sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Dedos Biónicos, dez anos de “sangue, suor e lágrimas” e conquistas

A promotora alternativa brigantina comemora 10 anos de vida com um ciclo de 10 concertos.
O Bom, O Mau e o Azevedo, Cassete Pirata, Chinaskee & os Camponeses, Surma, Homem em Catarse, Galo Cant’às Duas, The Orb e Veer são, apenas, alguns dos nomes (já confirmados) que irão atuar em Bragança até ao final do ano.
A promotora de eventos e Agência de Booking, Dedos Biónicos, celebra o seu 10º aniversário com um ciclo de 10 concertos, a decorrer em Bragança. Cada fim de semana, a começar esta noite de sexta-feira com a atuação de Chain no espaço Plataforma de Arte e Criação, e terminando somente no final do ano, irá ser comemorado com o que de melhor se faz cá dentro e lá fora (de portas) no cenário da música alternativa.

Integram este ciclo de concertos, “o free jazz de Rodrigo Amado Motion Trio e Chain, a pop prometedora cantada em Português dos Cassete Pirata e de Chinaskee & os Camponeses, a eletrónica sonhadora de Surma, a viagem interior do Homem em Catarse, a fusão pós-rock/jazz dos Galo Cant’às Duas, o experimentalismo dos The Orb, a electro-pop tímida de Veer ou o Surf-rock de O Bom, O Mau e o Azevedo”.

Os concertos irão ter lugar em diversos locais do centro da cidade, a maioria já confirmados, sendo que o custo de cada ingresso varia, indo “do donativo consciente aos 5 euros”.

Sedeada na capital do nordeste, a promotora Dedos Biónicos assinala um número redondo, capaz de cumprir e prometedor em relação ao futuro, mas que, sobretudo, enche o coração de orgulho de quem tem seguido de perto o trabalho desenvolvido pelo homem “por detrás da máscara” que é a Dedos Biónicos, que ao convidar artistas nacionais e estrangeiros a atuarem no “Reino Maravilhoso”, nas palavras de Miguel Torga, tem vindo a semear pela voz e pelos olhos dos mesmos, a extrema beleza e a singular cultura, não só da cidade que o viu nascer, mas também de toda uma região de Trás-os-Montes, pela Europa e pelo mundo, prestando a todos um verdadeiro serviço público. Até porque, em 10 anos, foram mais de 400 concertos e duas mãos cheias de festivais que, basicamente, resumem a filosofia da promotora brigantina que, segundo Nuno Fernandes, “aposta no ecletismo musical que visa destabilizar convenções e impor a descoberta”. Mas nem tudo tem sido um mar de rosas... Ou as ondas são demasiado fortes ou as rosas, por vezes, transbordam de espinhos. “Nestes 10 anos de Dedos Biónicos, as principais dificuldades sempre se prenderam com o público brigantino que é pouco mutável e quase sempre resistente à mudança”, manifestou o próprio, não em jeito de crítica, mas, antes, em tom de incitamento à própria transmutação de mentes, nomeadamente, no que à mente própria do interior diz respeito, por vezes demasiado agarrada ao passado ou com receio de tudo aquilo que é novo ou não conhece.

Centenas de concertos com artistas de excelência mereceram a Bragança o granjear do título de terceira cidade, após Lisboa e Porto, no ranking do roteiro alternativo de Portugal.

“Sempre foi complicado tirar proveito do equipamento municipal, a falta de apoios estruturais foi sempre um entrave para se fazer mais e melhor”, expôs o responsável máximo pela principal promotora de música alternativa da região transmontana. E exemplos que ilustrem a importância e esta caraterização da Dedos Biónicos como sendo a “principal promotora de música alternativa de Trás-os-montes” não faltam. Sem se filiar a um só género, a Dedos Biónicos colocou no interior norte do país nomes tão incontornáveis como Calvin Johnson, Mike Watt, Glenn Jones, Ian Svenonius, Laetitia Sadier, Carla Bozulich, Peter Broderick, Steve Gunn, Norberto Lobo ou Matt Elliott, e bandas tão influentes como os Moon Duo, Altar of Plagues, Nadja, Motorama, Girls Names, The Underground Youth, Triângulo de Amor Bizarro ou Enablers. Artistas tão relevantes que, nos primeiros 5 a 6 anos de vida da promotora independente, galardoaram Bragança como a terceira cidade, depois de Lisboa e do Porto, naturalmente, no roteiro da música alternativa em Portugal. E esta conquista deu-se numa perspetiva de resistência, pois a Dedos Biónicos não só sobreviveu, sem apoios financeiros, municipais ou de qualquer outro âmbito, como foi distinguida com a terceira posição no ranking do roteiro alternativo de todo um país.

Por último, mas não menos importante, bem pelo contrário, “existe, ainda, o problema da desertificação, pois não é fácil programar para públicos minoritários quando cada vez há menos gente a viver na cidade de Bragança”, recordou, consciente da realidade, Nuno Fernandes, expressando algumas das dificuldades pelas quais tem navegado, mas, sempre ou quase sempre, chegando a bom porto. Como diria Mia Couto, “Não é o destino que conta, mas o caminho” e o caminho da Dedos Biónicos tem-se feito, demasiadas vezes, de “sangue, suor e lágrimas”, no sentido figurado, mas, acima de tudo, de pequenas conquistas e são essas pequenas grandes conquistas que suplantam as dificuldades da travessia e que, no fim, fazem com que tudo valha a pena.

Quanto ao futuro, “é sempre incerto”, confessa, mas o empresário, no sentido de que tem investido, pessoal e profissionalmente, na divulgação de uma música não convencional, alheia ao “mainstream” e no desenvolvimento de um pensamento e de uma cultura “outside the box”, promete “continuar a difundir as culturas alternativas e emergentes em Trás-os-Montes. Queremos fazer esse trabalho a nível particular porque de outra forma mais ninguém o faria”. E é desta matéria que se edificam os Homens que marcam a História ao primarem pela diferença.

PROGRAMA DO 10º ANIVERSÁRIO DA PROMOTORA DEDOS BIÓNICOS:

17 Novembro: CHAIN na Plataforma de Arte e Criação
18 Novembro: GALO CANT’ÀS DUAS no Museu do Abade de Baçal
23 Novembro: CASSETE PIRATA no Museu do Abade de Baçal
25 Novembro: HOMEM EM CATARSE na Casa da Seda do Centro de Ciência Viva de Bragança
02 Dezembro: CHINASKEE & OS CAMPONESES no Museu do Abade de Baçal
09 Dezembro: VEER na Galeria História e Arte
09 Dezembro: SURMA na Plataforma de Arte e Criação
15 Dezembro: RODRIGO AMADO MOTION TRIO no Museu do Abade de Baçal
16 Dezembro: THE ORM no Salão Tó-Liz Hair Designer
23 Dezembro: O BOM, O MAU E O AZEVEDO na Plataforma de Arte e Criação

Bruno Mateus Filena
in:diariodetrasosmontes.com

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