quarta-feira, 23 de maio de 2018

José Manuel Pavão diz que se deve acabar com a tradição das crianças fumarem na noite de Reis em Vale de Salgueiro

O ex-presidente da Assembleia Municipal de Mirandela defende que deve terminar a tradição praticada, anualmente, na aldeia de Vale de Salgueiro, durante a festa dos reis, em que as crianças têm permissão dos pais para fumar cigarros.
José Manuel Pavão, como deputado municipal do PSD, avançou com esta sugestão, na última reunião daquele órgão autárquico

“Sou habitualmente convidado para a festividade que acontece em Vale de Salgueiro, dos Reis, e de facto ninguém provou essa licença especial dos progenitores em relação às crianças para fumarem naquele dia. Não creio que isso tenha qualquer fundamento. Apareceu e o que é desejável é que desapareça tão rápido como apareceu.” 

O médico aposentado, especialista em cirurgia pediátrica, e antigo diretor do Hospital Maria Pia, justifica esta sugestão com questões relacionadas com a saúde

“Está mais que provado que os hábitos tabágicos são as causas para mortes que poderiam ser evitáveis. O perfil do percurso dos fumadores no mundo está muito bem identificado. Muitas doenças, como o cancro pulmonar ou deficiência e obstrução crónica estão relacionados com o uso do tabaco. Tudo aquilo que fizermos em termos de educação, em termos de formação e preparação das gerações mais jovens para o futuro evitando hábitos negativos de resultados nefastos será praticar um ato de cidadania.”  

No entanto, esta tomada de posição também não está alheia o facto desta tradição ganhar sempre uma visibilidade negativa pelo impacto que a comunicação social lhe dá. José Manuel Pavão espera da autarquia uma ação pedagógica junto da população de Vale de Salgueiro

“Penso que se nós, os interessados/responsáveis, a Câmara Municipal através do seu pelouro competente e das pessoas vocacionadas para o efeito ou cidadãos que se interessem pelo assunto, sobretudo os agentes da educação e da saúde conversarem com as pessoas e mostrarem os efeitos nefastos do tabaco. Estou convencido que vai haver uma convergência notável entre todos e que no próximo ano, em janeiro de 2019, os jornais Portugueses e as rádios possam anunciar que em Vale de Salgueiro as nossas crianças já não fumam cigarros naquela data.”

Mas esta sugestão de José Manuel Pavão não foi nada bem acolhida nas gentes de Vale de Salgueiro que não concordam acabar com esta parte da tradição da festa dos reis.

A população de Vale de Salgueiro não está disposta a acabar com a tradição das crianças terem permissão dos pais para fumar cigarros na festa dos Reis que acontece, anualmente, nos dias 5 e 6 de janeiro

A reação negativa partiu desde logo do presidente da junta de freguesia: Carlos Cadavez disse na mesma assembleia municipal que não se revê na sugestão de José Manuel Pavão e garante que vai lutar para que a tradição das crianças fumarem na festa dos reis não acabe

“Só quem nasce, cresce e sente essa festa em Vale de Salgueiro é que sabe o que é a tradição do cigarro, provavelmente 99% das pessoas da minha juventude não fumam e toda a vida fumámos na festa dos Reis. Há tanta coisa que faz mal à saúde e ninguém se preocupa com isso. Faz pior levar a minha filha para o café durante duas ou três horas ao lado de pessoas que estão a fumar ou ela durante o dia andar com um cigarro que nem deita o fumo fora? O cigarro mata a quem fuma 20 anos. Vou lutar para que esta tradição não acabe, tenho três filhas e se elas quiserem fumar na festa dos Reis vou sempre permitir.”  

Também os habitantes daquela freguesia não estão de acordo com a sugestão do ex-presidente da assembleia municipal de Mirandela

“Fumei muito enquanto era pequeno e depois nunca mais fumei, não fumo. Fumar nos Reis não significa que vá o apanhar o vício.
O fumarem os meninos em Vale de Salgueiro é a tradição dos Reis e isso não quer dizer que fumar nesse dia vá incentivar a fumar mais tarde. Tenho dois filhos que fumaram sempre nessa festa e agora não fumam. Quem falou em terminar a tradição nem deve saber o que por cá se passa nesse dia. 
Não acho que seja uma má tradição. O cigarro é simplesmente o símbolo da emancipação da criança, é um dia, tem data e hora para começar e acabar. A partir desse dia não tolero que o meu filho fume um cigarro.”
Também o autor do livro “Terra de Reis”, que conta esta tradição, torce o nariz à sugestão. José Ribeirinha diz que se trata de um ato simbólico que não pode ser visto de forma literal, mas é algo semelhante aos levantamentos de outras proibições que se fazem naquela época de Inverno, como no Carnaval, no qual tantas atitudes ou hábitos proibidos ou mal vistos socialmente passam, de forma excepcional, a serem permitidas.

No entanto, José Ribeirinha critica o facto de, nos últimos anos, fruto do desconhecimento e de algum apego ao politicamente correcto, tem sido destacado por alguma comunicação social esta tradição das crianças fumarem, que até é um mero pormenor completamente secundário no conjunto desta celebração popular da festa dos reis

“Estar a falar ou a dar importância ao facto das crianças serem autorizadas a fumar na noite de Reis em Vale de Salgueiro e esquecer tudo o resto que se passa naqueles dois dias é a mesma coisa que enviar alguém ao Vaticano à missa do galo e no dia seguinte dizer que era um sítio onde apenas havia incenso e fumo. Isso é ridículo.”   

Diga-se que, este ano, a polémica tradição ganhou visibilidade internacional com uma reportagem replicada em órgãos de comunicação social americanos. O canal de notícias FoxNews publicou a reportagem da agência de notícias americana Associated Press (AP). “Pais encorajam os seus filhos, alguns com menos de cinco anos, a fumar cigarros”, assim foi resumida esta prática que, segundo a notícia, a cada ano causa o protesto de quem é de fora da aldeia, onde ninguém sabe explicar a origem ou tem certeza sobre o significado desta tradição.

INFORMAÇÃO CIR (Rádio Terra Quente)

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