeiro andar – As galerias F, G, H, e os poços correspondentes. – A galeria F, aberta segundo o prolongamento de uma pesquiza antiga entulhada, seguiu os antigos trabalhos até 8m e passou depois por debaixo delles, seguindo o filão que se adelgaçou consideravelmente: bem depressa nos appareceram os desarranjos, e pedaços de filões recortados e desconjuntados por falhas. O ar principiava a faltar, e reconhecendo a necessidade de abrir um poço de ventilação, deixamos esse trabalho para mais tarde.
Cremos que a irregularidade, e o estreitamento do filão são devidos á visinhança do caleño.
Na galeria G, principiada no meio de trabalhos antigos entulhados, depressa se encontrou o caleño. O filão estreitou e desappareceu.
Uma travessa de 28m,0 de comprimento no intuito de reconhecer o transtorno, e de recortar o filão, mostrou de novo 12 filões todos estreitados pelo caleño. Encontrou-se estanho em 4 desses filões.
Um outro filão tinha sido explorado até ao caleño e entulhado. Fizemos ali um poço interior, que depois de ter atravessado o caleño encontrou de novo o filão que estava deslocado um pouco por uma falha, mas tornava depois a regularisar-se. Continha um pouco de estanho.
Emfim, na mesma travessa furamos ainda um poço interior num dos filões, que davam estanho. Encontramos ahi também uma falha deslocando um pouco o filão, mas que se regularisava tambem na profundidade.
Deu um pouco de estanho. O nosso intento é continuar mais tarde com poço interior até ao nivel do 2.º andar. Servir-nos-ha para ventilação, e poderemos dessa maneira reconhecer o filão até 23m de profundidade.
A galeria H é a que foi levada mais longe. Aberta no meio de dois filões gemeos explorados, e entulhados na cabeça, seguimos os trabalhos antigos nos dois terços da altura da galeria na zona do caleño, até um ponto onde um transtorno fez desapparecer tudo.
Esperando encontrar os filões mais adiante, continuamos a galeria, mas ao fim de 20 metros, não tendo encontrado nada, voltamos para traz, e mandamos fazer uma travessa no meio das perturbações. A 6 metros de distancia encontramos de novo esses filões reduzidos a um filão unico, bastante estanifero. Seguimol-o pela galeria Esperança num comprimento de 28 metros sem encontrarmos interrupção. Tendo furado o poço Esperança para nos dar ventilação encontramos o filão com um bello aspecto de riqueza.
O filão Esperança desappareceu no fim de 28m em consequencia de duas falhas, que sobrevieram uma após a outra. O filão deve ter sido deslocado em profundidade.
Procuramol-o em profundidade por meio de um poço interior e ahi encontramos um pequeno pedaço, mas no caleño, e por consequencia em más condições. Continha muito estanho.
Tencionamos procural-o mais tarde em maior profundidade pelo mesmo poço interior, combinado com um poço vindo da superficie, talvez com o poço Porvir.
O caleño diversas vezes foi encontrado debaixo dos pés na galeria Esperança. Tencionamos verificar o filão debaixo do caleño pelo meio de alguns poços interiores praticados segundo o filão nessa galeria. Temos a esperança de encontrar ahi uma zona de grande riqueza.
Pela galeria H prolongada, fizemos uma tentativa para encontrar o filão camada, que suppunhamos devia passar a 15m approximadamente a leste do poço Esperança, e devia ter a direcção NS, e a inclinação para oeste.Veja o esboço junto.
O esboço representa os trabalhos dos poços Fé e Porvir e os praticados a leste do poço Esperança, em projecção vertical. O massiço D deve ter sido cortado pelos antigos para explorar a cabeça do filão.
Ao lado da cavidade D e ao sul encontram-se montões de desentulhos, das rochas e terras superficiaes, e outros de schistos hornblenda, provenientes de decomposição das rochas continentes. Ha ferro no estado de oxido negro, e pouco quartzo.
