segunda-feira, 16 de abril de 2018

Santo António de Vinhais

“Se fordes ó Santo António,
Trazei-me de lá um santinho,
Se não poderdes com êle grande,
Trazei-m’o mais pequenino.”
Pe. Firmino Martins

Encontramo-nos em terras de Vinhais, cujas origens se perdem na escuridão dos tempos conforme comprovam achados arqueológicos que povoam os montes e vales deste antigo concelho do nordeste transmontano, no distrito de Bragança.

Lugar de gente trabalhadora e humilde, que sempre soube amenizar a agrura do dia-a-dia com cantares, rezas e estórias, eis a razão pela qual todos os anos, em Setembro, se presta culto ao santo casamenteiro naquele lugar de onde se vislumbra um formoso panorama sobre a vetusta vila.

Trazida aos nossos dias pela voz do povo a lenda reza …

Era noite fria de Lua Cheia e o vento soprava, por onde queria, agitando desenfreadamente as ramagens do arvoredo que ladeava o caminho. No chão, em terra batida, desenhavam-se sombras e movimentos acompanhados de um silvado que despertavam os “medos” contados pelo povo.
Do Alto de Ressumil o luar permitia avistar, bem perto, o pequeno casario construído sobre um promontório nas faldas do Monte da Ciradelha.
Seguia por esse caminho um almocreve, regressando a casa depois de uma longa e penosa jornada de trabalho. O silêncio da noite foi bruscamente engolido por uivos de lobos famintos que o cercaram.
O homem pensou que a sua viagem terminaria ali, àquela hora, naquele ermo.
Na eminência do ataque que poria fim à sua vida, o coração do almocreve transbordou de fé de onde retirou algumas forças para, de olhos cerrados, prometer que ali construiria uma capela, dedicada a Santo António, em troca da salvação terrena.
Colado ao chão, imóvel e gelado como uma estátua, sentiu-se inesperadamente invadido por uma acalmia apenas perturbada pelo eco dos uivos a dissiparem-se nas quebradas dos montes de Cabrões e do Cavalo Branco.
Já não se sentia vento algum. Abriu os olhos. Incrédulo, verificou que a sua súplica tinha sido atendida encontrando-se milagrosamente são e salvo, pronto para retomar caminho até casa onde o esperavam a mulher, os sete filhos e uma malga de caldo quente.
Algum tempo depois era erguida ali uma capela dedicada a Santo António, onde se celebraria, anualmente, no 1.º fim-de-semana de Setembro, uma grandiosa romaria.

Já no séc. XX, o vinhaense Ten. Assis Gonçalves, secretário particular de Salazar e Governador Civil de Vila Real, mandou construir um fontanário, com o nome do santo, numa pequena nascente perto da capela. Do velho cano de bronze brota uma água límpida e cristalina com propriedades milagrosas; é que, quem daquela água beber casará em Vinhais; e para saber dali a quanto tempo basta tentar alcançar o sino da capela com uma pequena pedra, até que este se faça ouvir, correspondendo cada toque a um ano de espera.

Na hora da fuga terá deixado os seus haveres à guarda do Santo António, cuja pequena imagem devotamente venerava num altar improvisado em casa, na Rua de Baixo em Vinhais.

Mas não se fica por aqui a intervenção milagrosa do santo casamenteiro, levando-nos até às guerras da restauração onde os factos se cruzam com a lenda.
Dia 17 de Julho de 1666 o general castelhano Pantoja decide avançar com as suas tropas sobre a fortaleza da Vinhais, conforme conta um manuscrito de Inácio Xavier de Morais Sarmento de Mariz, transcrito pelo Abade de Baçal, no qual se relata a forma como a acção do Santo terá livrado uma casa das chamas.
Maria de Castro integrava o grupo de mulheres e crianças da vila que escaparam para Além do Rio, capitaneadas por D. Francisca de Morais, mulher do Governador da Praça. Na hora da fuga terá deixado os seus haveres à guarda do Santo António, cuja pequena imagem devotamente venerava num altar improvisado em casa, na Rua de Baixo em Vinhais.
Os inimigos, que por onde passavam espalhavam o terror, amontoaram molhos de serôdio em volta da casa da pobre mulher ateando-lhe fogo.
Depois da largada dos invasores todas as mulheres e crianças regressaram a Vinhais. Ao se aproximarem do velho burgo depararam-se com o milagre. As chamas tinham poupado a casa de Maria de Castro e os molhos de serôdio ainda ali estavam, incólumes, e haviam de servir para que naquele lar não mais faltasse o pão durante o resto do ano.

Talvez por isso ainda hoje se observe a imagem do santo, num nicho envidraçado, a encimar o  primeiro arco do castelo de Vinhais.

ORAÇÃO A SANTO ANTÓNIO

“Ó beato Santo António
que em Lisboa fostes nado,
pela missa que rezastes,
pelo cordão que cingistes,
pelo livro que tomastes,
pelo hábito que vestistes,
livrastes o vosso pae da forca;
livrae-me a mim
de lôbo e lôba, ladra e ladrão,
e de tôdas as coisas que más são.
Em honra de Deus
e da Virgem Maria,
um Padre Nosso
c’um Avé Maria”

Revista Raízes

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