terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Suevos e Vândalos na História do Distrito de Bragança

Nada deixaram os escritores romanos, pelo menos que chegasse até nós, relativamente ao distrito de Bragança, se bem que a arqueologia mostra claramente a disseminação do povo iate rege por esta região [21].
De Políbio e Tito Lívio colhe-se que nem os fenícios nem os cartagineses entraram nela, e dos romanos foi o procônsul Décio Júnio Bruto o primeiro que conquistou todos os povos entre o Douro e Minho, empresa tão difícil e de tanta glória, que o povo romano lhe decretou as honras do triunfo e ele passou a tomar o apelido de Calaico (galego), tanto este povo era indomável e forte.
Pelo princípio do século V os bárbaros do norte invadem as diversas províncias do império romano. No ano de 409, aos 13 de Outubro, uma terça-feira, memorant die, como traz Idácio [22], os alanos, vândalos e suevos irrompem nas Espanhas, e, no ano seguinte, Alarico, rei dos godos, entra em Roma, devastando tudo.
«À terça-feira (diz o rifão popular), não cases a filha nem urdas a teia».
A entrada destes bárbaros nas Espanhas ficou assinalada por extremas calamidades. No seu furor destruidor nada poupavam: vidas, fazendas, frutos, edifícios, tudo foi pasto da sua desenfreada ferocidade.
Como consequência, sobreveio uma fome espantosa: os homens, obrigados pela necessidade, comiam-se uns aos outros; as mães matavam os próprios filhos para os comer; as feras, acostumadas aos cadáveres, que pelos imensos morticínios ficavam insepultos, atiravam-se aos vivos, e de tanta corrupção e miséria promanou a peste que dizimou milhares e milhares de vítimas, vindo assim a unirem-se em toda a sua potência destruidora os três maiores flagelos da humanidade: fome, peste e guerra.
Durante dois anos as Espanhas ficam entregues a todos os horrores; por último, em 411, os bárbaros sossegam alguma coisa e dividem entre si a presa.
Os suevos e os vândalos ficam com a Galécia, mas em 420, segundo Idácio, a quem vamos seguindo nesta narração, por ser autor coetâneo, os vândalos abandonam completamente o território aos suevos, passam para a Bética e dali em breve a África. Gonderico, e depois seu filho Genserico, foram reis dos vândalos na Galiza.
Na África também pouco estáveis foram, pois S. Isidoro coloca no ano de 522 a sua destruição aos golpes de Belisário [23].
Hermérico foi o primeiro rei dos suevos na Galiza, que não chegou a dominar completamente, e, cansado de tanto lutar, fez as pazes com os galegos, permitindo-lhes viver independentes em certa parte do território.
Réquila, seu filho, que lhe sucedeu, agregou ao reino as províncias Bética e Cartaginense.
Sucedeu-lhe Requiário, que foi derrotado perto de Astorga, junto ao rio Orbigo, por Teodorico II, rei dos godos; fugiu, mas foi apanhado e morto junto a um lugar chamado Portucale ou Portucalem. É para notar este lugar mencionado na Historia de Regibus Gothorum, Divi Isidori, que é o documento que agora vamos seguindo, [era 596].
Segundo Teófilo Braga, a «designação Portugal é desconhecida em todos os documentos anteriores a 1069», com cuja opinião parece estar em desacordo o texto acima [24]. Demais, Idácio menciona também o Castrum Portucale.
Já no primeiro concílio nacional, convocado pelos godos em 589, aparece pela primeira vez a menção da Igreja Episcopal Portucalense. Além disso, o Chronicon Lusitanum, o de Sampiro e o de D. Pelaio, já apontam este nome. Poderá dizer-se que Portugal está aqui em substituição de Lusitânia; isto, porém, não salva de confusão o texto do ilustre escritor português.
Esta derrota de Riquiário abalou por completo o reino dos suevos.
Os poucos que sobreviveram, retirados para as extremas partes da Galiza, elegeram Maldras por seu rei; mas em breve surge a guerra civil.
Outra facção escolhe Frantano.
A morte de Maldras mais aumenta a luta. Frumário e Remismundo disputam entre si o reino. Em 464, Frumário invade Chaves, a qual magni avertit excidio.
Parece que alguns galegos gozaram sempre de certa autonomia, porque Remismundo ainda celebrou um tratado de paz com eles pelos anos de 464; ou seria que com a guerra civil eles tinham levantado a cabeça?
Foi no governo de Remismundo que Ajax, de nação gálata, semeou a heresia ariana no meio dos suevos que lentamente haviam abraçado o Cristianismo. As prédicas de Ajax tiveram lugar pelos anos de 464, e para a sua eficácia muito concorreu Remismundo.
A este seguiram-se vários reis suevos, de quem a história não aponta os nomes, e todos professaram o arianismo. Por último, reinou Teodemiro, que abraçou o Cristianismo convertido por S. Martinho, bispo de Dume, perto de Braga, juntamente com a sua nação.
Miro, seu filho, sucedeu-lhe no trono, e a este seu filho Ebórico, que se viu privado da coroa pelo usurpador Andeca, sendo constrangido a tonsurar-se.
Não gozou, porém, por muito tempo Andeca o reino, porque
Leovigildo, rei dos godos, o venceu e privou do trono, obrigando-o igualmente a tonsurar-se, e extinguiu, incorporando-o no seu, o reino dos suevos, que havia durado por espaço de cento e setenta e sete anos.




Memórias Arqueológico-Históricas
do Distrito de Bragança

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