Ha evidentemente ali um grande filão começado a explorar. Aproveitei a proximidade dos poços Esperança e Fé para explorar os terrenos debaixo da depressão. Julgava eu que a não encontrar falhas devia dar com um filão ou com trabalhos antigos.
Mandei abrir o poço Porvir onde se encontraram entulhos antigos até 3m,50 de profundidade. O terreno depois apresentou-se solido.
Dei ordem para continuar a galeria H mais adiante sobre H’ e em H” encontramos de repente terrenos muito humidos, filtrando agua em abundancia. Esperando encontrar finalmente o que procurava mandei prolongar de H’ em H” isto é, de 30m, e os terrenos continuaram a dar-nos agua em abundancia, mas com esta particularidade que ao passo que se chega mais adiante, os terrenos seccam-se por detraz. A agua nasce sempre na parte do corte. Ha evidentemente diante de nós um grande pedaço inundado, a que nós vamos chegando passo a passo. Devemos encontrar mais adiante alguma coisa parecida com o filão figurado no esboço.
É o que os futuros trabalhos nos dirão.
Pelo que fica acima dito vemos as difficuldades que se apresentaram nos trabalhos até hoje. Nada exageramos.
Julgamos com razão poder dahi tirar as seguintes consequencias.
1.º O caleño posterior aos filões, visto recortal-os, é uma grande falha horizontal, que no momento da sua formação deprimiu todos os filões que ella atravessou, e somente a poucos metros de espessura.
O caleño não tem influencia sobre a riqueza dos filões visto que esses filões existiam antes da sua formação.
Nesse caso affastando-nos do plano do caleño, não temos nada que recear da sua acção de depressão sobre os filões.
2.º As falhas não nos parecem apresentar sérias difficuldades senão até ao momento em que poderemos reconhecer a sua direcção e as consequencias della.
A’ circunstancia de termos encontrado as falhas ordinarias e o caleño, é devido o pouco sucesso nas nossas pesquizas do 1.º andar, em que se reune a quasi totalidade dos nossos trabalhos.
Do filão do poço Fé – Esse filão seguido sobre 17m tem de espessura média 0m, 25. É recortado por duas falhas que o deslocam, e estreitam no espaço de 4m que o separa.Mas essa influencia localisa-se perto das falhas, e não se estende. Temos com effeito encontrado riquezas sobre 13 metros de comprido na galeria ja furada. O caleño ainda o atravessa na nossa galeria, e observamos uma tendência geral do filão para augmentar em possança, ao passo que elle se afasta do caleño, dirigindo-se em profundidade. Temos grandes esperanças nesse filão.
Na actualidade não podemos calcular o valor do mineral contido na parte já descoberta da galeria, porque ignoramos a altura aonde chega o filão, mas dar-nos-hia decerto uma boa quantidade de minerio.
Em quanto aos 28m já reconhecidos do filão do poço Esperança suppomos que se poderá explorar numa altura de 10m e temos a certeza que nos ha de dar bons produtos.

Lisboa, 9 de setembro de 1865».

Nota – Esta notícia sobre as minas de estanho de Montesinho, concelho de Bragança, é uma cópia da parte que no opúsculo intitulado Relatório sobre as minas de estanho de Montesinhos, Lisboa, Tip. da Sociedade Tipográfica Franco-Portuguesa, 8.º, 1865, fez Francisco de Oliveira Chamiço e Henrique Sergant; pertence a este último. O relatório de Chamiço trata apenas da parte económica da exploração da mina. Este opúsculo é extremamente raro e por isso dele damos tão largo extrato; não vem mencionado no Dicionário Bibliográfico de Inocêncio; em vão o procurámos nos catálogos das livrarias e bibliotecas por o vermos citado em Ribeiro até que por fim fomos encontrá-lo anunciado no Catálogo Nova Série, tomo I, 1909, da Biblioteca Municipal do Porto, artigo «Chamiço».

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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