sexta-feira, 13 de outubro de 2017

António Álvares

Licenciado. A 30 de Agosto de 1587, em Vinhais, «dentro nas casas ordenadas para mosteiro, estando ay presente o Il.mo Snr. Dom Jeronymo de Menezes Bispo de Myranda do douro e asi Maria de S. Boaventura e religiozas da ordem de Santa Clara que com patente, e licença do seu ministro vinhão a fundar hû Mosteiro de Santa Clara na villa de Vinhais, conforme a hû breve do Papa Gregorio decimo tercio então presidente na igreja de Deus.
No qual dizia como o licenciado Antonio Alvares com algumas outras pessoas nobres determinavão fundar hum mosteiro da ordem de Santa Clara na villa de vinhais por ser obra de muyto serviço de Deus e mui importante para agazalhar donzelas de limpa geração e bons costumes as quais serião da obediencia do Bispo que fosse e dos successores sojeitas em tudo a sua jurisdição ordinaria.
Porquanto pello Bispo seu antecessor de louvada memória fora dada licença para edificar mosteiro avendo por conveniente a substentação que offerecião e que posto que so o licenciado Antonio Alvares dava dozentos e tantos alqueires de pão de renda e se obrigava a dar e comprar a outros dozentos alqueires dentro um anno, alem de gastar muito do seu no que estava conprido e feito e agora de novo gastara trezentos cruzados na casa e deixara muitas cousas para substentação da caza com duzentos cruzados mais para irem gastando, pedião a Sua S. lhes tomasse a obediencia conforme o breve, o que visto pello snr. Bispo como obediente aos mandados apostolicos... tomou o sello e regra da ordem e da sua mão os deu a madre maria de sam boaventura e a fez e constituiu abbadeça do convento conforme a ordem e regimento dos mosteiros de Santa Clara neste Reino e ella lhe deu obediencia e tomou o cargo da mão de sua Ill.ma S. que lhe lançou a benção, e o mesmo fizerão as duas companheiras vigairas e tangedora dando sua obediencia a elle como a seu superior».
A 9 de Junho de 1650 Pero Moniz da Silva, licenciado, abade de Vinhais, fez doação ao mosteiro de Santa Clara da mesma vila de trezentos e cinquenta alqueires de trigo, dezoito galinhas, um carneiro e 800 réis em dinheiro, que ele recebia anualmente de foros na vila de Penela, comarca de Tomar.
A 24 de Junho de 1587, António de Abreu Ferreira, licenciado, juiz de fora da cidade da Guarda, deu licença a sua mulher Helena da Nóvoa para esta doar, como doou, ao convento de Santa Clara de Vinhais, os «uzos fruitos dos bens que fiquarom de afonso da noboa e de sua molher ja defuntos». No documento faz-se a resenha descritiva dos bens doados.
Pelo tempo adiante arruinou-se o convento, e porque também era necessário ampliá-lo para recolher mais noviças, a 4 de Julho de 1648 deu licença o cabido de Miranda, sede vacante, para que «os moradores da Villa de Vinhaes, e mais gente de seu termo assi seculares como Ecclesiasticos» fizessem essas obras, como pediam e estavam dispostos.
Em 1650, Jerónimo de Morais Valcacer, abade de Celas, Francisco Dourado, capitão-mor, e Francisco Colmieiro de Morais, moradores em Vinhais, requereram ao cabido para que mandasse vistoriar as obras feitas no convento de Santa Clara de Vinhais, autorizadas pelo despacho, acima citado, de 4 de Julho de 1648, em que gastaram passante de 600$000 réis, a fim de ver se estavam em condições.
O cabido encarregou a 16 de Junho de 1650 desse exame o doutor João Álvares de Carvalho, cónego-doutor da Sé de Miranda, o licenciado Pedro Mendes da Silva, abade de S. Fagundo, de Vinhais, Gaspar Álvares de Carvalho, abade de Mofreita, e João Pereira, cura da freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Vinhais. Acharam «que a egreja está feita em forma que se podia benzer, e nella dizer missa, como se fez, e vio a obra feita da dita casa e a mais que de antes avia, e claustros, e officinas, e achou estava a dita obra em forma porem sendo feitas e faltas que abaixo se declarão». Segue-se a resenha das imperfeições que se deviam remediar, todas de pouca monta.
Na mesma resenha vem a licença dada a Rui Dourado de Morais para fazer uma capela para sua sepultura na sacristia ou arrumada a ela.
O cabido encarregou a 13 de Setembro de 1650 o mesmo cónego-doutor João Álvares de Carvalho de ver o estado moral das religiosas e se deviam entrar mais freiras. Ao tempo havia só duas: Catarina da Trindade, de setenta e quatro anos, abadessa, e D. Francisca da Conceição, de sessenta anos, sendo certo que quando aquela professou havia catorze freiras.
Das testemunhas que foram inquiridas para avaliar do estado religioso do convento citaremos: Rui Dourado de Mariz, cavaleiro do hábito de Cristo, João de Morais Valcacer, abade de Celas, Jerónimo de Morais Sarmento, Francisco Colmieiro, António Ferreira de Sá, António Pinheiro de Sá e Pedro Moniz da Silva, abade de S. Fagundo de Vinhais. A abadessa no seu depoimento disse: que as religiosas viviam em clausura sem dar escândalo, «sem té hoje aver cousa em contrario, salvo hûa que se emputou a certa religiosa».
A 7 de Janeiro de 1740 deu el-rei licença, como pediam, aos moradores de Vinhais para fundarem um Seminário de religiosos reformados, que tivesse dez frades, sendo seis confessores, três pregadores e um só leigo, como concedera à cidade de Miranda, visto fazerem falta para atenderem às necessidades espirituais da terra. Neste documento faz-se a demarcação por varas da largura e comprimento que devia ter o terreno para a construção do convento.
No Museu Regional de Bragança, maço Correspondência Episcopal especial, há uma carta datada de 26 de Novembro de 1878 do ministro da Justiça, dirigida ao governador deste bispado, em que diz ter oficiado ao governador civil do distrito de Bragança para que, de acordo com a autoridade eclesiástica, mande vistoriar o convento de Santa Clara de Vinhais, que lhe consta estar em ruínas, a fim de se orçamentarem as despesas necessárias aos reparos. Ao mesmo tempo diz também constar-lhe que a única religiosa que existe no convento está um pouco dementada, de que resulta terem desaparecido muitos haveres do mosteiro, sendo por isso necessário que tome providências nesse sentido.
Visto ter alguma relação com o assunto do citado convento, damos mais o seguinte informe: D. João de Sousa Carvalho, bispo de Miranda, chamou frades trinos descalços para esta cidade, e, de harmonia com o cabido e gente da terra, construíram-lhe pelos anos de 1718 uma pequena igreja e casa de residência, sendo frei Álvaro Português, religioso da província de Castela, o contratador, por parte dos frades, para se estabelecerem em Miranda. Em 1756, porque a maior parte dos religiosos fossem espanhóis, mandou el-rei expulsá-los e demolir o convento; porém, o bispo, cabido e povo representaram-lhe pedindo a sua conservação pelo bem espiritual que faziam.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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